arielpalacios
14 de janeiro de 2015 | 09h39
Desde chegada dos Kirchners ao poder em 2003, a publicidade estatal com elogios ao próprio governo aumentou 2.120%.
Em 2014 governo argentino gastou 35% a mais em publicidade sobre as obras e atos da administração federal – e da própria pessoa da presidente Cristina Kirchner – do que em 2013. Isso é o que indicam os dados do Programa de Imprensa e Difusão de Atos do Governo, que informou que os gastos na área foram de US$ 222 milhões no ano passado. Esse volume é 85% superior ao total previsto inicialmente para a publicidade oficial no Orçamento Nacional do ano passado.
Em 2003, ano no qual o presidente Néstor Kirchner (2003-2007) tomou posse, o governo gastou US$ 10 milhões em publicidade oficial. Desta forma, os gastos realizados no ano passado implicam em um aumento de 2.120% em publicidade com apologias ao governo Kirchner em comparação com seu primeiro ano no poder. Segundo deputados da oposição, o governo está destinando à própria publicidade fundos que poderiam ser investidos em áreas com problemas, como o setor de saúde e educação.
Os analistas indicam que a publicidade oficial é fundamental na construção do “relato”. Esse é o termo utilizado pela presidente Cristina para narrar e divulgar a História de seu governo, atos e medidas, além de reconfigurar os fatos do passado e influenciar o presente por intermédio dos meios de comunicação. Segundo José Crettaz, colunista do jornal “La Nación” e professor de Economia da Mídia da Universidade Argentina da Empresa (Uade), “editar a realidade é uma paixão do kirchnerismo”.
VERBAS – O governo forneceu a maior parte das verbas publicitárias para os meios de comunicação alinhados com a Casa Rosada. Esse é o caso do canal Telefé (propriedade da Telefónica da Espanha) e do Grupo Veintitrés, que receberam respectivamente US$ 10,37 milhões e US$ 3,9 milhões. O jornal “Página 12”, de defesa enfática do governo Kirchner, recebeu US$ 3 milhões. No entanto, o Grupo Clarín, considerado inimigo mortal pela presidente Cristina, recebeu somente US$ 162 mil. O jornal “La Nación”, crítico com a Casa Rosada, também obteve apenas US$ 162 mil.
No entanto, esses valores não incluem os gastos em publicidade realizados pelo ANSES (o sistema previdenciário) e o “Futebol para todos” (denominação das transmissões estatizadas dos jogos de futebol, ao longo dos quais somente são veiculadas publicidades governamentais). Incluindo estes gastos, a publicidade oficial do governo Kirchner alcançou a faixa de US$ 487 milhões em 2014.
Mas, segundo a fundação LED (Liberdade de Expressão mais Democracia), se forem acrescentados os gastos nos canais de TV estatais, na agência de notícias Télam, entre outros meios de comunicação controlados pelo governo, o custo com publicidade eleva-se a US$ 666,25 milhões. Segundo a presidente da Fundação LED, Silvana Giudicci, o gasto em publicidade oficial é realizar “de maneira arbitrária e desigual, apesar da determinação contrária da Corte Suprema”.
PERFIL: Ariel Palacios fez o Master de Jornalismo do jornal El País (Madri) em 1993. Desde 1995 é o correspondente de O Estado de S.Paulo em Buenos Aires. Além da Argentina, também cobre o Uruguai, Paraguai e Chile. Ele foi correspondente da rádio CBN (1996-1997) e da rádio Eldorado (1997-2005). Ariel também é correspondente do canal de notícias Globo News desde 1996.
Em 2009 “Os Hermanos“ recebeu o prêmio de melhor blog do Estadão (prêmio compartilhado com o blogueiro Gustavo Chacra). Em 2013 publicou “Os Argentinos”, pela Editora Contexto, uma espécie de “manual” sobre a Argentina. Em 2014, em parceria com Guga Chacra, escreveu “Os Hermanos e Nós”, livro sobre o futebol argentino e os mitos da “rivalidade” Brasil-Argentina.
No mesmo ano recebeu o Prêmio Comunique-se de melhor correspondente brasileiro de mídia impressa no exterior.
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