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Os Hermanos

Cristina Kirchner protagoniza sessão "muitos caciques e poucos índios": Overdose de generais e déficit de soldados nas Forças Armadas (e equipamento sucateado)

Por arielpalacios
Atualização:

Após a ditadura militar (1976-83) o primeiro presidente civil, Raúl Alfonsín (1983-89), ordenou a redução à metade do número de generais. Na época o regime tinha uma estrutura inflada, de 65 generais. Com a presidente Cristina Kirchner o número voltou a crescer, atualmente com 55 militares dessa patente. A presidente, de forma paralela a seu atual discurso de crítica á ditadura, investe intensamente em inteligência militar.

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Enquanto que o número de generais nos tempos do governo da presidente Cristina Kirchner marca um recorde no período democrático, o volume de soldados no Exército é o menor, com apenas 17 mil homens. Em 1983, quando existia o serviço militar, o exército argentino possuía 72 mil soldados.

O exército argentino conta atualmente com 5.600 oficiais, 21.800 suboficiais e 17 mil soldados. No entanto, destes soldados, 2 mil estão encarregados de tarefas administrativas, o que reduz a tropa, na prática, a 15 mil homens no Exército.

O analista político especialista em assuntos militares Rosendo Fraga, diretor do Centro Nueva Mayoría, afirma que a relação entre o número de generais e soldados é a menor de toda a História da Argentina.

O aumento de generais não implicou em maior número de equipamento. Esse é o caso dos tanques de guerra pesados, que passaram de 233 unidades em 2004 para 230 em 2012. Ou, dos tanques leves, de 164 em 2004 para 166 no ano passado.

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Em dezembro passado a presidente Cristina assinou o decreto de promoção de 21 coronéis ao posto de general. Mas, na ocasião, não enviou generais veteranos para a reserva.

O general César del Corazón de Jesús Milani, suspeito de torturas e desaparecimentos durante a ditadura, é especialista em inteligência militar. Milani tornou-se nos últimos anos no militar preferido da presidente Cristina.

REPRESSOR - O general César Milani, chefe do Exército, também foi promovido (a tenente-general) apesar das acusações existentes sobre sua suposta participação em sequestros, torturas e desaparecimentos de civis durante a ditadura militar (19876-83).

Milani, que é o militar favorito da presidente Cristina, especializado em inteligência militar, é suspeito de ter colaborado ativamente com a repressão nas províncias de Tucumán e La Rioja em 1975, ano da "Operação Independência", nome da campanha realizada pelas Forças Armadas no final do governo da presidente civil Isabelita Perón (1974-76) para eliminar pessoas suspeitas de "subversão".

Milani é indicado como o responsável pelo desaparecimento do soldado Alberto Ledo em Tucumán, em 1976, e de torturas e prisão ilegal do civil Ramón Olivera em La Rioja em 1977. O militar, que na época era subtenente, teria continuado com as tarefas de inteligência na repressão de civis em 1976, após o golpe de Estado.

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Além disso, Milani esteve detido nos anos 80 por vínculos com os militares "carapintadas", que protagonizaram levantes nos quartéis em 1986, 1987 e 1990. Milani - que adquiriu uma mansão na área da Grande Buenos Aires - também é investigado pela Justiça por suposto enriquecimento ilícito.

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A presidente Cristina Kirchner e seus ministros, que antes criticavam as forças armadas como representantes da "direita" e da "oligarquia", agora sustentam que os militares das novas gerações estão comprometidos com o projeto "nacional e popular" do governo e com a democracia.

Na noite de quarta-feira a Câmara de Deputados aprovou o projeto de lei do governo Kirchner para a criação da Universidade da Defesa Nacional. A entidade unificará as carreiras dos diversos institutos militares superiores existentes atualmente na Marinha, Aeronáutica e Exército. A oposição - e alguns integrantes do kirchnerismo - criticam a medida, alegando que com esta lei o general Milani acumula mais poder.

PILOTOS SEM TREINAMENTO - O Centro de Estudos de Defesa Nacional da Universidade de Belgrano (Cedef) denunciou por intermédio de um relatório que os oficiais da Força Aérea argentina formam-se sem completar seus cursos de pilotos, já que não existem aviões suficientes para o treinamento dos integrantes da Aeronáutica. O Centro também sustente que "é quase nula a disponibilidade operacional de aeronaves de combate e transporte"

O relatório também indica que os navios mais modernos da Marinha - que são de 1974, comprados pelo presidente Juan Domingo Perón, "praticamente não navegam".

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O centro sustenta que a Argentina deveria ter um exército de 100 mil homens. No entanto, conta com apenas 17 mil voluntários.

O Cedef sustenta que a América Latina "é a região do mundo que, proporcionalmente, mais aumentou seus gastos em equipamentos. Mas, a Argentina, por seu declínio na capacidade de defesa, introduz um fator de desequilíbrio pela ausência de investimentos".

A Argentina, segundo o Cedef, é o país da América do Sul que menos investe nas forças armadas, destinando ao setor 0,71% do PIB. O Paraguai aplica o equivalente a 1,04%, o Brasil aplica 1,39%, enquanto que o Chile destina 2,11%, a Colômbia 2,2% e o Equador - que lidera o ranking - 2,61%;

Segundo o Cedef, a Argentina somente destina 2,3% dos gastos em defesa a investimentos na área, já que a maioria dos fundos - 78,4% - são destinados à folha de pagamento. Ao contrário da Argentina, a Venezuela concentra 34,3% de seus gastos em investimentos na defesa, enquanto que destina 49,4% ao pagamento de salários.

O senador Ernesto Sanz, da União Cívica Radical (UCR), de oposição, sustenta que as forças armadas argentinas padecem uma elevada deterioração do equipamento das unidades militares, com idade em média de 40 anos.

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SUCATA AÉREA - Dos 53 Mirage que a aeronáutica argentina comprou em 1968 atualmente funcionam somente 14 unidades. Além disso, a força aérea conta com sete A-4AR Fightinghawk, de um total de 36 unidades compradas em 1997 durante o governo do presidente Carlos Menem (1989-99).

Mas, devido a uma série de problemas nos radares, estes aparelhos apenas voam em condições excelentes de clima. Os especialistas afirmam que a força aérea argentina está em estado de "sucata" desde o final dos anos 90.

A aeronáutica argentina também possui 34 aviões IA-58 Pucará, de um total de 200 construídos na primeira metade dos anos 70. Este avião é um bimotor a hélice Made in Argentina que foi intensamente utilizado no combate à guerrilha há quatro décadas dentro da Argentina. Além disso, foi usado pelos argentinos durante a Guerra das Malvinas em 1982 contra as tropas britânicas e pelas forças armadas colombianas contra as guerrilhas das FARC nos anos 90.

Ao longo dos últimos dez anos 17 aviões da Força Aérea tiveram problemas mecânicos súbitos e caíram no solo. Parlamentares da oposição afirmam que o número de acidentes com os aparelhos só não foi maior porque os voos de treinamento e patrulhamento estão restritos por falta de combustível nas forças armadas.

Aqui, o relatório do Cedf: http://www.ub.edu.ar/centros_de_estudio/cedef/01-noviembre_2014.pdf

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E, para embalar a jornada, a Marcha Militar de Franz Schubert durante a cerimônia do Nobel de 2010:

//www.youtube.com/embed/dMTDjavVmH4

 

Em 2009 "Os Hermanos" recebeu o prêmio de melhor blog do Estadão (prêmio compartilhado com o blogueiro Gustavo Chacra). Em 2013 publicou "Os Argentinos", pela Editora Contexto, uma espécie de "manual" sobre a Argentina. Em 2014, em parceria com Guga Chacra, escreveu "Os Hermanos e Nós", livro sobre o futebol argentino e os mitos da "rivalidade" Brasil-Argentina.

No mesmo ano recebeu o Prêmio Comunique-se de melhor correspondente brasileiro de mídia impressa no exterior.

 
 

E, the last but not the least, siga @EstadaoInter, o Twitter da editoria de Internacional do Estadão.

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