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Os Hermanos

Kirchners ao cubo: Kirchner (Néstor) pretende suceder Kirchner (Cristina), que já sucedeu Kirchner (Néstor)

 

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Por arielpalacios
Atualização:

Néstor Kirchner, considerado o verdadeiro poder no governo de sua esposa, Cristina Kirchner, é, a) primeiro-cavalheiro, b) presidente do Partido Justicialista (Peronista), c) deputado federal, d) secretário-geral da Unasul e e) virtual candidato à sucessão de sua própria sucessora e esposa. Ele pretenderia ser sucessor de sua sucessora. Sua sucessora, no entanto, avalia suceder-se a si própria. "El Pingüino" (O Pingüim) e "La Pingüin" (A Pinguim-fêmea), são seus apelidos populares. Ilustração do cartunista argentino El Niño Rodríguez (seu site: www.elninorodriguez.com )  

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O anúncio da candidatura foi feito dias atrás pelo presidente do bloco kirchnerista na Câmara de Deputados, Agustín Rossi, que sustentou que "Néstor Kirchner será nosso candidato a presidente" já que "é o melhor para continuar com o modelo de país baseado na justiça social".

No domingo passado encontrei por acaso o secretário-geral da presidência da República, Oscar Parrilli, que tomava o café da manhã com um amigo seu no Museu de Arte Latino-americano (Malba). Depois que concluiu seu café com leite e comeu uma "medialuna" (denominação para o croissant), me aproximei e perguntei-lhe sobre o assunto. Parrilli ressaltou que "Néstor Kirchner é o melhor candidato que temos, sem dúvida".

Parrilli - secretário-geral desde 2003 e homem de confiança dos Kirchners - disse ao Estado que é preciso que "este projeto político de país continue" nos próximos anos.

No entanto, destacou que todos os candidatos deverão passar pelas convenções partidárias do ano que vem. "É preciso esperar", me disse.

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Kirchner, atualmente deputado e presidente da União das Nações Sul-americanas (Unasul) desponta em várias pesquisas como o eventual primeiro colocado no primeiro turno, com uma pequena margem acima dos outros candidatos.

No entanto, em todas as opções de um segundo turno, perderia para os outros presidenciáveis. Um de seus principais rivais seria Julio Cobos, o vice-presidente da República que rachou com o casal Kirchner há dois anos.

Segundo a consultoria Management & Fit, Kirchner conta com apoio incondicional de 25% do eleitorado, enquanto enfrenta uma oposição acérrima de 50%. Mariel Fornoni, analista da consultoria, afirma que outros 25% são "flutuantes", muitos dos quais estão decepcionados com a oposição.

Os aliados de Kirchner apostam em sua candidatura com a expectativa de que a oposição continue atomizada e desarticulada. Além disso, acreditam que a continuidade da recuperação da economia melhorará o clima social. Entre janeiro e maio, o PIB cresceu 8,6% em comparação com o mesmo período de 2009 (se bem que em comparação com um ano de grave queda da atividade econômica).

A frase, pronunciada em tom de brincadeira, afirmam os analistas, indicaria que Cristina Kirchner estaria marcando território na disputa que possui com o próprio marido para definir a sucessão presidencial do casal.

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Desta vez, Kirchner tentou minimizar seu lançamento presidencial e afirmou que "é prematuro falar de candidaturas neste momento".

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Quando foi eleito presidente da Argentina, instalou a irmã no ministério da Ação Social.

Quando Cristina Kirchner foi eleita presidente, Alicia continuou ocupando a pasta responsável por programas sociais dos quais dependem mais de 5 milhões de pessoas (é o ministério com o segundo maior orçamento do gabinete).

Politólogos, políticos, empresários e até psicanalistas sustentam que Kirchner possui uma personalidade paranoica, e só confia nos parentes próximos e nos amigos que possui há mais de 20 anos. Esse é o caso de Julio De Vido, ministro do Planejamento Federal, que possui o maior orçamento do gabinete.

Em 2005, 2007 e 2009 (eleição parlamentar, eleição presidencial e nova eleição parlamentar) a campanha eleitoral foi cenário de denúncias de clientelismo explícito, que indicavam que a Argentina teria adotado políticas de republiqueta. Segundo diversas ONGs, Alicia Kirchner, ministra do Desenvolvimento Social, havia ordenado a distribuição de eletrodomésticos e móveis em troca de votos, principalmente na província de Buenos Aires, que concentra quase 40% do eleitorado do país.

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O irmão agora pretende que Alicia se encarregue de aumentar a base dos Kirchners na província de Buenos Aires. Ali, em junho do ano passado o governo sofreu uma dura derrota nas eleições parlamentares, ficando em segundo lugar, atrás do novato Francisco De Narváez, empresário que entrou na política há poucos anos, que lidera parte dos peronistas dissidentes.

Para tentar evitar novos reveses nessa crucial província, Kirchner precisará que sua irmã enfoque seu trabalho - e os fundos do ministério - no território bonaerense.

Na semana passada Alicia lançou sua própria corrente política, a "Colina" (Corrente de Liberação Nacional). O lançamento reuniu líderes sindicais e atores alinhados com o governo Kirchner, além de boa parte do gabinete da cunhada, Cristina Kirchner.

A ideia do governo é que Alicia Kirchner seja:

a) Candidata a vice-governadora da província de Buenos Aires. Alicia, que não é uma 'bonaerense', já que fez sua carreira política prévia na província de Santa Cruz, não teria grandes chances de vencer uma eleição para governadora. Mas, seria um bom "cão de guarda" de um eventual candidato a governador alinhado com os Kirchners. Isto é, ficaria vigiando de perto o governador bonaerense, de forma a evitar eventuais "traições" (os governadores da província de Buenos Aires costumam ter ambições de carreira solo e tornar-se independente de seus 'padrinhos' políticos).

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Ou...

b) Candidata a governadora da província de Santa Cruz, feudo político dos Kirchners.

Los Pingüinos. Mas estes (no fotograma acima, do filme "Madagáscar") são Skipper e seus subordinados. A frase preferida de Skkiper, o pinguim nova-iorquino com um touch mafioso, é "vocês não viram nada ainda...".

Lúpin era o nome de um personagem de uma popular tirinha em quadrinhos (um ousado piloto de avião com o qual se parecia, pelo narigão e olhos arregalados).

No entanto, ao ser eleito presidente, Kirchner foi imediatamente chamado pelos jornalistas de "El Pingüino" (O Pinguim), em alusão à sua região natal, a gélida Patagônia (Kirchner foi o primeiro presidente argentino que provinha dessa região).

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O entourage de Kirchner - composto majoritariamente de patagônios como ele - é denominada pela imprensa de "La Pingüinera" (A Pinguineira).

- Nunca antes um ex-presidente e uma presidente da Argentina moraram simultaneamente na residência oficial de Olivos. Inclusive, no mesmo quarto de casal (o cenário mais parecido foi o de Juan Domingo Perón, casado com sua própria vice-presidente, María Estela 'Isabelita' Martínez de Perón).

- Nunca antes na História mundial um presidente eleito democraticamente nas urnas havia sido sucedido por sua própria esposa, também eleita nas urnas, de forma imediata (Perón, quando morreu, foi sucedido por Isabelita, que só ocupou o cargo porque era sua vice)

- O plano é que Kirchner seja eleito em 2011. Nesta hipótese, seu mandato concluiria em 2015. Assim, a Argentina passaria por 12 anos ininterruptos de governo Kirchner. Isto é, um mandato de Néstor, outro de Cristina e mais um de Néstor. Mas, sempre é preciso levar em conta a variável "Cristina 2011".

Néstor Kirchner atualmente é,

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a) primeiro-cavalheiro,

b) presidente do Partido Justicialista (Peronista),

c) deputado federal,

d) secretário-geral da Unasul, e

e ) virtual candidato à sucessão de sua própria sucessora e esposa.

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Em 2009 "Os Hermanos" recebeu o prêmio de melhor blog do Estadão (prêmio compartilhado com o blogueiro Gustavo Chacra).

 
 

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