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Os Hermanos

O escândalo dos subornos no Senado: Doze anos depois, o ex-presidente De la Rúa senta no banco dos réus

 

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Por arielpalacios
Atualização:

Caricaturistas, humoristas e imitadores retratavam De la Rúa com uma de suas principais marcas: a sonolência e lerdeza de seu governo. Esta escultura, feita pelos artistas plásticos Jorge Maculán e Pablo Bach, foi exposta em uma divertida mostra chamada "Reino de Bolonquia" no ano passado em Buenos Aires, que mostrava os diversos presidentes argentinos. A versão de Cristina Kirchner era uma rainha Nefertiti. Menem aparecia como Luis XIV.

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Também sentaram no banco dos réus o ex-diretor da Secretaria de Inteligência do Estado (Side), Fernando de Santibáñes, o ex-ministro do Trabalho Alberto Flamarique, o ex-pró-secretário parlamentar Mario Pontaquarto. Outros seis senadores estavam indiciados. Mas, somente participaram quatro, já que um deles não comparecerá por sofrer de Alzheimer, enquanto que outro - José Genoud - estará inexoravelmente ausente: suicidou-se há quatro anos com um tiro no coração.

Outro senador ficou misteriosamente "esquecido" e fora deste julgamento: o peronista José Luis Gioja, atual governador da província de San Juan.

Do total dos US$ 5 milhões, US$ 4,3 milhões teriam sido distribuídos aos senadores peronistas. Os restantes US$ 700 mil foram divididos entre Genoud e Flamarique.

Ontem, o ex-presidente, por intermédio de seus advogados, afirmou que Pontaquarto não passa de um "mitômano" e que as acusações que enfrenta são "absurdas e cheias de contradições". Pontaquarto retrucou: "as mentiras de De la Rúa foram uma constante neste tempo todo".

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De la Rúa transforma-se no segundo presidente civil argentino a ser julgado por corrupção. O primeiro foi Carlos Menem (1989-99), acusado de liderar uma quadrilha que realizou o contrabando de armas para a Croácia e o Equador entre 1991 e 1994. Menem, que há três anos tornou-se aliado da presidente Cristina Kirchner, foi inesperadamente absolvido no ano passado por juízes designados pelo kirchneirsmo.

Se for considerado culpado no término deste julgamento, que poderia concluir daqui a seis meses, De la Rúa poderia receber uma condenação de até seis anos de prisão.

 

Poucos meses depois, o vice-presidente Carlos "Chacho" Álvarez, renunciou, indignado com a falta de esclarecimentos. "A política deve deixar de estar associada ao delito", disse no discurso de renúncia.

Na ocasião, De la Rúa defendeu-se argumentando que tudo não passava de uma intriga da imprensa. Nos meses seguintes o affaire dos subornos foi engavetado por "falta de provas". Depois, De la Rúa arrematou: "aqui não há crise".

Álvarez renunciou mas deixou todo seu partido, a Frepaso, no governo. E estes frepasistas ficaram até o último dia com De la Rúa (inclusive, vários integrantes frepasistas do gabinete delarruista hoje estão no governo da presidente Cristina).

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No entanto, a saída de Álvarez gerou incertezas sobre o futuro político da Argentina. E, como neste país isso sempre está amarrado à economia, a renúncia do vice acelerou uma disparada na taxa de risco da Argentina, a perda de poder político para De la Rúa, uma fuga de divisas sem precedentes na História do país, saques aos comércios e finalmente a queda do próprio presidente, que fugiu da Casa Rosada em um helicóptero em dezembro de 2001.

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Em 2003 o caso dos subornos aos parlamentares ressurgiu quando o ex-pró-secretário parlamentar do Senado, Mario Pontaquarto, afirmando-se "arrependido", decidiu "contar tudo". Esse "tudo" consistia no pagamento que ele próprio teria entregue por ordem do governo De la Rúa a um grupo de senadores para que estes aprovassem a impopular reforma trabalhista.

Segundo ele, o suborno contava com a aprovação de De la Rúa, que ordenou que fosse encontrar-se com o então chefe do Serviço Secreto do Estado (Side), o banqueiro Fernando De Santibáñez para que este lhe desse o dinheiro. Agindo como um motoboy, Pontarquato levou os US$ 5 milhões em duas valises para onze senadores do Peronismo e da UCR. Ele sustenta que apesar de ter feito o "serviço" não recebeu um centavo sequer.

Livro no qual De la Rúa explica sua versão sobre o escândalo do Senado foi sucesso de encalhamento nas estantes das livrarias

'INOCENTE' - Em 2006, meia década depois do abrupto fim de seu governo, De la Rúa lançou o livro "Operação Política", no qual denunciava as supostas manobras da oposição realizadas contra ele. A obra, fracasso de crítica e de público, rapidamente encalhou nas livrarias.

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Em dezembro do ano passado, quando completaram-se dez anos de sua queda, De la Rúa afirmou ao Estado que desejava a realização deste julgamento, já que tem "pressa" em demonstrar sua "inocência": "este processo tem como base falsidades, baseadas em meros rumores. Querem envolver um presidente em algo que não é sério. É como a acusação de compra de votos que foi feita sobre Fernando Henrique Cardoso na votação para reformar a constituição que permitiu a reeleição. Naquele caso e no meu, não há nada sério".

Seu primeiro cargo público foi o de presidente do CPE (Caça de Pássaros com Estilingue). Tinha somente nove anos, mas ao tomar posse, o cordobês Fernando De la Rúa, nascido em 1937, redigiu uma declaração de princípios, preparou um estatuto e uma mensalidade a ser paga pelos sócios. Sua fama de chato começou nessa época.

Formado em Direito, entrou na política. Em 1973, o líder histórico líder da União Cívica Radical (UCR), Ricardo Balbín, o convidou para ser seu candidato a vice, contra Juan Domingo Perón, que os derrotou. Em 1983, integrante da linha conservadora do partido, disputou a candidatura da UCR à presidência do país contra seu colega Raúl Alfonsín, para quem perdeu. Posteriormente foi senador, deputado e em 1996, tornou-se o primeiro prefeito eleito da capital argentina.

 

Cédula eleitoral da Aliança UCR-Frepaso de 1999. Vários dos integrantes desse governo que colapsou estão em altos postos da administração atual.

Em 1999 - com uma campanha com o slogan "dizem que sou um tédio" (para diferenciar-se do festivo e frívolo menemismo) - este amante da ornitologia e da jardinagem foi eleito presidente da República. O candidato peronista derrotado, Eduardo Duhalde, definiu seu vitorioso rival: "é um medíocre com sorte".

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Mas a sorte foi breve, já que seu governo da coalizão UCR-Frepaso durou dois anos e dez dias. Os abalos sofridos pelo escândalo do Senado e a renúncia de seu vice Carlos "Chacho" Alvarez, foram coroados por uma fuga de divisas recorde que levou a economia ao colapso. Em dezembro de 2001 decretou o "corralito", um confisco bancário sem precedentes no país que gerou a pior crise social, econômica e política da História argentina. Na época foi acusado de "relapso" e "esclerosado". O caricaturistas o retratavam vestido com um pijama.

Desprezado por seus próprios correligionários da UCR, De la Rúa - fora da presidência - teve nulo poder político nos últimos dez anos. Analistas políticos sustentam, sem sutilezas: "De la Rúa não existe mais".

Ad hoc com postagens sobre corrupção e desvio de fundos, o tango "Chorra!" (Ladra!), com Carlos Gardel:

 

Em 2009 "Os Hermanos" recebeu o prêmio de melhor blog do Estadão (prêmio compartilhado com o blogueiro Gustavo Chacra).

 
 

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