arielpalacios
08 de novembro de 2012 | 18h39
A frigideira-power foi usada contra Allende, contra Pinochet, contra Menem, contra De la Rúa, contra Cristina Kirchner…Nesta noite de quinta-feira os panelaços direcionam-se novamente contra “La Pinguina”.
“El Cacerolazo” (O Panelaço): Denominação da barulhenta modalidade de protesto que consiste em bater de forma rítmica utensílios metálicos de cozinha, principalmente as “cacerolas” (panelas).
A História dos panelaços mostra que os utensílios de cozinha não possuem ideologia política, já que os primeiros panelaços surgiram no Chile para protestar contra o presidente socialista Salvador Allende em 1973. No entanto, em 1986 e 1989 os panelaços chilenos foram direcionados contra o ditador de extrema direita, o general Augusto Pinochet.
Em 1996 foi a vez da Argentina tornar-se o cenário de panelaços acompanhados por apagões para protestar contra a política do presidente Carlos Menem. Em 2001 e 2002 essa modalidade de protesto teve seu apogeu de forma quase diária contra os presidentes Fernando De La Rua, Adolfo Rodríguez Sáa e Eduardo Duhalde. Na época os panelaços argentinos obtiveram fama mundial.
A retomada do crescimento econômico, em 2003, com o presidente Nestor Kirchner fez os panelaços desaparecerem. Mas este modus operandi de protestar contra o governo de plantão voltou quando a presidente Cristina Kirchner teve o conflito com o setor ruralista em 2008.
Os panelaços retornaram mais uma vez neste com o crescimento dos problemas econômicos, especialmente a disparada da inflação, além dos escândalos de corrupção. De quebra, segundo afirmou ao Estado a analista de opinião pública Mariel Fornoni, o tom agressivo dos últimos discursos da presidente Cristina irritou diversos setores da população, servindo de combustível para os panelaços, especialmente o último, no dia 13 de setembro.
Para um “instant cacerolazo”, ver este site chileno, aqui.
UTENSÍLIOS DE COZINHA E IRRITAÇÃO POPULAR – Um panelaço é uma modalidade de protesto que consiste em bater utensílios de cozinha metálicos para gerar um barulho que pretende ser interpretado como o som da “irritação popular”.
Na crise de 2001-2002, um empresário portenho percebeu a existência de um nicho de mercado e criou um panelaço semi-automático, já que consistia em uma panela com uma manivela que mexia a tampa desse utensílio.
Nos últimos panelaços portenhos foi utilizada de forma intensa a garrafa de plástico, que produz um som seco também adequado para expressar irritação. A vantagem das garrafas é que não estraga as panelas de casa, além de ser mais leve.
MÁQUINA E JOGO – No início de 2002 um inventor portenho criou a “máquina de panelaço”, que consistia em uma panela com uma manivela que na ponta tinha a tampa do utensílio doméstico. Ao girar a manivela, a tampa batia na panela ritmicamente, propiciando um menor esforço por parte do “cacerolero” (“panelaceiro”?). Na ocasião, vendeu várias centenas de unidades. Mas, a recuperação econômica de meados de 2002 acabou com seu incipiente business.
Na mesma época, embora com um sucesso um pouco mais prolongado, o empresário Gustavo Federico Gómez lançou no mercado o jogo “Cacerolazo” (Panelaço), que consistia em conseguir as melhores condiçõesde vida para a população de uma província. No meio do tabuleiro do estilo do “banco imobiliário” existiam obstáculos como os sindicatos, empresas, o governo federal, partidos políticos, o FMI, bancos, a polícia, o jornalismo, a igreja. Se uma das cartas indicava tempos ruins pela frente, o jogador podia revidar acudindo a um panelaço de protesto.
Pensando em panela lembrei deste jazz do genial Fats Waller, “All that meat and no potatoes” (Toda essa carne e sem batatas):
PERFIL: Ariel Palacios fez o Master de Jornalismo do jornal El País (Madri) em 1993. Desde 1995 é o correspondente de O Estado de S.Paulo em Buenos Aires. Além da Argentina, também cobre o Uruguai, Paraguai e Chile. Ele foi correspondente da rádio CBN (1996-1997) e da rádio Eldorado (1997-2005). Ariel também é correspondente do canal de notícias Globo News desde 1996.
Em 2009 “Os Hermanos“ recebeu o prêmio de melhor blog do Estadão (prêmio compartilhado com o blogueiro Gustavo Chacra).
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