Cristina Kirchner, Hugo Moyano e Eva Perón. Foto dos tempos em que os dois vivos (isto é, os dois primeiros citados) eram aliados incondicionais.
O projeto, criticado pelo empresariado, era respaldado pelo governo no início do ano, mas a administração Kirchner não contava com maioria no Parlamento. Após as eleições de outubro, a presidente Cristina passou a ter maioria na Câmara e no Senado. No entanto, há poucos dias a presidente Cristina deixou claro que não apoiaria mais essa iniciativa da CGT.
A relação entre a CGT e Cristina ficou mais tensa a partir da cerimônia de posse, neste fim de semana, quando a presidente - em uma crítica inédita a Juan Domingo Perón, fundador do Peronismo (o partido de Cristina) - afirmou que nos tempos de Perón não havia direito à greve, e que portanto, nenhum sindicalista poderia usar a imagem de Perón contra o governo Kirchner.
"Hoje em dia existe direito de greve, mas não de chantagem e de extorsão", disse Cristina, em alusão direta ao caminhoneiro.
Horas depois, Moyano retrucou: "a presidente está mal-assessorada".
"A relação do governo com a CGT atravessa um momento difícil", admitiu nesta segunda-feira Juan Carlos Schmidt, um dos braços direitos de Moyano. Em tom de cobrança ao governo, Schmidt argumentou que Moyano serviu de cabo eleitoral para o governo durante a campanha presidencial: "estivemos ao lado do governo em diversos momentos complicados para sustentar este projeto nacional e popular".
No entanto, o sindicalista tentou colocar panos quentes sobre a polêmica gerada pela ausência do líder da CGT na posse presidencial da reeleita Cristina Kirchner no sábado: "institucionalmente, a CGT estava representada".
Diversos setores sindicais afirmam que Cristina, neste segundo mandato, fará "La Gran Menem" (A Grande Menem), isto é, uma guinada para a direita, afastando-se dos sindicatos.
A CGT foi tradicional aliada de todos os governos peronistas, inclusive com cargos nos ministérios e estatais. Esta é a segunda vez em mais de seis décadas que a central sindical entra em rota de colisão com um governo peronista.
PODER - Moyano, o principal respaldo do governo na área social desde os tempos do ex-presidente Nestor Kirchner, está melindrado com Cristina desde o segundo trimestre deste ano, quando ela recusou-se, apesar de seus pedidos, a designar um vice-presidente de origem sindical.
A presidente tampouco concedeu espaço à CGT na lista de candidatos a deputado nas recentes eleições presidenciais e parlamentares. Cristina somente ofereceu um lugar ao filho de Moyano, Facundo, que foi eleito.
O clã Moyano, no entanto, reclama e recorda que no último governo de Juan Domingo Perón os deputados sindicalistas representavam um terço do total dos peronistas no Congresso Nacional.
O melindre ficou evidente na festa da reeleição de Cristina, quando Moyano optou por não comparecer às celebrações. Simultaneamente o governo fez acenos a sindicalistas rivais de Moyano, que pretendem removê-lo do cargo em 2012.
Nos dois primeiros governos do general J.D.Perón não havia direito à greve, disse Cristina Kirchner, em recado direto à CGT. Na foto acima, do início de 1974 (terceiro governo de "El Conductor"), Perón cumprimenta com um sorriso o general e ditador chilenoA.R.Pinochet.
TELEFONEMA - Desde a morte do ex-presidente Néstor Kirchner (2003-2007) a relação entre a presidente Cristina e Moyano foi marcada pela crescente tensão. Rumores no âmbito político indicam que a presidente coloca no caminhoneiro parte da culpa da morte do marido, já que na noite anterior ao enfarte fulminante que matou Kirchner, o líder da CGT e o ex-presidente mantiveram uma violenta discussão por telefone.
DETALHES - Mais detalhes sobre Moyano e sua relação com o governo, nesta postagem de meses atrás, aqui.
Em 2009 "Os Hermanos" recebeu o prêmio de melhor blog do Estadão (prêmio compartilhado com o blogueiro Gustavo Chacra).