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Os Hermanos

Jack Nicholson em Ezeiza, sóis sorridentes e Frankenstein, que toma um cafezinho para entrar com energia em 2010

Frankenstein (Boris Karloff - 1887-1969 - na verdade, com muita maquiagem em cima) beberica um cafezinho enquanto espera 2010. Será um bom ano!

Por arielpalacios
Atualização:

Caras e caros, Aproveito o último dia do ano para uma postagem múltipla. Temos férias, Jack Nicholson perdendo a mala em Ezeiza e sóis sorridentes. Vamos por partes.

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Os portenhos - e argentinos do interior - de menores recursos financeiros devem resignar-se a algumas praias da província de Buenos Aires, entre elas Mar del Plata, que no passado remoto foi o balneário 'in' do país.

No entanto, alguns setores oceânicos bonaerenses também possuem prestígio, e recebem pessoas mais abastadas. É o caso de Pinamar, Cariló e Mar de las Pampas. E eventualmente, algumas famílias passam parte do verão em Cariló e outra parte em Punta del Este. Mas, é preciso destacar que também existem praias fluviais argentinas ao longo dos rios Paraná e Uruguai, que ficam repletas de pessoas nos dias quentes de verão.

No entanto, as praias brasileiras, são, sem dúvida, um dos pontos de permanente interesse para os argentinos. Os argentinos foram em massa ao Brasil desde 1978, época da famosa "Plata dulce" (Dinheiro doce), isto é, a ciranda financeira na qual a Argentina embarcou por causa das peculiares políticas econômicas do ministro José Martínez de Hoz, o ministro mais notório da última ditadura militar. O fluxo de argentinos ao Brasil persistiu apesar das constantes crises econômicas e das desvalorizações da moeda nacional, o peso. Em 2008 mais de um milhão de argentinos visitaram o Brasil. Primordialmente as praias.

Ah! Os portenhos, de qualquer classe social, que ficam na cidade (pelos mais diversos motivos), sem uma praia nas vizinhanças, não se avexam, e - à europeia - tomam sol nas praças da cidade.

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A praça do cemitério da Recoleta, a Praça Francia, os parques de Palermo, Parque Thays, Parque Las Heras, Parque Rivadavia e Parque Centenário ficam lotadas de portenhos que tentam adquirir um "bronze" urbano com biquínis ou bermudas (a sunga não integra o vestuário de balneário, ainda que balneário 'seco' dos argentinos).

BUENOS AIRES É GENIAL (mas, sempre é bom estar precavido com certos assuntos, para que as férias não azedem) Por isso, vamos para esta outra parte de nossa postagem...

Depois, se for o caso, sai para festejar com os amigos, ao redor das 3:00 da manhã.

Antes disso, é assunto familiar, ocasião para conversar com os parentes, ingerir opíparas porções de raviolis, 'ensalada rusa', carne bovina (comme il faut, estamos nos Pampas), leitão, entre outros quadrúpedes, bípedes e representantes do reino vegetal que transformam-se em carboidratos.

- Não há jornais neste dia 1 de janeiro (não há jornais nos dias 25 de dezembro, no dia 1 de maio, no dia do 'canillita' (jornaleiro) celebrado no 7 de novembro.

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- Boa parte do comércio estará fechado neste primeiro dia do ano. Prepare-se para um dia de caminhadas pela cidade, que é genial para isso.

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- O aeroporto internacional de Ezeiza conta com uma ativa máfia especializada na abertura de maletas alheias. Portanto, é recomendável, além de cadeado, e plastificar a mala, que não coloque nenhum objeto do qual vá sentir saudade dentro da mala.

Para atrasar o trabalho da máfia de Ezeiza existem várias estratégias, entre elas, a colocar uma grossa e grande folha plástica na parte de dentro da mala e assim, "embrulhar" o conteúdo interno em uma derradeira capa de "resistência" às mãos alheias (esse embrulho interno de plástico é devidamente acompanhado de várias voltas de firme fita adesiva).

Dá trabalho, mas é uma forma de propiciar à sua mala melhores chances de chegar incólume.

A máfia de Ezeiza foi denunciada pela imprensa portenha. Após o escândalo, há dois anos, a máfia teve um período de atividade light. Mas, diante da ausência de medidas concretas por parte das autoridades, voltou à ativa.

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Aquela tradicional frase das companhias "preencha este formulário com a descrição da mala e seu conteúdo" pode ser rebatido com uma lista previamente impressa do conteúdo e...golpe de efeito (ahá!!), uma foto da mala antes de embarcar (leve em um pen-drive ou imprima. Ou ambas).

Defesa do consumidor? Não existe, praticamente.

Mas, tomando as devidas precauções, com a mala blindada (o ideal seria colocar um localizador eletrônico dentro delas...), é relativamente possível passar pelo aeroporto de Ezeiza incólume para poder desfrutar de vários dias na agradável Buenos Aires.

Na hora de reclamar, pense que você tem a cara enlouquecida de Jack Nicholson em "O iluminado"...mas fale como Anthony Hopkins interpretando o doutor Hannibal Lecter, em "O silêncio dos inocentes".

Treine na frente do espelho. Claro, sem fazer aquele 'slurp' que Hopkins faz na frente de Jodie Foster, já que pode ser interpretado de outra forma...

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- As greves são frequentes em companhias aéreas que operam no país. Portanto, leve sempre um bom livro ou música para ouvir, já que o risco de esperas prolongadas sempre existe. No caso de greves, desista. Aí não tem jeito mesmo. Não adianta fincar o pé. Os sindicatos possuem o respaldo explícito do governo. E uma greve em uma companhia possui um efeito dominó sui generis nas outras.

A saída é ficar de olho na mídia para ver se há greves do setor pairando - valha o trocadilho - no ar. Tudo isso para não ficar em terra, e não ficar (trocadilho náutico) vendo navios...

Outra coisa: ao chegar em Ezeiza, caso tenha pressa em trocar dinheiro, troque no Banco de La Nación, no hall do aeroporto. Costuma estar aberto todos os dias. Outros lugares nem sempre possuem um câmbio, digamos assim...'justo'.

Mais um detalhe: a falsificação de dinheiro é grande na Argentina. Há grandes especialistas na falsificação de dólares e pesos. Fique de olho. As falsificações são muito boas. Em grande parte das ocasiões, as pessoas que repassaram notas falsas (um lojista para seu cliente, por exemplo) nem perceberam que a cédula entregue era pura falcatrua monetária.

- A calle Florida (via de pedestres que até início dos anos 90 ainda mantinha o charme. Agora, não mais. Só recomendaria os últimos quarteirões da Florida, isto é, no trecho entre a Avenida Córdoba e a Avenida Santa Fe).

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- O bairro da Boca (bairro que costuma ser 'pega-turista'...mas isso é assunto para uma outra postagem, na qual explicarei que as cores do 'Caminito' são algo fake e que de italiano o bairro quase não tem mais nada. E muito menos é o bairro do tango...)

- Ocasionalmente algum roubo pode ocorrer na área da Recoleta. Neste caso, a modalidade mais frequente é a dos 'motochorros', isto é, o ladrão que passa de motocicleta e arranca a bolsa de uma turista (ou nativa) que passa muito rente ao meio-fio.

O motivo dos sóis 'sorridentes' nas bandeiras da Argentina e do Uruguai era uma das inquietudes de nosso leitor-comentarista Mané. Aqui explicamos a origem destes sóis sorridentes:

As bandeiras da Argentina e do Uruguai possuem vários pontos em comum. Por um lado, ostentam o branco e o azul (no caso da Argentina, mais do que azul, é o celeste, se bem que em outras épocas era mais escuro esse azulado...mas esse é um assunto saboroso para outra postagem).

Além disso, também ostentam um sol, muito similar. O sol parece sorridente...não de forma exagerada, mas mais como um sorrido de Mona Lisa. Ele possui uma 'carinha', com olhos, sobrancelhas e nariz.

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O sol na bandeira argentina foi adotado em 1818, durante uma reunião do Congresso em Buenos Aires. É o mesmo sol que aparece na primeira moeda nacional cunhada pela Assembleia de 1813.

Este sol possui 32 raios. Dos quais 16 raios "retos" e 16 "flamejantes". Isto é, 16 raios retinhos e outros 16 com curvinhas, como se estivessem em plena ação de 'chamas'.

É chamado de "sol de mayo", em referência à Revolução de Maio de 1810, estopim das revoltas de independência no rio da Prata.

O design deste sol foi realizado por um ourives de sobrenome Rivera (que tinha antepassados incas). Rivera recuperou o símbolo do sol dos incas, o 'Inti'. O mesmo sol inspirou os uruguaios, quando estes fizeram sua bandeira definitiva.

Até 1985 a bandeira com o sol era considerada "bandeira-mor" da nação (ou também a bandeira de guerra), e portanto, só podem ser usadas pelos edifícios públicos e as forças armadas. Os cidadãos argentinos só podiam usar as bandeiras sem o sol no centro. Mas, atualmente a bandeira com o sol é a bandeira da Argentina de forma geral.

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Na bandeira uruguaia, o sol tem uma carinha levemente mais sorridente. Possui menos raios que seu colega argentino. No total, o sol uruguaio possui oito raios flamejantes e oito raios retos.

Um supimpa ano novo para todos!

E de presente de ano novo, um poema que Jorge Luis Borges apreciava muito, que não era dele, mas do inglês William Blake (1757-1827).

To see a world in a grain of sand, And a heaven in a wild flower, Hold infinity in the palm of your hand, And eternity in an hour.

Para ver o mundo em um grão de areia E um céu em uma flor silvestre Segura o infinito na palma de tua mão E a eternidade em uma hora

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Para despedir 2010, o mais emblemático tango de Astor Piazzolla, "Adiós Nonino", na versão com o próprio Piazzolla...

http://www.youtube.com/watch?v=eyJGDmgg0Vc&feature=related

E na versão, mais recente, com Yo yo Ma: http://www.youtube.com/watch?v=_tMgVMxG95A&feature=related

E para começar o ano, Mercedes Sosa, recentemente falecida, em "Honrar la vida". A música e letra é de Eladia Blázquez. http://www.youtube.com/watch?v=I1z9GhWAPEY&feature=PlayList&p=B6704F37776E0121&playnext=1&playnext_from=PL&index=32

E, evidentemente, não podíamos terminar 2009 sem a ironia de Mafalda...

Abraços, Ariel PS - Neste domingo acrescentaremos o capítulo sobre os santos populares. E na semana que vem continuaremos com a série sobre os sui generis suicidados argentinos.

PS2: E, como dizia um humorista argentino, Tato Bores (obrigado pela lembrança deste ao comentarista Jorge Trimboli), "Vermouth com batatas fritas e goood shoow!!" Bom ano!

Um novo ano em boa companhia sempre é melhor, evidentemente!Boris Karloff e Josephine Hutchinson em um momento de relax no meio da rodagem do clássico da Universal "Son of Frankenstein" (1939)

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