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Os Hermanos

Nacional e popular...e dolarizado

Por arielpalacios
Atualização:

Deputados da Coalizão Cívica, o segundo maior partido da oposição, de centro-esquerda, solicitaram nesta quarta-feira à Justiça que investigue o ex-presidente pela suspeita de ter usado "informação privilegiada" e de "enriquecimento ilícito".

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A compra de divisas, até o montante adquirido por Kirchner, não é ilegal (sempre que for declarada). No entanto, foi considerada "imoral" e "brutalmente antiética" pelos líderes da oposição.

Os aliados de Kirchner estavam desorientados, pois não encontravam argumentos para defender a decisão do ex-presidente - que apresenta-se como um defensor da causa "Nacional e Popular" - de preferir investir na moeda americana e não nos pesos, a moeda nacional.

A divulgação da compra de US$ 2 milhões, feita no fim de semana pelos jornais "Perfil" e "Clarín" gerou novas turbulências políticas em Buenos Aires. O casal Kirchner, afetado pela constante queda de popularidade, não teve outro remédio do que admitir a aquisição das cinzento-esverdeadas cédulas provenientes daquilo que seus eles próprios e seus aliados chamam de "O Império" (os EUA). Na segunda-feira, o chefe do gabinete de ministros, Aníbal Fernández, e o ministro da Economia, Amado Boudou, alegaram que a compra de dólares havia sido "totalmente dentro da lei".

Segundo o ex-presidente transformado em hoteleiro, todo o dinheiro foi usado para a compra das ações. Kirchner argumentou que não teve "benefícios cambiais".

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Mas esta não foi a única vez que Kirchner optou pela moeda americana. Segundo a declaração de bens do casal, divulgada no ano passado pelo Departamento Anticorrupção, em 2008 o casal fez diversas aplicações financeiras. Destas, 62% estavam em dólares.

De forma geral, a declaração de bens do casal indica que desde 1999 a maior parte dos depósitos bancários do casal Kirchner estiveram em dólares.

Pouco antes da implantação do "corralito", o mega-confisco bancário do governo do ex-presidente Fernando De la Rúa, os Kirchners retiraram a totalidade de suas economias em cash - no total de US$ 1,8 milhão (que por causa da conversibilidade econômica equivaliam a 1,8 milhão de pesos) - e a colocaram em uma conta corrente do Deutsche Bank, nos EUA. Em 2002, após a desvalorização do peso, os Kirchners trouxeram suas economias de volta ao país. Nessa ocasião, o dinheiro que haviam colocado a salvo da crise no exterior valia, ao retornar 6,2 milhões de pesos.

O ensaísta e ex-ministro da Cultura, Marcos Aguinis, autor de "O atroz encanto de ser argentino", criticou o comportamento especulativo do ex-presidente: "comprar US$ 2 milhões em um momento de crise e incertezas, aproveitando a informação que possui constitui um insulto para aquelas pessoa que ele diz proteger e defender". Além disso, sustenta Aguinis, "é uma confissão da minúscula confiança que o ex-presidente tem em nosso país, nossa moeda e nossa própria administração".

Na ocasião da compra dos US$ 2 milhões, em outubro de 2008, o dólar era cotado a 3,15 pesos em Buenos Aires. No final daquele mês, atingia 3,40. No Réveillon daquele ano chegou a 3,47. Ontem (terça-feira) estava em 3,86 pesos e continuava subindo.

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O lucrativo investimento de Kirchner, no entanto, poderia ter sido superior. Segundo o ex-presidente do Banco Central, Martín Redrado, em 2008 ele sofreu intensas pressões do governo da presidente Cristina Kirchner para desvalorizar a moeda em grande escala.

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A compra de dólares por parte de Kirchner colocaria o ex-presidente em situação equivalente à média dos argentinos, que na hora de cuidar do bolso, acredita mais na moeda americana do que nos pesos.

Depois dos Estados Unidos, a Argentina ocupa o segundo lugar no ranking mundial de dólares nas mãos da população, seguida pela Rússia. Em média, os argentinos possuem US$ 1.300 per capita, volume muito superior aos US$ 550 em média que os russos possuem.

Segundo os dados oficiais, a maior parte da receita do casal presidencial provém dos elevados aluguéis que cobram de casas e apartamentos que possuem na Patagônia, além das aplicações financeiras.

O populista caudilho, fundador do Partido Justicialista (Peronista), o partido do casal Kirchner - a quem o consideram seu ídolo e mentor - criticava o "capitalismo ianque" e apresentava-se como defensor de uma "terceira via" equidistante ao capitalismo e ao marxismo.

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No entanto, Perón, no início dos anos 70, começou a perceber que a procura desesperada dos argentinos pela moeda americana superava qualquer discurso populista. Em seu exílio em Madri, afirmou com ceticismo: "o bolso é a víscera mais sensível do corpo humano...".

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