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Os Hermanos

Orgulho de Hitler foi a pique na frente de Montevidéu há 70 anos

Orgulho da frota do Terceiro Reich afundou no Rio da Prata em 1939

Por arielpalacios
Atualização:

Há 70 anos, no meio da via fluvial mais larga do mundo, o Rio da Prata, uma massa de aço de 186 metros de comprimento, pesando quase 16 mil toneladas, afundou depois de duas fortes explosões. No lamacento fundo do rio que separa o Uruguai da Argentina, ficou imobilizado para sempre o poderoso encouraçado "de bolso" da Kriegsmarine - a Marinha de Guerra alemã - o Admiral Graf Spee.

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Depois de ter protagonizado uma das últimas batalhas navais clássica da História (sem a presença de aviões ou porta-aviões), o Graf Spee foi afundado por Hans Langdorff, seu próprio capitão.

Os motivos especulados pelos historiadores posteriormente sobre o auto-afundamento:o de evitar o massacre dos marinheiros alemães, que estavam em minoria; a sensação de inevitabilidade da derrota que Langsdorff tinha e assim, e evitar que a tecnologia naval alemã - na época, uma das mais avançadas do mundo - caísse nas mãos da inimiga marinha britânica, que a esperava na foz do Rio da Prata.

Pela força de seus motores e a blindagem, o Graf Spee era definido na época como "Mais forte que o mais veloz, e mais veloz que o mais forte".

ORGULHO DA FROTA O Graf Spee era um dos orgulhos da frota do Terceiro Reich. No dia 3 de setembro de 1939, dois dias após o início da Segunda Guerra, começou sua tarefa: afundar todos os navios mercantes possíveis no Atlântico Sul, como forma de estrangular a economia e o abastecimento dos aliados.

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Em cem dias de atividade frenética, comandado pelo astuto capitão Langsdorff, o Graf Spee colocou a pique nove mercantes (sem causar a morte de nenhum dos tripulantes das embarcações inimigas) e distraiu a atenção de dezenas de navios de guerra ingleses e franceses do principal cenário de guerra, o Atlântico Norte. Os aliados tentavam desesperadamente captura o Graf Spee.

Quando navegava perto da costa uruguaia, entrou em combate com três navios britânicos, ação que entrou para a História com o nome de "a batalha do Rio da Prata".

Langsdorff conseguiu atingi-los duramente, mas foi forçado a retirar-se para consertar os próprios danos. Desta forma, colocou o navio na direção do porto neutro(embora pouco amigável com o Terceiro Reich) de Montevidéu.

O embate levou dezenas de milhares de pessoas em Montevidéu e em Buenos Aires às respectivas avenidas beira-rio, para aguardar a aproximação dos navios com a esperança de assistir de "camarote" o duelo entre as mais poderosas marinhas de guerra do mundo. Durante dias, a Segunda Guerra Mundial esteve presente neste recanto longínquo da América.

O navio ficou ancorado no porto de Montevidéu. A população de Montevidéu e o governo temiam os canhões do poderoso Graf Spee, que poderia - se quisesse - arrasar a pacata capital uruguaia.

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Mas, o governo do Uruguai arriscou-se e deu um ultimato: somente concederia a Langsdorff 72 horas para consertar danos no casco, levar os marinheiros feridos a hospitáis em Montevidéu e enterrar os homens que haviam falecido na batalha do rio da Prata. Langsdorff aceitou as condições, depois de protestar.

Finalmente, depois de ouvir os rumores de que mais navios britânicos se aproximavam da foz do Rio da Prata, Langsdorff percebeu que essa via fluvial havia transformado-se em um beco sem saída.

Após enterrar 36 marinheiros no cemitério da capital uruguaia, zarpou do porto de Montevidéu. Dezenas de milhares de pessoas acotovelaram-se na praia e no porto para ver o que o poderoso navio faria.

A sete quilômetros de distância da costa, ordenou que os marinheiros abandonassem o navio. Cargas explosivas detonaram no fundo do encouraçado, que foi à pique.

A tripulação alemã refugiou-se em Buenos Aires, porto neutro (mas amigável com o Reich). Posteriormente, grande parte dos marinheiros foram para província de Córdoba. Vários marinheiros retornaram à Alemanha, para continuar a guerra.

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No entanto, Langsdorff não voltou a seu país. Depois de assegurar o refúgio a seus marinheiros na Argentina, retornou a seu quarto do City Hotel, ao lado da Praça de Mayo em Buenos Aires.

Ali, o capitão deitou na cama. Enrolado na bandeira alemã - não a nazista com a suástica, mas sim a velha insígnia imperial, já que ele próprio não se considerava um nazista - suicidou-se com um tiro.

Nos anos seguintes, os capitães aliados - seus inimigos - foram unânimes em defini-lo como "um cavalheiro".

O grão-almirante Erich Raeder (comandante da Marinha do Terceiro Reich na primeira metade da guerra), em suas memórias escritas após o conflito bélico mundial, considera Langsdorff um "covarde" e o acusa de ter perdido um navio "à toa". Outros especialistas, no entanto, afirmam que o capitão tentou evitar um massacre inútil em uma batalha que estava previamente perdida.

Raeder era a favor de afundar navios sem prévio aviso, mesmo que fossem navios-hospitais ou de transporte civil.

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Na contra-mão, Langsdorff seguia à risca a Convenção de Haia e fazia questão de deter os navios mercantes, avisar que seriam afundados, esperava que a tripulação estivesse a salvo, e só então disparava seu canhões para afundar a nave.

Langsdorff foi enterrado no setor alemão do cemitério de La Chacarita, em Buenos Aires

NEONAZISTAS O túmulo de Langsdorff voltou a ser notícia há um ano, quando um grupo de 26 neonazistas argentinos realizaram na noite do 21 de dezembro de 2008 uma cerimônia de homenagem ao Terceiro Reich no cemitério de La Chacarita. Mais especificamente, na frente do túmulo do capitão do Graf Spee (este, por seu lado, não se considerava nazista, uma informação que os neonazistas platinos supostamente desconheciam).

Os skinheads, que portavam insígnias nazistas, cartazes e bandeiras com a suástica, gritaram frases antissemitas durante a manifestação clandestina, quando o cemitério estava com as portas fechadas.

A polícia deteve os manifestantes, exceto quatro menores de idade que participavam do grupo.

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A Argentina possui a maior comunidade judaica da América Latina, com mais de 500 mil integrantes. No entanto, o país também conta com ativos grupos neonazistas e fascistas, que pregam a expulsão dos judeus do país. Após o fim da Segunda Guerra Mundial, pelo menos 300 criminosos de guerra nazistas refugiaram-se na Argentina.

RESGATE Imobilizado para sempre no fundo do rio da Prata? Não, se depender das atividades de um grupo de empresários uruguaios e argentinos, que começaram em 2004 o resgate do navio.

A ambiciosa ideia é retirar do fundo do rio o navio inteiro, que está a apenas oito metros de profundidade, partido em duas partes. Na época, o diretor da operação, o uruguaio Héctor Bado, o resgate completo levaria vários anos.

"Este é o último encouraçado alemão que tecnicamente pode ser resgatado do fundo das águas em todo o mundo. Queremos trazê-lo à tona, restaurá-lo e exibi-lo em Montevidéu", disse Bado na ocasião.

Para poder removê-lo do fundo do rio, será necessário retirar entre 6 mil e 8 mil toneladas de lodo de dentro do navio, entre outras tarefas (além de uns 24 milhões de euros).

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Alfredo Etchegaray, proprietário dos direitos sobre o navio afundado, afirmou que o cineasta americano James Cameron - o diretor de "Titanic" - iria à capital uruguaia para filmar o resgate. Por enquanto Cameron não foi à Montevidéu.

O empreendimento é privado, mas conta com apoio do governo do Uruguai, que declarou o projeto como de "interesse turístico".

As operações de resgate estiveram paralisadas nos últimos dois anos. Mas, segundo Bado, serão retomadas no próximo dia 15 de março. O próximo objetivo: recuperar um dos canhões principais.

ÁGUIA POLÊMICA Em 2004 a equipe conseguiu recuperar o telêmetro do navio. A imensa peça, de 27 toneladas, está atualmente na praça do porto de Montevidéu.

Em 2006 a polêmica agitou Montevidéu quando a equipe resgatou a águia nazista que estava afixada à popa do encouraçado "de bolso".

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A presença da enorme suástica nas garras da escultura tornou-se o centro de intensos debates entre os exploradores, historiadores, o governo e a comunidade judaica uruguaia.

A comunidade judaica uruguaia ficou preocupada com o surgimento da águia. Na ocasião, Ernesto Kreimerman, presidente da Comunidade Israelita do Uruguai, declarou que era preciso que a sociedade tomasse as medidas necessárias para que "estes símbolos não sejam usados por grupos neonazistas como forma de propaganda".

A águia de bronze pesa mais de 400 quilos, tem dois metros de altura e quase três de largura. Suas garras de metal estão aferradas a uma grande suástica. A peça foi a a insígnia nazista do Graf Spee.

A peça é única, pois trata-se do último símbolo - de grande tamanho - do nazismo em todo o mundo. Peças similares foram destruídas logo após o fim da Segunda Guerra pelas tropas aliadas.

Para não causar ofensas, a águia foi inicialmente exposta na frente do Hotel Palladuim, em Montevidéu, com a suástica coberta por uma lona. Após a polêmica ter sido amainada, e no cenário de ausência de militantes neonazistas, a lona foi removida.

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A Universidade de Oxford calcula que a águia do Graf Spee valeria US$ 3 milhões.

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