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Os Hermanos

River Plate à beira do precipício da Segunda Divisão (e o oráculo eqqus africanus asinus)

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Por arielpalacios
Atualização:

Inferno dantesco: para os torcedores do River Plate, os padecimentos deste Hades descrito pelo bardo Dante Alighieri são light perto do que seria baixar à Segunda Divisão. A gravura acima é do ilustrador francês comme il faut do século XIX, Gustave Doré.

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Depois de uma série de complexas equações de jogos que ocorreram ao longo da última semana, para tentar preservar sua posição na Primeira Divisão o River teve que disputar a "Promoção", uma espécie de "Purgatório" futebolístico, no qual o time precisa encarar um punhado de jogos para definir se vai para o "Inferno" esportivo da Segunda Divisão ou se consegue ficar no "Paraíso" da Primeira Divisão.

Na Promoção o River precisou enfrentar o Belgrano, time da cidade de Córdoba, a 715 quilômetros ao oeste da capital do país. No primeiro jogo, na quarta-feira, o River perdeu por 2 a 0.

O próximo e derradeiro embate será neste domingo, em Buenos Aires, no estádio Monumental de Núñez, a casa "riverplatense" que está no bairro de Belgrano (e não no de Núñez, tal como indica o nome informal do edifício...que na realidade chama-se "Antonio Vespucio Liberti").

O portenho River Plate está à beira do abismo. Para não cair - tal como o Coiote Willy, da série animada "O Papa-léguas" (Roadrunner) - terá que vencer o Belgrano de Córdoba.

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O River integra uma tríade de times que até agora nunca haviam caído para a Segunda Divisão. Os outros dois são o Boca Juniors e o Independiente de Avellaneda.

Fundado no dia 25 de maio de 1901, o River Plate - criado pela fusão dos times Santa Rosa e La Rosales - subiu para a Primeira Divisão em 1908 e nunca mais saiu dali. Além disso, o River acumula em suas estantes na sede do bairro de Belgrano um total de 38 troféus nacionais e internacionais.

Torcedores estão apelando a uma série de santos para evitar que o time caia para a Segunda Divisão.

DESESPERO E REZAS - Os "hinchas" (torcedores) estão desesperados, já que deparam-se perante o cenário dantesco de cair de categoria. Neste contexto, recordam as glórias do passado - citam os grandes nomes de sua História, como Alfredo Di Stéfano, Adolfo Pedernera e Enrique Sívori para exorcizar os demônios da queda para a Segunda Divisão - enquanto disparam duros epítetos contra o ex-presidente do River José Maria Aguilar e o atual presidente Daniel Passarella, além do ex-técnico Angel Cappa e o atual ocupante do posto, Juan José López.

De quebra, os "barrabravas" (hooligans) do River com frequência protagonizam atos de violência nos estádios, intensificando a queda do prestígio do centenário clube portenho.

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No sábado da semana passada, após a derrota do River para o Lanús, por um a dois na própria casa do time, o estádio Monumental de Núñez, o jogador Matias Almeyda, a principal figura do clube, chorava desconsoladamente no vestuário, enquanto nas arquibancadas um angustiado torcedor de 68 anos - cuja identidade, a pedido da família, foi mantida no anonimato - teve um ataque cardíaco (supostamente de desgosto com o andamento do time) e morreu poucos minutos depois.

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Enquanto isso, Daniel Passarella, ex-capitão da seleção argentina de 1978 e presidente do River Plate, pediu "força e coragem" a seus jogadores. "Iremos para a frente", exclamou perante seu time, em uma tentativa de recuperar a confiança perdida.

O próprio árbitro que apitou o jogo River-Lanús, Pablo Lunati, declarou que "se o River for para a Promoção, será algo escandaloso, já que na Argentina o fato de disputar um jogo para evitar a queda para a Segunda Divisão é quase equivalente à morte".

O ex-jogador Norberto Alonso, atualmente com 58 anos, que na década de 70 e início dos 80 foi um dos ídolos do clube, afirmou ontem (segunda-feira) que, caso o River caia para a Segunda Divisão, avaliará sua partida do país: "não sei não... mas acho que vou abandonar a Argentina". Segundo Alonso, "este time glorioso está destruído em todos os sentidos".

O Estado apurou que milhares de torcedores estão fazendo as mais variadas promessas a uma miríade de santos e virgens para tentar obter uma hipotética ajuda sobrenatural que impeça que o River caia de categoria. Os pedidos aos céus incluem desde caminhadas até a basílica de Luján, a deixar de comer pasta ou os tradicionais churrascos durante três meses, entre outras alternativas de sacrifício gastronômico.

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Na trilha do polvo Paul, jumento cordobês vaticinou empate dos dois times. A ilustração acima é a reprodução do quadro "O asno de Balaão falando perante o anjo", pintado em 1626. Está no museu Cognacq-Jay, em Paris.

ASNO ORÁCULO - O falecido polvo anglo-germânico Paul, oráculo futebolístico da última Copa do Mundo - que acertou sobre os resultados dos jogos protagonizados pela Alemanha - possui um correligionário na cidade de Córdoba. Mas, ao contrário do octópode europeu, o profeta neste caso é um eqqus africanus asinus, popularmente chamado de "burro" ou "asno".

"Andrés" - o nome do jumento cordobês - vaticinou que o jogo deste domingo acabará em empate. O método realizado pelos donos do burro foi o de colocar na sua frente três fardos de feno. Um dos fardos ostentava a bandeira do River, outra exibia a bandeira do Belgrano enquanto que o terceiro fardo não contava com identificação alguma, simbolizando o empate. "Andrés" escolheu o feno desta última opção.

Um eventual empate - tal como o previsto por "Andrés" - implicaria em queda do River para a Segunda Divisão.

DÍVIDAS E TÉCNICOS - O River, além de graves problemas financeiros - possui US$ 50 milhões em dívidas - acumula três anos de medíocre desempenho nos campeonatos argentinos.

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Desde 2008, ano em que ficou no vigésimo lugar no campeonato Abertura (isto é, o último posto da Primeira Divisão), o River passou pelas mãos de cinco técnicos (Diego Simeone, Nestor Gorosito, Leonardo Astrada, Angel Cappa e Juan José López).

SEM CLÁSSICO - Caso o River não consiga permanecer na Primeira Divisão, os argentinos ficarão - pelo menos durante um ano - sem chances de assistir o "superclássico", denominação do embate periódico que protagonizam desde 1908 o time e seu rival histórico, o Boca Juniors.

Além disso, para acrescentar mais motivos para lamentos, a torcida teve que amargar que o River - que havia conseguido pontos para participar da Copa Sul-americana - ficará fora desse campeonato regional pelo fato de ter disputar um jogo com um time da Segunda Divisão.

A SEGUNDA MAIOR TORCIDA - O River Plate, segundo pesquisa elaborada em 2009 pelo governo federal argentino, conta com 32,6% do total da torcida argentina. Seu maior rival, o Boca Juniors, aglutina ao redor de 40,4%.

Não é o estádio Monumental de Núñez (que está no bairro de Belgrano, embora isso não tenha a ver - diretamente - com o time do Belgrano, que é de Córdoba). Trata-se de uma imagem idealizada pelo pintor francês Jean-Léon Gérôme (1824-1904, que mostra o Colisseu de Roma. O nome da obra "A última oração dos mártires cristãos". Gérôme também pintou uma emblemática obra que retrata o "panem et circenses" (pão e circo) do Império Romano, o "Pollice Verso" (ver abaixo) que está no Phoenix Art Museum, Arizona, EUA. A cena pode parecer algo velha...mas no fundo, é bem atual...

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POLÍCIA ARMA INÉDITO ESQUEMA DE SEGURANÇA PARA EVITAR VIOLÊNCIA DURANTE JOGO RIVER-BELGRANO - O estádio Monumental de Núñez será o cenário de um esquema de segurança inédito em um evento esportivo desde a Copa de 1978, quando a ditadura militar que governava o país colocou milhares de soldados nas ruas para evitar hipotéticos ataques terroristas.

No total, a ministra de Segurança, Nilda Garré, colocará 2.200 policiais para controlar os irritados torcedores do River Plate. Destes, 1.200 ficarão dentro do estádio para evitar que os "barrabravas" (hooligans) do River invadam o campo, tal como fizeram no meio da semana durante o jogo contra o Belgrano, na cidade de Córdoba.

Outros 1.000 homens das forças de segurança ficarão do lado de fora do estádio, controlando eventuais atos de violência. Desde a quinta-feira circulam na web convocações de torcedores do River a ir até o estádio neste domingo para apedrejar o ônibus que transportará os jogadores do Belgrano.

Os riverplatenses, além de direcionar a raiva contra o time rival, também disparam ameaças aos diretores e jogadores do próprio River. Furiosos, na noite da quinta-feira, mais de 400 torcedores riverplatenses carregando faixas com os dizeres "ganhar ou morrer" tentaram invadir a sede do River.

A polícia, que teve que recorrer jatos d'água para dispersar a multidão, não deteve manifestante algum. As forças de segurança tiveram um saldo de oito feridos entre seus homens.

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Durante cinco horas representantes do time, da Associação de Futebol da Argentina (AFA) e do Ministério de Segurança discutiram sobre a possibilidade de realizar um jogo a portas fechadas, de forma a evitar prováveis cenas de pancadaria. Mas, no fim da noite, as autoridades concordaram em abrir o estádio para os torcedores.

A decisão final de realizar o jogo com a presença do público foi tomada pela própria presidente Cristina Kirchner, embora a ministra Garré fosse contra.

Por trás da decisão de abrir as portas do Monumental esteve o presidente da AFA, Julio Grondona, aliado do governo Kirchner, que deixou claro aos participantes da reunião que não poderia exibir ao mundo o estádio vazio poucos dias antes do início da Copa América.

MONUMENTAL À VENDA - Os internautas surpreenderam-se ontem ao ver que o site "Mercado Libre" - especializado em vendas online - exibia uma oferta de venda do estádio do River, o Monumental de Núñez. O anúncio indicava que o imóvel em questão possui 83.950 metros quadrados.

"A construção possui 73 anos de idade, mas foi reciclada em 1978. As arquibancadas serão entregues em vermelho e branco mas podem ser pintadas com as cores que o comprador deseje. Cadeiras anatômicas. Boa iluminação. Gramado bem regado e cortado. Ideal para concertos. Aceita-se várzea como parte do pagamento. Pode pagar em confortáveis parcelas".

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O preço estipulado para a venda era de 4,999 milhões de pesos (US$ 1,2 milhão). A identidade real do anunciante era desconhecida, embora as especulações indicassem ontem que podia ser um irônico e frustrado torcedor do River Plate ou um integrante da torcida do rival Boca Juniors.

 

Em 2009 "Os Hermanos" recebeu o prêmio de melhor blog do Estadão (prêmio compartilhado com o blogueiro Gustavo Chacra).

 
 

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