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Os Hermanos

Sem Néstor Kirchner Cristina Kirchner entra na reta final de seu atual mandato

 

Por arielpalacios
Atualização:

Néstor Kirchner, já primeiro-cavalheiro, faz discurso em defesa do governo da mulher e sucessora. O ex-presidente, considerado o verdadeiro poder no governo de Cristina Fernández de Kirchner, morreu em outubro passado. Sua morte alterou o mapa político do país. A nova configuração dessa cartografia do poder ainda não está clara (foto da presidência da República).

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O chanceler Héctor Timerman declarou que "não vislumbra outro candidato" e que a presidente é a "opção natural" do governo. Timerman sustentou que a candidatura de Cristina Kirchner expressa "a vontade do povo argentino".

De quebra, diversos governadores respaldaram sua reeleição, além de centenas de prefeitos peronistas que reuniram-se com ela em meados de dezembro na residência oficial de Olivos.

Este também será o primeiro ano que a presidente Cristina passa sem seu marido e antecessor no cargo, o ex-presidente Néstor Kirchner (2003-2007), considerado o verdadeiro poder no governo da mulher até sua morte, ocorrida no dia 27 de outubro. Na manhã desse dia Kirchner sofreu um ataque cardíaco fulminante.

De lá para cá o governo passou por uma primeira etapa de paralisia pela morte do líder, que centralizava todas as decisões, da política à economia. Depois, ficou desorientado, com o surgimento de brigas entre ministros, que antes eram disciplinados pelo temperamental Kirchner. Para complicar, surgiu o escândalo WikiLeaks, com telegramas americanos que indicavam que a secretária de Estado dos EUA. Hillary Clinton, estava preocupada pela "saúde mental" da presidente argentina e perguntava a seus diplomatas quais "remédios" ela tomava.

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Mas, entre meados de novembro e início de dezembro, perante a apatia da oposição, a presidente Cristina começou a dar uma guinada que incluiu a moderação do discurso; a reaproximação com o FMI (organismo que seu marido abominava) e uma leve redução dos decibéis de críticas à imprensa.

Os analistas afirmam que o ano que resta de mandato de Cristina Kirchner poderá ser significativamente diferente aos três anos anteriores, marcados pela presença do marido.

ALTOS E BAIXOS E ALTOS - Mariel Fornoni, diretora da consultoria Management & Fit afirmou ao Estado que Cristina Kirchner havia começado relativa recuperação de sua imagem em setembro graças à recuperação econômica. Mas, em outubro, a morte de seu marido, o consequente período de luto - o denominado "fator viúva" - e um comportamento mais "moderado" de Cristina melhoraram drasticamente a imagem da presidente.

No entanto, depois dos incidentes ocorridos no dia 10 de dezembro, quando três imigrantes bolivianos e paraguaios foram mortos pelas forças de segurança - e centenas de outros foram espancados por moradores do bairro portenho de Villa Soldati (perante a omissão do governo federal) - a imagem da presidente voltou a cair.

Os incidentes - que incluíram as ocupações de uma dezena de terrenos em várias áreas da Grande Buenos Aires e da cidade de Buenos Aires por parte de milhares de favelados e sem-teto - abalaram tanto o governo Kirchner como o prefeito portenho Maurício Macri, da oposição.

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Mas, segundo a consultoria Poliarquia, entre altos e baixos, a presidente Cristina encerrou o ano melhor do que começou.

A pesquisa da Poliarquia - que não chegou a medir o impacto dos recentes conflitos sociais - indica que sua imagem negativa caiu 30 pontos, enquanto que sua imagem positiva melhorou em 36 pontos.

Dessa alta, 20 pontos foram obtidos imediatamente após a morte de Kirchner em outubro. O resto da alta foi conseguido de forma gradual ao longo do ano.

Desta forma, a presidente Cristina conta hoje com 57% de imagem positiva e 21% de imagem negativa.

Cristina Kirchner optou, na cúpula de Mar del Plata, por não aceitar o pedido do presidente venezuelano Hugo Chávez de fazer uma condenação pública dos EUA por causa do escândalo WikiLeaks.

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"MODERAÇÃO" - "Cristina está moderando seu discurso e reduziu as críticas à imprensa. Durante a cúpula ibero-americana em Mar del Plata, no início do mês, ela ficou mais do lado do Chile e do Brasil, que preferiam moderação com os EUA pelo escândalo WikiLeaks, distante dos países 'bolivarianos' como a Venezuela, Bolívia e Equador, que queriam uma condenação conjunta", afirma Fornoni. "Ora, Cristina é muito mais racional do que Néstor Kirchner", em referência aos acessos de raiva e medidas que o ex-presidente tomava por questões passionais.

"Parece que Cristina tinha um plano na cabeça que estava em stand by enquanto Kirchner  estava vivo", afirma ao Estado o colunista político Carlos Pagni, do jornal "La Nación".

Segundo Pagni, a morte de Kirchner remove de cima do governo um "passivo eleitoral": "Kirchner era um péssimo candidato para as eleições presidenciais de 2011. Ele possivelmente teria levado o kirchnerismo à derrota. O governo perdeu um grande passivo, enquanto que a oposição perdeu um grande ativo com sua morte. A oposição terá que se reorganizar, já que todos cresciam nas pesquisas só pelo fato de opor-se a Kirchner. Isso acabou".

Em sintonia, Fornoni afirma que "a oposição, com a morte de Kirchner, está desorientada. Era mais fácil bater no governo quando Kirchner estava vivo. E, para complicar a situação, a oposição não está conseguindo seduzir a população".

Pagni considera que o governo tentará ser moderado nos próximos tempos, ao contrário dos anos anteriores, quando Kirchner pairava sobre a administração de Cristina: "se tivessem me perguntado antes da morte de Kirchner quantas crises políticas de grande tamanho ele provocaria antes de dezembro do ano que vem, eu teria respondido 'umas três'. Mas, atualmente, não vejo as possibilidades dessas grandes crises. Kirchner era uma máquina de produzir furações e maremotos em um vaso de flores, como a crise com o campo, a remoção do presidente do Banco Central. Isso não vai ocorrer mais desse jeito".

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Santiago Kovadloff analisa prós e contras dos primeiros três anos de governo Cristina

CRISTINA KIRCHNER É CAUDILHA PROVINCIANA COM TOQUES DE VANGUARDA, DIZ FILÓSOFO

"A presidente Cristina Kirchner teve três anos de governo peculiar. Ela teve atitudes de vanguarda ao mesmo tempo de atitudes conservadoras, caudilhescas e provincianas". A frase é do filósofo e ensaísta argentino Santiago Kovadloff, que em entrevista ao Estado analisou os três anos de governo da presidente Cristina e as perspectivas para o último ano de seu mandato. 

Estado - Como definiria o estilo de governar de Cristina?

Kovadlof - Para consolidar o poder que alcançaram em 2003, os Kirchner seguiram um procedimento de capitalizar a fragilidade institucional que existia na época a favor de uma liderança fortemente pessoal. De lá para cá houve uma alta concentração do Poder Executivo, a permanente crítica e ofensa da oposição, a exploração da cultura caudilhesca em detrimento das instituições republicanas. Desde que Cristina assumiu o poder em 2007,  ela esteve sob forte influência de seu esposo. No entanto, desde a morte de Kirchner desponta uma Cristina livre do peso do marido, que mostra mais moderação e emite sinais de que não é tão "kirchnerista", de forma a conquistar setores da classe média que a rejeitavam...

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Estado - A sociedade vai acreditar em uma "deskirchnerização" de Cristina?

Kovalodff - Veremos se a sociedade vai encarar isso como uma mudança real ou se somente será algo superficial. Mas, se a oposição não emitir sinais claros de que é capaz de superar suas divergências internas, é bem possível que boa parte do empresariado e da opinião pública respaldem a candidatura de Cristina.

Estado - Considera que a oposição conseguiria unir suas forças?

Kovadloff - Se a intenção de voto para Cristina no primeiro turno não for muito elevada, a oposição poderá ter o luxo de desfrutar de sua fragmentação. Mas, se as chances de Cristina forem elevadas, a oposição precisará de um candidato de consenso. No entanto, tal como o cenário desponta, os riscos de que a oposição faça acordos de forma apressada são maiores do que a possibilidade de que a convergência seja o resultado de um acordo longamente meditado.

Estado - Uma coisa é que a oposição una forças e ganhe a eleição. Mas outra é que tentar governar nos quatro anos seguintes..

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Kovadloff - São dois passos sucessivos e não necessariamente complementares...

Estado - Quais os pontos positivos e negativos destes três anos de governo?

Kovadloff  - O governo tem vários pontos positivos, embora isso não altere sua orientação despótica e caudilhista. Cristina criou programas para ajudar famílias pobres, manteve a Corte Suprema que recebeu, respaldou leis de vanguarda como o casamento de pessoas do mesmo sexo, além de criar o ministério de ciência e tecnologia e estimular a cultura nacional. Ela também reaproximou-se dos EUA e reforçou a aliança com o Brasil. Não são conquistas conjunturais. São estruturais. Mas, ao mesmo tempo, seu governo foi espantosamente retardatário, ao ser sectário com todos aqueles que não concordam 100% com a presidente, o desinteresse pelo diálogo com a oposição, as pressões à imprensa, suas alianças com os conservadores caudilhos do norte do país, a corrupção. Este governo foi de uma insularidade provinciana...

GOVERNADORES E AS ELEIÇÕES ANTECIPADAS - As 24 províncias argentinas (incluindo o distrito federal) possuem algumas peculiaridades que as tornam diferentes aos estados brasileiros. Embora economicamente elas possuam uma maior dependência do governo federal, elas são mais autônomas no que concerne ao lado eleitoral. Desta forma, uma assembleia legislativa de uma província "X" pode determinar uma modificação das normas sobre reeleição de governadores.

Isto é, enquanto que a constituição nacional permite apenas uma reeleição presidencial consecutiva, existem várias constituições provinciais que permitem reeleições indefinidas. Outras não permitem reeleição alguma. E outras, como no sistema presidencial, permitem apenas uma reeleição.

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Essa autonomia também vale na hora de marcar a data das eleições para governador. Cada província tem o direito de marcar a eleição provincial na data em que quiser.

Este direito será usado intensamente neste ano, já que onze províncias (pelo menos) deixaram claro que pretendem "desdobrar" as eleições. Isto é, fazer as eleições provinciais antes das eleições presidenciais.

Este desdobramento indica que os governadores (tanto do governo como da oposição( consideram que o cenário político para as eleições presidenciais é de total incerteza. E portanto, preferem evitar riscos de 'afundar' junto com o governo ou com a oposição em outubro. 

OPOSIÇÃO COMEÇA A APRESENTAR CANDIDATURAS

Mas, um ano e meio depois, o cenário é diametralmente outro. Ciumentos uns dos outros, os líderes dos principais partidos da oposição - a União Cívica Radical (UCR), de centro; a Coalizão Cívica, de centro-esquerda; o Projeto Sul, de esquerda, e a Proposta Republicana e o peronismo dissidente, de centro-direita - foram incapazes de negociar o consenso.

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De quebra, não conseguiram formar um bloco consistente contra o governo no Parlamento. "O governo é minoria no Congresso, mas está unido. A oposição é maioria, mas está dividida e não possui uma liderança que articule suas ações", disse ao Estado o analista político Rosendo Fraga, diretor do Centro de Estudos Nueva Mayoría.

Neste contexto de profundas divisões e troca de acusações, os partidos de oposição aproveitaram o último mês do ano para anunciar seus pré-candidatos presidenciais.

No início de dezembro, o primeiro foi Ricardo Alfonsín - filho do ex-presidente Raúl Alfonsín - que lançou sua candidatura pela União Cívica Radical (UCR), de centro. Uma semana depois foi a vez do principal líder da esquerda, o diretor de cinema e deputado Fernando "Pino" Solanas, do partido Projeto Sul.

A deputada Elisa Carrió, conhecida como "a caçadora de corruptos", por sua constante denúncia de casos de corrupção, líder da Coalizão Cívica, de centro, que pretendia lançar sua pré-candidatura em janeiro, antecipou seus planos e também anunciou seu lançamento em dezembro.

O ex-presidente provisório Eduardo Duhalde (2002-2003) também apresentou sua pré-candidatura à presidência da República, pouco antes do Natal.

Duhalde, um dos líderes do Peronismo Federal, também denominado de "Peronismo dissidente", de oposição ao governo da presidente Cristina Kirchner, integra o setor do partido Justicialista (Peronista) que reúne os peronistas insatisfeitos com o governo Kirchner.

Dias antes de seu lançamento a presidente Cristina sugeriu que o ex-presidente estava por trás dos incidentes nas ocupações de terrenos na cidade de Buenos Aires e na Grande Buenos Aires por parte de favelados e sem-teto. Segundo ela, o Duhalde "apadrinhou" os incidentes. Duhalde retrucou: "há cinco anos tentam me culpar de tudo o que acontece no país".

O prefeito de Buenos Aires, Maurício Macri, do Proposta Republicana, de centro-direita, deu sinais a seus correligionários nos últimos dias de que não disputaria a presidência da República. Ele tentaria a reeleição da prefeitura portenha em 2011. No entanto, dias depois Macri - famoso por oscilar com frequência - mudou de ideia e anunciou que possui mais "vocação de presidente" do que de tentar uma reeleição para a prefeitura.

No entanto, todo este cenário poderia ser bastante alterado em caso de eventual retirada da candidatura da presidente Cristina (seus ministros a estão empurrando para a reeleição, mas ela ainda não se pronunciou sobre o caso). Os analistas destacam que será preciso avaliar como nos próximos meses pesará no lado emocional da presidente a ausência do defunto marido.

No caso de retirada da candidatura de Cristina especula-se no nome do governador de Buenos Aires, Daniel Scioli, como candidato do governo à presidência. Scioli, que já foi o vice de Néstor Kirchner, é encarado como um candidato que poderia gerar um retorno de diversos peronistas dissidentes. Uma espécie de nome de consenso que - sem gerar grande entusiasmo - seria útil para ocupar a presidência da República enquanto as forças peronistas se reacomodam e definem o surgimento de um novo caudilho.

Os analistas também destacam que o silêncio de Cristina sobre sua própria candidatura poderia ser uma estratégia para esperar uma época mais próxima às eleições para oficializar seu lançamento. Uma espécie de golpe de efeito para atordoar a oposição.

PRESIDENCIÁVEIS

CENTRO/CENTRO-ESQUERDA/com touchs de centro-direita

- Pelo partido Peronista, ou mais especificamente pela sub-legenda Frente para a Vitória

Cristina Kirchner

(e Daniel Scioli, caso a presidente Cristina não se apresente à reeleição)

CENTRO

- Pela União Cívica Radical (UCR)

Julio Cobos

Ricardo Alfonsín

Ernesto Sanz

- Pela Coalizão Cívica

Elisa Carrió

CENTRO-ESQUERDA

- Pelo Socialismo

Hermes Binner

CENTRO-DIREITA

- Pelo Peronismo dissidente

Eduardo Duhalde

Carlos Reutemann (embora semanas atrás, mais uma vez, disse que não seria candidato e afastou-se do Peronismo Federal ou 'dissidente')

Felipe Solá

Mario das Neves

 

- Pelo Proposta Republicana (Pro)

Maurício Macri 

ESQUERDA

- Pelo Projeto Sul

Fernando 'Pino' Solanas

Independentes (candidatos sem chance alguma de passar de 2% das intenções de voto, embora afirmem que serão candidatos)

- Carlos Menem

- Alberto Rodríguez Sáa

Começaremos por Elisa Carrió na 3afeira

Eduardo Duhalde será na 4afeira

Maurício Macri na 5afeira

Julio Cobos, Ricardo Alfonsín e Ernesto Sanz serão na 6afeira

Fernando 'Pino' Solanas e Hermes Binner no sábado

E Carlos Reutemann, Carlos Menem e outros peronistas dissidentes no domingo.

 

Em 2009 "Os Hermanos" recebeu o prêmio de melhor blog do Estadão (prêmio compartilhado com o blogueiro Gustavo Chacra).

 
 

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