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Os Hermanos

Turistas brasileiros já fazem parte da paisagem portenha

Por arielpalacios
Atualização:
  

Meu monumento preferido em Buenos Aires, o "Monumento a La Carta Magna y las Cuatro Regiones Argentinas" (Monumento à Carta Magna e as Quatro Regiões Argentinas), erroneamente chamado de "monumento dos espanhóis" ou "monumento aos espanhóis". Está na esquina das avenidas Libertador e Sarmiento.

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No topo do monumento está a estátua da República, e na base, além de uma reprodução do Preâmbulo da Constituição Nacional, há grandes esculturas que representam (e possuem os nomes embaixo) os Andes, o Prata, a Pampa e o Chaco.

A alusão à Espanha consiste em uma referência explícita (A Nação Argentina em seu primeiro centenário, por Espanha e seus filhos), além de outras indiretas ("Uno mismo, el idioma", "De una misma estirpe" e "Grandes sus destinos"). 

Leonardo Boto, secretário-executivo do Instituto Nacional de Promoção Turística afirmou que a Argentina é o lugar da primeira viagem ao exterior para 83% dos brasileiros que viajam fora do Brasil. "Esse já é um hábito da nova classe média do país", sustenta.

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Entre janeiro e setembro deste ano, do total dos 1,93 milhão de turistas que visitaram a Argentina, 646 mil eram provenientes do Brasil.

Os brasileiros transformaram-se no novo fenômeno do turismo no país, já que em décadas anteriores eram um grupo pequeno em relação a turistas provenientes de outras partes do mundo.

Na contra-mão, os argentinos possuem três décadas e meia de tradição de viagens constantes ao Brasil. Dados extraoficiais fornecidos por fontes diplomáticas ao Estado indicam que um terço de todos os argentinos "já esteve em algum momento de sua vida no Brasil".

 

Jorge Luis Borges e seu amigo Adolfo Bioy Casares gostavam de levar seus amigos à ponte Alsina. Meio na piada, meio a sério. Explicações (e mais detalhes sobre o turismo borgiano), aqui.

TEMPO E GASTO - Os turistas estrangeiros gastaram US$ 2,4 bilhões na Argentina entre janeiro e setembro, o equivalente a 31% a mais do que no mesmo período do ano passado.

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Os estrangeiros ficam em média 10,9 dias e gastam US$ 107,40 diariamente. Os europeus integram o grupo de turistas que costumam permanecer mais tempo no país - em média 22,3 dias - mas gastam somente US$ 74,80.

Na contra-mão, os brasileiros ficam menos tempo, em média 5,8 dias, mas gastam mais, já que desembolsam US$ 168, para alegria dos comerciantes de roupas de couro da rua Florida, das lojas de marcas nacionais e internacionais das avenidas Santa Fe e Alvear, além dos outlets da avenida Córdoba.

 

Detalhe das esculturas em cima do edifício do Congresso Nacional

ME DÊ DOIS 

O famoso "deme dos" que nos anos 90 - tempos da conversibilidade econômica da paridade um a um entre o peso e o dólar - os argentinos pronunciavam em todo o continente, desde Búzios até Miami, agora possuem uma versão em português, o "me dê dois". A frase está sendo aplicada intensamente em Buenos Aires, cidade que, por seu look europeu, jantares embalados com suculentas carnes e regados com vinho, e - especialmente - seus produtos baratos, tornou-se um ímã para os turistas brasileiros.

Segundo dados da Global Blue, empresa que tem a concessão da devolução do Imposto de Valor Agregado (IVA) das compras feitas pelos turistas estrangeiros na Argentina, os brasileiros estão consumindo de forma crescente em Buenos Aires. Os dados da empresa indicam que em setembro os brasileiros compraram 214% a mais do que no mesmo mês do ano passado.

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Do total de compras feitas por estrangeiros no país (e que vão atrás do sistema de devolução), os brasileiros são responsáveis por 45%.  Neste caso, os produtos Made in Argentina mais procurados são as roupas de couro (23% das compras), roupas para mulheres (16%) e calçados (11%). As roupas masculinas ficam em quarto lugar, com 9%. Vinhos e chocolates concentram 5% das compras.

Segundo o Instituto Nacional de Promoção Turística (Inprotur) do total de turistas brasileiros, 30,5% hospeda-se em hotéis de uma, duas e três estrelas. Outros 54,3% hospedam-se em hotéis de quatro e cinco estrelas. Do total, 7,9% ficam na casa de amigos e parentes.

O ministro do Turismo, Enrique Meyer, anunciou que em 2010 o país receberá um milhão de turistas brasileiros, marca que constituirá um recorde histórico na História argentina. Em 2009 um total de 500 mil brasileiros visitaram o país.

 

Pasaje Barolo, um marco sui generis da arquitetura em B.Aires. No entanto, pouco conhecido pelos turistas estrangeiros. Mais detalhes sobre esse delirante edifício, aqui.

TANGO - "Os brasileiros são geniais", exclama Pedro Mejías, vendedor de uma pequena loja de música na rua Guido. "Eles querem CDs de tango eletrônico e de Carlos Gardel, pois aqui custam de 35 pesos (US$ 8,16) para cima, mais baratos do que no Brasil", explica ao Estado. Depois, sorrindo, acrescenta: "volta e meia aparece algum brasileiro que pede CDs da Evita Perón. Aí tenho que explicar que Evita não era cantora e que 'Não chores por mim Argentina' não é tango nem canção argentina...".

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TÁXI - O taxista Juan Pablo Viggiano ressalta o predomínio de brasileiros entre os passageiros estrangeiros que transporta: "do total, devem ser uns 80%". Enquanto trafega pela avenida Mayo, em pleno centro, Juan Pablo afirma ao Estado que os brasileiros nem bem descem do avião querem logo ver outlets de roupa, shows de tango e restaurantes de carne argentina.

EMPANADAS - Em uma pizzaria localizada ao lado do cemitério da Recoleta, "point" inexorável de visita dos turistas, o garçom Pedro Gesualdi avaliou para o Estado o consumo gastronômico dos brasileiros: "eles adoram empanadas. Principalmente as de carne. E as roquefort, que para eles são uma novidade". Ao lado, sua colega Johanna Romero, acrescenta: "pois é, mas são meio complicados para deixar gorjetas. A gente precisa explicar que na Argentina, o tal dos 10% do Brasil não está incluído aqui".

DESCONTINHOS - "São muito simpáticos. Mas puxa! Como insistem com os 'descontchinhosh' (diz, imitando o sotaque carioca)!", reclama com ironia Shirley, a atendente de um quiosque a poucos metros da entrada do cemitério da Recoleta."Parece que lá estão acostumados a isso. Mas aqui, a gente não pode fazer descontos para o caso que alguém leve 8 ou 9 alfajores. Os preços na Argentina são fixos", explica ao Estado.

 

Buenos Aires em 1713. No lugar da Casa Rosada, a fortaleza de B.Aires. Na frente, a atual praça de Mayo. Marcada em vermelho, a rua Florida (na época do mapa, chamada de "calle de San José"). Essa via, embora decadente desde o início dos anos 90, continua atraindo milhares de turistas brasileiros.  Mas, desde o início desta década, os visitantes descobriram que existem outras áreas mais interessantes na cidade. No entanto, as agências de turismo (brasileiras e argentinas) ainda insistem em levar os turistas até ali.  Nesta semana colocaremos uma postagem sobre os poucos pontos que valem a pena ver nessa rua (e que ficam geralmente ignorados).

NO URUGUAI, BRASILEIROS DESLOCARAM TURISTAS ARGENTINOS - Os brasileiros também estão alterando a tradicional presença argentina em Punta del Este, balneário uruguaio que foi "point" argentino na região há mais de meio século. Segundo o Centro de Hotéis de Punta del Este, do total de turistas que foram neste fim de semana a Punta del Este, 40% eram brasileiros e 35% argentinos. Os restantes 25% eram uruguaios.

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No entanto, ao longo do ano, o predomínio ainda é de argentinos. Estes, que eram 80% do total há meia década atualmente constituem 60%. Os brasileiros, desde 2005, cresceram de 15% para 25% do total.

O presidente do Centro, Fernando Massa, afirma que esse fluxo "marca uma tendência que está se afirmando". Massa sustenta que os brasileiros estão visitando Punta del Este não somente nos feriadões, mas de forma persistente ao longo do ano.

 

Mafalda, a mais incisiva das menina-filósofa criada por Quino. É sine qua non ir à B.Aires e fazer uma foto com ela, em seu banquinho na esquina das ruas Chile e Defensa (foto de Ariel Palacios).

 
 

Em 2009 "Os Hermanos" recebeu o prêmio de melhor blog do Estadão (prêmio compartilhado com o blogueiro Gustavo Chacra).

 
 

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