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Os Hermanos

Uruguaios da 'diáspora' podem virar uma eleição

Rio da Prata. O Mar Doce, segundo seu descobridor, Solís. O rio "cor de leão", segundo Jorge Luis Borges. "El charco", isto é, "o charco", segundo o irônico humor que floresce há séculos em ambas margens. À direita, a Argentina. À esquerda, o Uruguai. Mihares de uruguaios que residem na Argentina atravessam o rio para votar no Uruguai

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Por arielpalacios
Atualização:

O contingente de uruguaios no exterior concentra-se principalmente na vizinha Argentina, onde reside um terço dos emigrados. Os outros espalham-se pelos Estados Unidos, Espanha, Austrália e Brasil.

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Nenhum outro país sul-americano possui tal proporção de cidadãos morando fora de suas fronteiras. "Todos as famílias uruguaias possuem um integrante que está morando fora do país", me disse o cientista político Gerardo Caetano.

Neste domingo estes uruguaios serão o pivô de um plebiscito que ocorrerá de forma simultânea à eleição presidencial e parlamentar do Uruguai.

Mais de 2,5 milhões de pessoas irão às urnas para definir se aprovam - ou não - o "voto epistolar". Essa é a denominação da possibilidade de - no exterior - votar nas eleições uruguaias por carta.

O voto do êxodo é costumeiramente de esquerda. Por esse motivo, a ideia do voto epistolar é defendida pelo governo do presidente Tabaré Vázquez, um socialista moderado que lidera a coalizão Frente Ampla, e seu candidato à sucessão presidencial, José 'Pepe' Mujica, um ex-guerrilheiro tupamaro.

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Em 2004, o voto do êxodo foi considerado crucial para a vitória de Vázquez, que conseguiu 50% mais um dos votos graças a 15 mil votos colocados nas urnas por uruguaios provenientes da Argentina, onde residiam.

No total, naquela ocasião, 20 mil uruguaios atravessaram a fronteira para votar. Neste ano, segundo as estimativas durante a semana passada, de 10 mil a 12 mil uruguaios que residem na Argentina desembarcariam neste fim de semana no Uruguai para votar. No entanto, cálculos realizados neste domingo de manhã indicavam que ao redor de 22 mil pessoas haviam atravessado a fronteira.

O governo da presidente Cristina Kirchner, que manteve uma tensa relação com o presidente Tabaré Vázquez, possui uma relação cordial com Mujica.

Mas, para evitar uma eventual vitória da oposição conservadora, representada por Lacalle, um crítico do governo Kirchner, a presidente Cristina decretou dois dias de feriado para os uruguaios que trabalham nas repartições públicas argentinas, de forma que possam viajar ao Uruguai para votar.

"No entanto, nem todos os uruguaios possuem dinheiro para fazer uma viagem para votar. Por isso defendemos o direito ao voto por carta, para que seja enviado desde o exterior, seja lá onde um compatriota nosso esteja morando", me disse a senadora Lucía Topolansky, líder da esquerda e esposa do candidato 'Pepe' Mujica, durante entrevista no quartel-general de seu grupo, o Movimento de Participação Popular (MPP), que integra a Frente Ampla.

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No entanto, o "voto epistolar" é criticado pelos candidatos da oposição, o ex-presidente Luis Alberto Lacalle (1990-95), do partido Nacional (Blanco) e Pedro Bordaberry, do partido Colorado.

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"Não concordo com o voto epistolar, o considero um absurdo" disse ao Estado o ex-presidente e atual senador da oposição, Julio María Sanguinetti, do partido Colorado, em sua casa no bairro de Punta Carretas. "Alguém que mora fora do país há muito tempo não vota pensando no Uruguai. Essa pessoa está com a mente lá no país onde mora".

Por seu volume, os uruguaios do êxodo são objeto de interesse dos partidos políticos, que ficam de olho nos votos que podem propiciar, pois seu volume possuem a capacidade de alterar o resultado de uma eleição presidencial.

Por esse motivo, em época de campanha eleitoral, é sine qua non a visita à Buenos Aires, do outro lado do Rio da Prata.

A capital argentina, a maior "cidade uruguaia" fora do Uruguai (calcula-se que pelo menos 150 mil uruguaios residiriam na capital argentina e sua area metropolitana) está a apenas 25 minutos em avião de Montevidéu (ou três horas em ferry boat).

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Só a crise econômica de 2002 foi a responsável pela partida de 100 mil uruguaios. Na época, a pobreza alcanou níveis recorde, atingindo um terço dos habitantes do país.

Em 2008, os uruguaios que residem fora do país, enviaram US$ 200 milhões a seus parentes no Uruguai.

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