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Mundo em Desalinho

A maratona da pirataria

Por claudiatrevisan
Atualização:

A maior concentração de atletas em Pequim não está nas quadras, mas no Mercado da Seda, o principal endereço da conceituada pirataria chinesa, que atrai delegações olímpicas, presidentes, primeiras-damas, ministros e até George Bush pai, para horror das empresas norte-americanas que reclamam da falsificação de seus produtos. Localizado na principal avenida de Pequim, o Mercado da Seda é uma espécie de camelódromo vertical, distribuído em seis andares onde é possível encontrar tênis, bolsas, malas, roupas esportivas, ternos, camisas, gravatas, sapatos e relógios, nos quais estão estampadas todas as grifes internacionais _de Nike a Rolex. A seda que dá nome ao lugar ocupa um acanhado espaço no quinto andar e está longe de receber o número de compradores que vão atrás das marcas famosas com preços de camelôs. Ônibus de turistas estacionam de maneira ininterrupta diante do edifício envidraçado inaugurado em 2005. Na frente da entrada principal, há um lugar reservado para o desembarque de atletas, dirigentes de delegações e autoridades, demarcado com placas nas quais está escrito "Olympic VIP Car Park". Os VIPs chegam em Audis pretos identificados com o logotipo da Olimpíada de Pequim e dois guardas se encarregam de manter a ordem no movimento incessante de carros e ônibus. Pessoas do mundo todo se acotovelam nos estreitos corredores e enfrentam a barganha com as persistentes e poliglotas vendedoras chinesas, que falam um pouco de inglês, russo, espanhol, alemão, francês e outras línguas aprendidas nas extenuantes negociações. Os preços começam na estratosfera e podem cair a patamares ridículos se os compradores tiverem paciência e habilidade. Gravatas Ermenegildo Zegna saem por 15 yuans (menos de R$ 4), ternos Armani são arrematados por 300 yuans (R$ 70) e é possível levar bolsas Gucci a 80 yuans (quase R$ 20). Na semana passada, o ministro dos Esportes do Sudão, Albino Akol, experimentava um terno em uma das barracas do primeiro andar. O Mercado da Seda não tem provadores e as roupas têm que ser colocadas por cima de outras roupas, enquanto o tamanho das calças é decidido com a utilização de fitas métricas. Se insistir muito, o cliente pode convencer os vendedores a improvisarem um provador com a utilização de um lençol, mas a privacidade é quase inexistente. "Os preços são muito bons", disse Akol ao Estadão. Chacoalhado por um conflito na região de Darfur que já deixou 300 mil mortos desde 2003 e dirigido por um governo acusado de genocídio pela comunidade internacional, O Sudão enviou uma delegação de nove atletas a Pequim. No segundo andar do Mercado da Seda, três atletas russos que não quiseram se identificar provavam camisetas, enquanto integrantes da delegação argentina passavam pelo corredor. Na barraca ao lado, quatro turistas alemãs tentavam baixar o preço de casacos e dois suecos decidiam o que mais iriam comprar, depois de terem pago um total de 750 yuans (R$ 176) em 5 jaquetas de inverno e 640 yuans (R$ 150) por 16 camisas. "Eu não estava preparado para isso", disse Pelle Bgorkin, que viajou pela primeira vez a Pequim com o amigo Bengt Olov para assistir às competições de luta livre e estava exausto depois da maratona de barganhas com as chinesas. A trilha sonora do lugar é dada pelas frases de vendedoras e compradores envolvidos na negociação de preços, feita quase sempre em inglês, com a ajuda de uma calculadora. "Você está brincando!", "Então, você diz o seu preço", "Amigo, este produto é de boa qualidade!", "Qual o seu melhor preço?" e assim por diante. Cifras que começam em 3.000 yuans podem facilmente cair para 150 yuans. O Mercado da Seda viveu seu dia de glória na semana passada, com a visita do ex-presidente norte-americano George Bush. Segundo reportagem publicada no jornal oficial "China Daily", Bush pai gastou 1.800 yuans (R$ 424) na compra de seis robes de seda, um dos poucos produtos legítimos à venda no lugar.

A seguir as imagens do excelente fotógrafo NILTON FUKUDA

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