Com o fim do anonimato, muitas pessoas temem ser alvo de retaliações, já que serão obrigadas a se identificar e dar seus nomes verdadeiros. Wang Chen, ministro do Escritório de Informação do Conselho de Estado, afirmou em declarações divulgadas na segunda-feira que os grandes portais chineses já concordaram com a determinação e começaram a exigir identificação dos usuários que deixam comentários online.
Milhões de chineses participam diariamente de fóruns de discussão na internet e muitos adotam posições críticas ao governo, protegidos até agora pelo anonimato dado pela rede de computadores.
Vários internautas atacaram a medida em comentários deixados nos portais chineses. O tom da maioria deles foi resumido em um texto colocado no nfdaily.cn, que ainda permitia o anonimato ontem: "Quem vai proteger a liberdade de expressão dos internautas? Como será resolvida a questão de algumas pessoas usarem seu poder para se vingar de internautas que reportam problemas? Como os internautas vão se atrever a denunciar problemas com seu nome real se a sua liberdade de expressão não é garantida?".
Segundo Wang, o fim do anonimato também deve ser aplicado aos 233 milhões de chineses que usam seus celulares para acessar a internet.
Ao mesmo tempo em que amplia o número de usuários da rede, a China intensifica o controle sobre a informação, por meio da censura a temas considerados "sensíveis".
Wang afirmou que o governo irá aumentar a prevenção contra o acesso a "informações perniciosas" colocadas na internet por "forças hostis" a partir do exterior.
O ministro não especificou a quais "forças hostis" ele se referia, mas o governo chinês bloqueia o acesso a milhares de sites que considera "separatistas" ou "subversivos", entre os quais estão os ligados ao dalai lama, a exilados uigures, à seita falun gong (banida nos anos 90) e a movimentos que pedem reformas democráticas dentro do país.
As autoridades de Pequim intensificaram o controle sobre a internet depois dos conflitos ocorridos no Tibete em março de 2008 e, nas últimas semanas, anunciaram medidas adicionais de restrição do conteúdo online.
Na quinta-feira, o Comitê Permanente do Congresso Nacional do Povo aprovou legislação que obriga provedores de internet e de serviços de telecomunicações a colaborarem com a polícia e autoridades governamentais em investigações relativas a vazamento de "segredos de Estado", um conceito vago o bastante para incluir qualquer atividade que Pequim veja como suspeita.
As novas regras também delegam às empresas de telecomunicações a responsabilidade de interromper a transmissão de possíveis segredos de Estado e de comunicar às autoridades eventuais suspeitas. Elas também devem manter registros de transmissões e deletar informações por determinação do governo.
Em agosto de 2009, as autoridades abandonaram o controvertido plano de exigir que todos os computadores vendidos no país tivessem um software que bloquearia acesso a conteúdo pornográfico, violento e politicamente sensível. O projeto foi recebido por uma onda de críticas dentro e fora da China e o governo foi obrigado a recuar.
O aumento da censura e do controle sobre as empresas de internet foi um dos argumentos apresentados pelo Google para justificar sua decisão de transferir seu site de buscas em chinês para Hong Kong. A região que retornou ao domínio chinês em 1997, mas durante 50 anos irá manter as regras que vigoravam no período de colonização britânica, entre as quais está a liberdade de expressão.