Desde o dia 22 de outubro, ocorreram pelo menos cinco manifestações nas ruas de Xangai promovidas por compradores que viram o valor das residências que compraram pouco meses antes cair de maneira abrupta com as novas promoções. Em uma delas, cerca de 400 pessoas carregando faixas invadiram e danificaram um dos showrooms da China Overseas Holdings, que oferecia apartamentos por um quarto a menos do que eles haviam pago no ano passado.
O mercado imobiliário é uma opção de investimentos para muitos chineses, que perdem dinheiro se deixarem sua poupança no banco e não têm à disposição aplicações lucrativas e seguras. A taxa de juros sobre os depósitos é de 3,5% ao ano, insuficiente até para repor a inflação, que caiu para 5,5% no mês passado. Em queda desde o ano passado e com uma histórica volatilidade, o mercado acionário é visto com desconfiança por famílias chinesas. Nesse cenário, a compra de um imóvel era considerada uma opção segura e extremamente lucrativa de investimento, especialmente diante da expectativa de que os valores continuariam a subir de maneira indefinida.
A crescente especulação imobiliária levou os preços a patamares irreais, que transformaram o sonho da casa própria em algo inalcançável para grande parte da população. A persistente alta também envolveu o setor em uma bolha cada vez mais inflada, que o governo decidiu conter com medidas restritivas, entre as quais o aumento do valor que deve ser pago à vista na compra de uma residência. Mas a operação é extremamente delicada, já que o setor imobiliário responde por 25% do investimento do país e tem sido um dos mais potentes motores do crescimento chinês. Se a atividade de construção sofrer uma retração abrupta, isso terá consequências negativas sobre a expansão do PIB e aumentará o risco de um pouso forçado da segunda maior economia do mundo.
Para o Brasil, a performance do segmento é fundamental. A construção de residências absorve cerca de 20% da demanda de aço do país, que usa como matéria-prima o minério de ferro, principal item da pauta de exportação brasileira, cujo maior comprador é a China. No período de janeiro a setembro, o país asiático importou do Brasil US$ 14,48 bilhões em minério de ferro, quase metade dos embarques totais do produto, de US$ 30,68 bilhões, e 71,15% acima do que foi vendido nos primeiros nove meses de 2010.
"O problema de compradores insatisfeitos com os descontos nos imóveis é generalizado", disse ao Estado Liu Weiwei, do Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento E-house China, baseado em Xangai. "Com a redução nos preços, os compradores antigos perderam milhares de yuans e muitos se sentem enganados pelos empreendedores."
No conjunto residencial Longhu Licheng, de Xangai, o preço do metro quadrado estava em 18.500 yuans (R$ 5.180) no começo de 2010, valor que caiu para 14.000 (R$ 3.920) atualmente. Quem comprou um apartamento de 100 metros quadrados naquela época viu o valor da propriedade diminuir 450 mil yuans (R$ 126 mil) em menos de dois anos. A queda de preços só começou em meados de 2011 e se acelerou nas últimas semanas, em razão das dificuldades financeiras enfrentadas por grande parte dos empreendedores imobiliários, sufocados pelas medidas de contenção de crédito adotadas pelo governo para conter a inflação e desinflar a bolha imobiliária.
Chen Shen, do instituto China Index Academy, disse que as vendas em outubro diminuíram 20% em média na China em relação ao mês anterior. Na semana passada, o volume de operações na cidade de Pequim registrou queda de 40% na comparação com a semana anterior. Em Xangai, a retração foi de 26%. No fim de outubro, o primeiro-ministro Wen Jiabao afirmou que o governo manteria as restrições ao setor: "Nosso objetivo é fazer com que os preços voltem a patamar razoáveis".