Em uma indicação de que pretende manter o engajamento com o Brasil apesar da troca de governo, os Estados Unidos anunciaram ontem a primeira visita ao país de uma autoridade da administração Barack Obama desde a posse do presidente interino Michel Temer.
Responsável pelas Américas no Departamento de Estado, Mari Carmen Aponte estará em São Paulo na quinta-feira e irá à Brasília no dia seguinte. A viagem foi antecipada pelo Estado em sua edição de sexta-feira.
De acordo com a nota do Departamento de Estado, Aponte discutirá a atual cooperação entre os países em questões regionais e globais. O texto não faz menção explícita à Venezuela, mas a situação do país caribenho será um dos principais pontos das conversas que a diplomata terá no Itamaraty. A pauta abrangerá ainda o combate à zika e as Olimpíadas e Paraolimpíadas.
"A cooperação dos Estados Unidos é com o Estado brasileiro e quem decide quem é o governo são os brasileiros, com base nas instituições vigentes", disse Paulo Sotero, presidente do Brazil Institute do Wilson Center. Mas ele observou que existe um "cálculo político" na decisão, que é a avaliação de que é baixa a probabilidade de que a presidente afastada Dilma Rousseff volte ao poder. "Essa é a visão da maioria dos analistas e do próprio PT."
Segundo ele, a visita também terá o objetivo de avaliar a situação brasileira e definir a cooperação com os atuais quadros da administração Temer. "Os Estados Unidos têm interesse em ter boas relações com o Brasil qualquer que seja o governo", observou Sotero.
Antes de Brasília, Aponte passará por São Paulo para encontros com o setor privado, acadêmicos e dirigentes de organizações não-governamentais. O objetivo das reuniões, de acordo com o Departamento de Estado, é promover a cooperação nas áreas de comércio, infraestrutura, energia renovável, mudança climática e aviação.
O relacionamento entre os EUA e o Brasil passou por uma crise em 2013, quando a então presidente Dilma Rousseff cancelou visita de Estado que faria a Washington em protesto contra a revelação de que a Agência de Segurança Nacional (NSA) havia monitorado suas comunicações. Superada a turbulência, Dilma visitou o país no ano passado.
Os EUA vinham mantendo uma posição cautelosa em relação ao impeachment, em declarações genéricas que se referiam ao funcionamento das instituições brasileira e a confiança de que a crise seria superada. Na semana passada, o representante dos EUA na Organização dos Estados Americanos (OEA), Michael Fitzpatrick, deu um passo além e rejeitou a tese de que o afastamento de Dilma representou um "golpe".