Agressividade e medo de triunfo rival dominam final de campanha americana

Corrida presidencial nos EUA chega a últimos dias com grau inédito de hostilidade; democratas têm pânico da possibilidade de vitória de homem que veem como racista; republicanos rejeitam ideia de ter na Casa Branca mulher que consideram delinquente

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Por Redação Internacional
Atualização:

Cláudia TrevisanENVIADA ESPECIAL / JACKSONVILLE, EUA

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Padma Rajan tornou-se cidadã americana ao trocar a Índia pelos EUA em 1985. Desde então, passou pelos governos de Bush pai e filho, mas diz que nenhum republicano que disputou a presidência despertou o temor que ela sente em relação a Donald Trump. "Ele é imprevisível, um pouco louco e insulta um grupo depois do outro." Como grande parte dos que integram minorias raciais, ela votará em Hillary Clinton na terça-feira.

Para Justin Clinton, branco e integrante da Marinha, é a vitória da democrata que é assustadora. "Ela não é nada menos do que uma criminosa e não é o modelo que eu quero para meu filho de 8 anos", disse o seguidor de Trump.

Hillary tenta conter possíveis danos à sua campanha após FBI reabrir investigação por uso de e-mail privado; Trump intensificou seus ataques contra a democrata ( Foto: AFP PHOTO / Paul J. Richards)

A mais agressiva campanha da história recente dos EUA chega ao fim com um grau inédito de hostilidade entre os eleitores dos dois lados do espectro político. Os seguidores de Hillary sentem pânico diante da possibilidade de vitória de um homem que veem como racista, xenófobo e misógino. Os que votam em Trump rejeitam a ideia de ter na Casa Branca uma mulher que consideram delinquente.

"A temperatura emocional nos EUA está muito mais elevada do que em qualquer eleição de que eu me lembre", afirmou o neurocientista Sam Wang, fundador do Princeton Election Consortium, uma iniciativa da Universidade de Princeton que faz análises e projeções da disputa presidencial.

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O abandono do politicamente correto, as ofensas generalizadas e os comentários degradantes em relação às mulheres, fazem de Trump um candidato especialmente difícil para os democratas. Pesquisa divulgada pelo New York Times na quinta-feira mostrou que 51% dos seguidores de Hillary têm uma imagem menos favorável de pessoas quando descobrem que são eleitoras do bilionário. O inverso é verdadeiro para 31% dos que votarão no republicano.

"Eu odeio Trump e não quero que ele represente meu país", disse a estudante Bryttani Vance. "Se ele ganhar, vou chorar." A também estudante Krysten Payne tem sentimentos semelhantes. "Ele é a favor de tudo que o que combato". Filha de pais hondurenhos, Leticia Castro sentiu de maneira pessoal as agressões do candidato a imigrantes. "Eu o odeio e acho que ele seria uma desgraça para o país."

Ameaças. Em algo inédito na política moderna americana, Trump declarou no segundo debate presidencial que colocaria a adversária na cadeia caso fosse eleito, o que foi criticado por representantes dos dois lados do espectro político pelo caráter não democrático. Hillary nunca foi acusada de crimes, mas investigações realizadas pela maioria republicana no Congresso e o FBI deram origem ao mais popular grito de guerra dos seguidores de Trump: "Prendam-na!".

O bordão ganhou fôlego 11 dias antes da eleição, quando o FBI anunciou ter descoberto novos e-mails que podem estar relacionados à investigação sobre o uso de um servidor privado de mensagens durante a passagem de Hillary pelo Departamento de Estado. O caso foi encerrado em julho com a conclusão de que não houve comprometimento de informações confidenciais do governo.

Imagens da democrata vestida de presidiária ou atrás das grades aparecem em camisetas e cartazes da campanha de Trump e acusações vagas de práticas delituosas marcam as declarações de seus seguidores. Em julho, um deputado estadual do partido disse que a candidata deveria ser "fuzilada por traição", o que levou à abertura de uma investigação pelo serviço secreto americano.

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"Se ela ganhar, não ficará no governo muito tempo, porque será colocada na cadeia", disse Henry Allen, um eleitor de Trump que usava uma fantasia de presidiário com a inscrição "prisioneira Hillary" em um comício do republicano na Flórida, na quinta-feira.

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Instabilidade. A hostilidade dos republicanos em relação à democrata pode influenciar o cenário pós-eleição caso ela saia vitoriosa. Em outro fato inédito na política moderna americana, Trump insinuou que a votação poderá ser fraudada e não se comprometeu a reconhecer o resultado das urnas.

Aliada à caracterização de Hillary como criminosa, a declaração deu vazão a teorias conspiratórias de seus seguidores. "Como saberemos se ela não roubou a eleição?", perguntou Michelle Good, namorada do marine Clinton. Segundo pesquisa do New York Times divulgada quinta-feira, 42% dos eleitores do republicano creem que fraudes ocorram com frequência nas eleições americanas. Entre os seguidores de Hillary, o porcentual é de 7%.

Veja abaixo: "Vocês podem sair das sombras", diz Obama em discurso para imigrantes

A atual campanha aprofundou divisões da sociedade americana e criou novas cisões de gênero e nível educacional. As pesquisas indicam que homens e mulheres se distanciarão como nunca em suas opções pelos candidatos que disputam a Casa Branca. Levantamento do New York Times divulgado quinta-feira mostrou que 50% das mulheres pretendem votar em Hillary e apenas 36% no republicano. Entre os homens, os índices são quase invertidos: 38% a 49% a favor do bilionário.

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Trump também deverá levar o Partido Republicano a amargar sua primeira derrota em seis décadas entre eleitores brancos com ensino superior, que preferem a democrata em uma proporção de 48% a 41%. Entre os brancos que cursaram até o segundo grau, Trump lidera com 55% a 30%.

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