Daniel W. Drezner*Washington Post
No fim de semana, foi considerável o número de comentários comparando a cobertura jornalística das supostas irregularidades de Hillary Clinton envolvendo a Fundação Clinton e as irregularidades confirmadas de Donald Trump envolvendo a Fundação Trump, seus negócios e sua campanha.
Defensores de Trump queixam-se de parcialidade. Mas as reportagens sobre a Fundação Clinton (diferentemente do caso dos e-mails de Hillary no Departamento de Estado) não trazem nada de perturbador. Temos o seguinte:
- A Associated Press indica que as reuniões de Hillary com funcionários do governo não pertencentes ao Departamento de Estado foram parciais, beneficiando doadores da Fundação Clinton.
- O New York Times publicou uma reportagem com a manchete "E-mails trazem novas dúvidas em relação a elos da Fundação Clinton com o Departamento de Estado", indicando que Huma Abedin, auxiliar de Hillary, teria tentado obter para um assessor da Fundação Clinton um passaporte diplomático para viagem à Coreia do Norte. Mas o problema, como destacado pela Vox, é que o passaporte jamais foi emitido. Assim, a dúvida foi respondida, e a resposta foi, "nada de ilícito ocorreu".
Sinceramente, as mais recentes reportagens a respeito da Fundação Clinton são pastéis de vento. Entretanto, isso não impediu a imprensa de escrever sobre o tema, indicando que se trata de um problema para Hillary, e opinando que ela deveria se afastar da filantropia.
Pensemos agora em Donald Trump. Eis algumas reportagens abordando possíveis conflitos de interesse e escândalos de corrupção envolvendo o candidato nas semanas mais recentes:
- A AP informou o surgimento de um acordo com o governador do Texas, Greg Abbott, em 2010, quando este era procurador-geral do Texas e decidiu arquivar uma investigação da Universidade Trump. Um ex-funcionário do governo do Texas disse ter recebido orientação para abandonar o caso por "motivos políticos", de acordo com a CBS.
Acredito que as reportagens sobre Hillary ecoam mais alto do que as sobre Trump. Um exemplo disso é que as reportagens sobre Hillary são reprisadas na TV a cabo, mas as de Trump, não.
*É PROFESSOR DE POLÍTICA INTERNACIONAL