Chefe de campanha de Trump renuncia após denúncia e queda nas pesquisas

Manafort, que vem sendo questionado por sua atuação como lobista de políticos ucranianos apoiados por Moscou, tinha sido rebaixado havia uma semana pelo magnata; relações do assessor com líder pró-Rússia davam munição a democratas

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Por Redação Internacional
Atualização:

Cláudia TrevisanCORRESPONDENTE / WASHINGTON

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O operador político Paul Manafort deixou ontem o comando da campanha de Donald Trump, em mais um sinal das dificuldades enfrentadas pela candidatura do republicano à presidência dos EUA. Além de o bilionário ter sofrido queda nas pesquisas de opinião, Manafort é alvo de questionamentos sobre sua atuação como lobista de políticos ucranianos apoiados pelo governo russo.

Sua saída ocorreu dois dias após Trump anunciar a nomeação, como chefe executivo de sua campanha, de Stephen Bannon, comandante de um site de notícias de extrema direita. A escolha parecia contradizer esforços de Manafort de levar o candidato a adotar uma posição "presidencial" e disciplinada em suas aparições públicas.

Paul Manafort, chefe de campanha de Donald Trump, pediu demissão durante eleição Foto: Eric Thayer/The New York Times

Mas o bilionário também contratou a especialista em pesquisas de opinião Kellyanne Conway, que tem um estilo mais contido que o de Bannon. A imprensa americana atribuiu a ela o tom do discurso feito por Trump na noite de quinta-feira, no qual ele disse pela primeira vez que estava arrependido de ter feito declarações que podem ter atingido outras pessoas.

O republicano não se referiu de maneira específica a nenhum episódio, mas o confronto que teve no fim de julho com os pais de um soldado muçulmano morto no Iraque é apontado como uma das razões de sua queda nas pesquisas de opinião. O bilionário leu as declarações de quinta-feira em um teleprompter e adotou uma posição mais conciliadora do que a que marcou grande parte de sua campanha até agora.

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Os laços de Manafort com o ex-presidente ucraniano Victor Yanukovich também se transformaram em um obstáculo para sua permanência na campanha. Derrubado em uma rebelião popular em 2014, Yanukovich é apoiado pelo presidente russo, Vladimir Putin, e vive exilado em Moscou. A relação dava munição aos democratas que criticam Trump em razão de suas declarações amigáveis com relação ao presidente russo.

Segundo reportagem divulgada ontem pela agência Associated Press, Manafort tentou encobrir sua atuação como lobista de Yanukovich e seus aliados políticos nos EUA. Segundo o Ato sobre Registro de Agentes Estrangeiros, todos os lobistas que defendem interesses de estrangeiros no país devem informar essa atuação ao Departamento de Justiça, o que não teria sido feito por Manafort.

Há uma semana, o New York Times revelou que registros financeiros de políticos ligados a Yanukovich apontavam o pagamento em dinheiro de US$ 12 milhões ao ex-assessor de Trump, que nega ser beneficiário dos recursos. "Acho que meu pai não queria estar distraído por qualquer das questões com as quais Paul estava lidando", disse Eric, um dos filhos do bilionário, à Fox News, em entrevista que será transmitida no domingo e teve trechos divulgados ontem.

Durante a convenção republicana, representantes da campanha de Trump atuaram para retirar do programa do partido a previsão de entrega de armas ao governo da Ucrânia para a defesa contra grupos de oposição apoiados pela Rússia.

Trump também deu declarações que se alinham com posições de Putin. Entre elas, a de que poderia considerar reconhecer a anexação da Crimeia pela Rússia, algo rejeitado pelo atual governo. A incógnita agora é saber qual face de Trump prevalecerá na campanha eleitoral. Bannon, comandante do site Breitbart, tem uma posição tão belicosa quanto a do candidato e um forte discurso anti-imigrante e anti-muçulmano.

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