Desprezo de Trump pela imprensa ameaça instalar-se na Casa Branca e causa inquietação nos EUA

Mesmo após vencer eleições, republicano acusou jornalistas de encorajarem protestos contra o resultado, e ainda não concedeu entrevista coletiva para explicar nomeação polêmica para o cargo de estrategista principal de seu governo

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Por Redação Internacional
Atualização:

WASHINGTON - Após sua vitória nas eleições dos EUA, o presidente eleito, Donald Trump, segue conservando um velho hábito: um desprezo pela imprensa que ameaça instalar-se na Casa Branca e provoca inquietação no país.

O magnata qualificou os veículos de comunicação (aqueles que fazem críticas a ele) de "desonestos", "repugnantes" e "lixo" nos comícios de sua incendiária campanha política, mas o triunfo nas urnas não serviu de para silenciar os tambores de guerra.

Presidente eleito dos EUA, Donald Trump ( Foto: REUTERS/Jonathan Ernst)

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Apenas dois dias após vencer a democrata Hillary Clinton no dia 8 de novembro, o magnata voltou a atacar os jornalistas, aos quais acusou de encorajar os protestos contra o resultado eleitoral que sacudiram as ruas de várias cidades americanas.

"Acabamos de ter eleições presidenciais muito abertas e bem-sucedidas. Agora, manifestantes profissionais, incitados pelos veículos de comunicação, estão protestando. Muito injusto!", escreveu Trump em sua conta no Twitter.

No dia seguinte, em sua primeira entrevista a uma emissora de televisão como presidente eleito para a conhecida jornalista Lesley Stahl, da CBS, o republicano menosprezou os veículos de comunicação. "Acho que a imprensa demonstrou que é muito mais frágil do que as pessoas pensam. Ninguém foi tão golpeado pela imprensa como eu. E aqui estou", disse a Stahl. Trump chegou a negar credenciais de imprensa para seus atos de campanha a veículos de comunicação respeitados como o portal Politico e o jornal The Washington Post.

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Na quarta-feira, ele voltou a usar o Twitter para criticar o jornal The New York Times, ao qual acusou de publicar notícias "totalmente falsas" sobre o processo de transição na Casa Branca, que o jornal descreveu como "caótico" por desacordos e demissões na equipe.

"The New York Times está realmente incomodado por parecer tolo na cobertura que faz sobre mim", acrescentou o magnata, que no domingo declarou que a publicação perdia "milhares de assinantes" por sua "cobertura muito pobre e inexata do fenômeno Trump".

Além de seus atritos contra o chamado "quarto poder", o bilionário causou mal-estar por impedir que os jornalistas viajassem com ele enquanto se deslocava de Nova York a Washington na quinta-feira para se reunir com o atual presidente Barack Obama. Trump violou assim uma tradição arraigada no país, segundo a qual um grupo de repórteres acompanha em suas viagens tanto o presidente como seu sucessor eleitor.

"Isso é inaceitável. Alguém precisa regulá-lo", declarou Wolf Blitzer, ex-correspondente da Casa Branca. O presidente da Associação de Correspondentes da Casa Blanca, Jeff Mason, comentou que "essa decisão poderia deixar os americanos cegos sobre o paradeiro e bem-estar (do magnata) no caso de uma crise nacional".

Diante da avalanche de críticas, Hope Hicks, porta-voz de Trump, emitiu um comunicado: "Esperamos operar um grupo tradicional e desejamos desenvolver nossos planos em um futuro próximo".

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A equipe de transição do empresário também não divulga sua agenda diária, como ocorreu em transferências presidenciais anteriores, para desgosto do pequeno grupo de jornalistas que tenta cobrir na Trump Tower de Nova York as contínuas idas e vindas de pessoas de confiança do milionário para montar seu gabinete.

Veja abaixo: Novos protestos contra Trump nos EUA

"Não temos um grupo formal. Isso mudará. Um dos objetivos é melhorar a comunicação", disse Jason Miller, porta-voz da equipe de transição. Ele se referiu à saída do magnata e sua família, sem dizer falar com os jornalistas, na terça-feira à noite para jantar no exclusivo restaurante 21 Club, próximo ao arranha-céu da Trump Tower e que teve como convidados vários ex-presidentes americanos.

Oito dias após as eleições, o empresário não concedeu uma entrevista coletiva para dar explicações sobre questões como a nomeação polêmica de Steve Bannon, criticado por seus comentários racistas e misóginos, como estrategista principal de seu governo.

No entanto, Trump, que durante a campanha defendeu o endurecimento de leis para processar repórteres que "deliberadamente" escrevam "artigos negativos, horríveis e falsos", concedeu sua última entrevista coletiva no dia 27 de julho e, por enquanto, sua equipe de transição não anunciou planos para a próxima.

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Segundo pôde comprovar Stahl em sua conversa com o empresário, o "rancor (de Trump) contra a imprensa é total, vivo e profundo", mesmo após sua vitória nas eleições. / EFE

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