Cláudia TrevisanCORRESPONDENTE / WASHINGTON
A candidata democrata à presidência dos EUA, Hillary Clinton, enfrenta questionamentos sobre a influência da Fundação Clinton no Departamento de Estado durante os quatro anos em que ela comandou a diplomacia americana. Levantamento da Associated Press mostra que metade das pessoas do setor privado recebidas pela ex-secretária fizeram doações diretas ou indiretas à entidade filantrópica da família.
Além disso, e-mails divulgados na segunda-feira revelaram que Doug Band, executivo da Fundação Clinton, apresentou uma série de pedidos de contribuintes da instituição à assessora de Hillary, Huma Abedin, no período em que a candidata estava no Departamento de Estado. Grande parte deles, solicitações de encontros com a secretária ou integrantes do corpo diplomático dos EUA.
A relação entre a Fundação Clinton e a gestão de Hillary deu munição ao candidato republicano, Donald Trump, que defendeu a nomeação de um procurador especial para investigar a questão. "Os Clintons transformaram o Departamento de Estado no mesmo tipo de operação pague-para-jogar que funcionava no governo de Arkansas: pague à Fundação Clinton enormes somas de dinheiro e dê grandes comissões por discursos de Bill Clinton que você joga com o Departamento de Estado", afirmou o republicano, referindo-se ao Estado que foi governado por Clinton.
Na segunda-feira, Trump havia afirmado que a instituição filantrópica é o "mais corrupto empreendimento da histórica política" dos EUA e defendeu seu fechamento. No mesmo dia, Clinton disse que a entidade deixará de receber doações do exterior caso sua mulher seja eleita presidente. "Se Hillary for eleita presidente, o trabalho, o financiamento e a atuação global da fundação e minha atuação nela apresentarão questões que terão de ser resolvidas", afirmou o ex-presidente, ressaltando o potencial conflito de interesses entre a presença de sua mulher na Casa Branca e a instituição.
Governos estrangeiros estão entre os principais doadores da entidade, criada depois que Clinton deixou a presidência dos EUA. Republicanos sustentam que o possível conflito de interesses apontado por Clinton já estava presente quando Hillary assumiu o Departamento de Estado, em 2009.
Até agora, não há nenhum indício de que decisões da ex-secretária tenham sido influenciadas por contribuições à fundação. Mas os e-mails e a análise do calendário de encontros de Hillary feita pela Associated Press indicam que os doadores tinham acesso ao Departamento durante a gestão dela.
Uma das mensagens mostra que Band, executivo da Fundação Clinton, pediu ajuda de Abedin para obter um encontro entre Hillary e o príncipe Salman, do Bahrein. A assessora da então secretária respondeu que a solicitação já tinha sido feita pelos canais regulares do Departamento de Estado e dependia da disposição de Hillary. Dois dias depois, Abedin enviou um e-mail a Band confirmando o encontro, ressaltando que a resposta também havia sido encaminhada à assessoria do príncipe pelos "canais regulares".
A atuação da Fundação Clinton e a manutenção de um servidor privado de internet durante a gestão no Departamento de Estado são as principais debilidades da candidata democrata. Praticamente dois terços dos eleitores americanos dizem não confiar em Hillary.