Redação Internacional
26 de setembro de 2016 | 22h46
Cláudia Trevisan
Correspondente / Washington
No primeiro debate da eleição presidencial americana, a democrata Hillary Clinton e o republicano Donald Trump trocaram ofensas e apresentaram visões conflitantes sobre economia, impostos, controle de armas, terrorismo, gênero e tensão racial, uma semana depois que protestos ocorreram nos EUA em reação à morte de dois negros por policiais brancos.
Mas a principal questão da noite era qual dos dois tem o perfil adequado para comandar a maior economia do mundo e ter controle sobre o código nuclear da principal potência militar do planeta. Vestida de vermelho, manteve um tom calmo e controlado durante o embate, mas deixou Trump na defensiva logo no início. A democrata lembrou da origem privilegiada do adversário e o acusou de ser racista, sexista e despreparado para ocupar a Casa Branca. Também disse que suas propostas econômicas provocariam uma nova recessão e atacou por não divulgar sua declaração de Imposto de Renda (IR), contrariando uma tradição de décadas das campanhas eleitorais americanas.
Trump e Hillary se enfrentam em primeiro debate. Foto: Rick T. Wilking/AP
Usando terno escuro e uma gravata azul, Trump traiu o nervosismo com inspirações profundas e interrompeu com frequência a adversária, a quem se referiu como “secretária Clinton”, evitando a “Hillary trapaceira” que se tornou a marca de sua campanha. O bilionário a retratou como representante do establishment político americano e a responsabilizou pela aprovação de acordos comerciais que teriam acabado com empregos nos EUA. O republicano disse ainda que ela e o presidente Barack Obama criaram o “vácuo” que teria permitido o surgimento do Estado Islâmico.
O principal desafio de Trump era assegurar os eleitores de que ele tem a personalidade adequada para ser o presidente e comandante-em-chefe do país. Pesquisas mostram que essa é uma das principais resistências dos entrevistados em relação ao bilionário, que se apresenta como um outsider capaz de corrigir um sistema político corrupto.
“Eu tenho julgamento muito melhor que o dela. Eu também tenho temperamento melhor do que ela”, afirmou o bilionário, provocando risos na plateia. “Eu tenho um temperamento de vencedor. Eu sei como ganhar. Ela não sabe ganhar”, afirmou Trump.
Mas os comentários de analistas nas redes sociais e na maioria dos canais de televisão indicavam uma vitória de Hillary no embate, tanto no estilo quanto em substância. O consultor Frank Luntz, que faz pesquisas para o Partido Republicano, montou um grupo de 22 pessoas que assistiram o debate e reagiram em tempo real ao que viam na tela. No fim, 16 disseram que Hillary havia vencido o confronto e apenas 6 apontaram Trump como vencedor.
Um dos piores momentos para o republicano ocorreu quando o moderador do debate, o apresentador da NBC Lester Holt, o questionou sobre a campanha para obter a certidão de nascimento de Obama, movimento visto por muitos como uma tentativa de retirar a legitimidade do primeiro presidente negro da história do país. O bilionário disse que “fez um grande trabalho” e prestou um “grande serviço” à nação por obrigar Obama a provar que havia nascido nos EUA.
Os candidatos se cumprimentam antes do debate. Foto: EFE/JUSTIN LANE
O bilionário criticou políticos tradicionais e disse que é o momento de alguém que entende de dinheiro administrar o país. Trump reconheceu que Hillary tem mais experiência, mas disse que é uma “experiência ruim”, da qual o país não precisa. O republicano também a criticou de maneira indireta por se preparar para o debate durante dias, o que deu uma deixa para Hillary. “Eu acho que Donald acabou de me criticar por me preparar para esse debate. E eu me preparei. E sabe para que mais eu me preparei? Eu me preparei para ser presidente. E isso é uma boa coisa.”
Mulher posa com a camiseta oficial diante de cartaz promovendo o debate entre Hillary e Trump
Reta final. Realizado a 43 dias da eleição, o debate ocorreu no momento em que as pesquisas mostram um virtual empate entre Hillary e Trump no voto popular. Grande parte da vantagem que a democrata obteve depois das convenções partidárias, em julho, evaporou nas últimas semanas.
Os levantamentos também indicaram que a disputa se tornou mais acirrada em alguns dos principais Estados-chave, que são aqueles que oscilam entre o Partido Democrata e o Republicano em eleições presidenciais.
Veja abaixo: Hillary e Trump batem boca no primeiro debate
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