Empregos criados na China por Trump dificilmente voltarão aos EUA

Além de o próprio magnata republicano e sua família se beneficiarem e fabricarem produtos no país asiático, alto custo da mão de obra americana inviabiliza que indústrias - como a têxtil - se restabeleçam em solo americano; nova pesquisa coloca Hillary seis pontos à frente do rival

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Por Redação Internacional
Atualização:

WASHINGTON - A promessa de Donald Trump de levar de volta aos Estados Unidos os empregos transferidos para a China é uma meta difícil de ser alcançada, já que até a empresa chinesa que produz a linha de sapatos de sua filha está levando a produção para a África.

O candidato republicano à Casa Branca acusa regularmente a China de ter roubado empregos dos EUA, mas até sua família se beneficia dos reduzidos custos da mão se obra chinesa para terceirizar a produção em seu nome. Levar de volta estes empregos aos Estados Unidos é muito improvável, explicou Zhang Huarong, presidente da grande fabricante de sapatos Huajian, que trabalha com Ivanka Trump, filha do magnata.

Trump disse que recuperará empregos criados na China, mas se for eleito ele deverá ter dificuldade para concretizar a promessa Foto: AFP PHOTO / GREG BAKER

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As fábricas chinesas enfrentam ao mesmo tempo uma forte concorrência em nível internacional. "Alguns industriais não conseguem mais sobreviver na China", comentou Zhang em sua fábrica de Dongguan (sul). Nos últimos anos, Zhang produziu 100 mil pares de sapatos para a marca de Ivanka Trump. Em agosto cumpriu uma encomenda de 20 mil sandálias de salto alto, pouco depois do discurso de Trump na convenção republicana no qual se comprometeu a levar aos Estados Unidos os empregos perdidos.

Se chegar à Casa Branca, Trump promete impor taxas de importação proibitivas, de 45%, para os bens fabricados na China. Com uma eficácia incerta: Huajian integra o número crescente de empresas chinesas que transferem suas produções ao sudeste asiático ou para a África.

Em 2011, Huarong abriu sua primeira fábrica na Etiópia. Quatro anos depois está construindo ali um complexo industrial, com um investimento de US$ 1 bilhão. "Meu objetivo é criar 30 mil empregos na Etiópia até 2020, com exportações que totalizem entre US$ 1 bilhão e US$ 1,5 bilhão", disse.

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Os empregos manufatureiros pouco qualificados abandonam o mercado chinês devido ao aumento dos custos trabalhistas, "embora eles sejam muito inferiores ao salário mínimo americano", observou Christopher Balding, professor na universidade de Pequim.

Pior lugar para produzir. A equipe de campanha do candidato republicano não respondeu às perguntas sobre essa situação, assim como a empresa de Ivanka Trump. Mas seus sapatos são apenas uma pequena parte dos 1,2 mil carregamentos de produtos da "marca Trump" nos últimos 10 anos, segundo as estatísticas americanas analisadas pelo comitê anti-Trump Our Principles PAC.

Donald Trump faz campanha no Arizona Foto: Ralph Freso/AFP

No ano passado, Trump defendeu a decisão familiar de fabricar sapatos, camisas e gravatas na China. "É muito, muito difícil produzir o que quer que seja de têxtil" nos Estados Unidos, lamentou em uma entrevista à CNN. E Huarong confirma: "Os Estados Unidos são o pior lugar para fabricar sapatos".

As empresas americanas podem transferir parte de sua produção suscetível de ser automatizada aos Estados Unidos, mas a indústria têxtil também exige um trabalho a mão, para o qual é necessária uma mão de obra mais barata, explicou Zhang.

Em sua fábrica, que emprega 15 mil pessoas, um trabalhador de 20 anos, Cao Jian, disse que estava satisfeito com sua renda mensal de 3,2 mil iuanes (US$ 480). Mas na China as reivindicações se intensificam. As manifestações de trabalhadores aumentaram 19% nos oito primeiros meses de 2016, com 1.867 greves registradas, segundo a associação China Labor Bulletin, com sede em Hong Kong.

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As empresas enfrentam uma desaceleração da demanda e a exigência de salários mais elevados. No entanto, com o salário de um operário chinês, Huajian pode contratar cinco na Etiópia, destacou Zhang. É por isso que seu grupo constrói em Addis Abeba "uma cidade industrial" em forma de sapato, com fábricas, dormitórios comuns, hotel e hospital, cercados de uma réplica da Grande Muralha.

Pesquisas. A candidata democrata à presidência dos Estados Unidos, Hillary Clinton, supera em seis pontos percentuais o rival republicano, Donald Trump, em uma nova pesquisa eleitoral divulgada na quarta-feira, a pouco mais de um mês para as eleições americanas.

Segundo a pesquisa, elaborada pela empresa Ipsos e pela agência Reuters entre 1.928 adultos americanos, Hillary Clinton alcança um apoio de 42% em nível nacional, enquanto Trump obtém 36%. Atrás, aparecem o candidato libertário Gary Johnson (8%) e a ecologista Jill Stein (2%).

Se Johnson e Stein forem descartados, a ex-secretária de Estado amplia a vantagem para 44% em comparação ao magnata imobiliário, que fica com 37%. O levantamento foi realizado entre os dias 29 de setembro e 3 de outubro com entrevistas pela internet e conta com uma margem de erro do 2,5%.

De acordo com o "RealClearPolitics", site que elabora uma média das pesquisas emitidas nos EUA, Hillary supera Trump em 3,8 pontos (43,9% para a democrata e 40,1% para o republicano) se forem levados em consideração os quatro candidatos. / AFP e EFE

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