Espião que abriu crise nos EUA com dossiê contra Trump abandona casa

Fonte diz ao ‘Telegraph’ que o investigador britânico Christopher Steele teme uma vingança russa e acredita que sua vida está em perigo

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Por Redação Internacional
Atualização:

LONDRES - Horas antes de ter sua identidade revelada na quarta-feira, o espião britânico Christopher Steele abandonou com a família sua residência. O ex-agente do serviço secreto britânico abriu uma crise na sucessão americana com um dossiê segundo o qual agentes russos colheram informações comprometedoras contra o presidente eleito Donald Trump. Segundo o jornal Telegraph, ele fugiu por temer uma vingança russa.

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Há sete meses, o respeitado espião britânico, hoje um consultor na área, foi contratado por um escritório americano para elaborar um dossiê sobre as ligações entre Trump e Rússia. Nos últimos dias, os detalhes da investigação vieram à tona, após ela ter sido anexada a um relatório ultrassecreto elaborado pela inteligência americana e entregue a congressistas, ao presidente Barack Obama e ao próprio Trump.

Donald Trump deu na quarta-feira primeira entrevista coletiva desde julho ( Foto: Carlo Allegri/ Reuters)

Entre os dados, divulgados pela imprensa americana com a ressalva de que não estavam comprovados, estão contatos do magnata com prostitutas russas, acordos imobiliários envolvidos em suborno e coordenação com a inteligência russa para hackear democratas. Trump afirma que as alegações são falsas.

Assim que o nome do ex-espião foi revelado, as atenções se voltaram para o condado britânico de Surrey. "Ele me pediu para cuidar do seu gato enquanto estivesse fora por alguns dias", disse um vizinho ao jornal britânico Telegraph. "Não sei para onde ele foi e ou como entrar em contato com ele. Na verdade, não sei muito sobre ele, apenas falávamos 'oi'."

Uma fonte que conhece Steele e conversou com o Telegraph afirmou que o espião, de 52 anos, acredita que sua vida está em perigo. Steele era um especialista em Rússia nos 20 anos que trabalhou no MI6, o serviço secreto britânico. Ele foi enviado a Moscou como espião em 1990.

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A Embaixada da Rússia em Londres sugeriu nesta quinta-feira que o MI6 pode, intencionalmente, ter usado documentos não comprovados para macular o Kremlin e o futuro governo americano. "Um agente do MI6 nunca é 'ex'", escreveu.

A história, segundo o New York Times, começa em setembro de 2015, quando um rico doador republicano contrário a Trump contratou a empresa fundada por jornalistas Fusion GPS, de Washington, para compilar um dossiê sobre os escândalos de Trump. A identidade do doador não foi revelada.

Presidida pelo jornalista Glenn Simpson, ex-Wall Street Journal, a empresa começou o trabalho, rotineiro em campanhas. Por meses, ela levantou documentos e arquivos de Trump. Após o magnata ser confirmado como candidato, o doador perdeu o interesse pelo dossiê. No entanto, partidários da democrata Hillary Clinton se mostraram interessados e a Fusion GPS continuou o trabalho, para clientes diferentes.

Em junho, o teor da investigação mudou subitamente após o Washington Post revelar que o Comitê Nacional Democrata havia sido hackeado, aparentemente por agentes do governo russo. Nesse momento, Simpson decidiu recorrer a Steele e a seu conhecimento sobre Rússia. Após deixar o serviço secreto em 2009, ele abriu o próprio escritório de investigação.

O memorando que resultou da parceria aponta duas linhas de atuação russa diferentes. A primeira trata de um esforço de anos para tentar encontrar uma maneira de influenciar Trump. O motivo seriam as ligações entre o magnata e oligarcas russos que Putin queria manter sob observação. Segundo o memorando, foi usado um leque de táticas familiares, como as gravações de vídeos de sexo com prostitutas e oferecimento de contratos atraentes a Trump.

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A segunda operação russa envolveria encontros com assessores de campanha de Trump para discutir a ação de hackers contra os democratas. O republicano e sua equipe negaram categoricamente ambas. Segundo o Times, Steele tinha excelente reputação nas inteligências britânica e americana. Ele colaborou com a investigação do FBI sobre corrupção na FIFA. Segundo o site EurActiv, ele espionou também a política búlgara Kristalina Georgieva, que disputou o cargo de secretária-geral da ONU.

Após as eleições, o relatório passou a ser o mais secreto dos documentos em Washington. Repórteres dos mais diferentes meios decidiram não publicá-lo por ser difícil verificar suas alegações. A situação mudou depois que os chefes da CIA, FBI e Agência Nacional de Segurança decidiram anexar o memorando a seu relatório sobre a influência russa nas eleições americanas. / COM THE NEW YORK TIMES

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