Hotel de Trump em Washington se torna polêmico mirante para evento de posse

Prédio do antigo Escritório dos Correios da capital recebeu investimentos de US$ 200 milhões do magnata para se tornar seu mais novo empreendimento de luxo; local tem vista privilegiada para a Avenida Pensilvânia, por onde passará o tradicional desfile após a posse

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Por Redação Internacional
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WASHINGTON - Há um lugar para não perder um detalhe do desfile da posse de Donald Trump como presidente dos Estados Unidos: o luxuoso hotel de propriedade do republicano no centro de Washington, um edifício histórico e polêmico que mais se parece com um castelo de conto de fadas.

O Trump International Hotel surge imponente em plena Avenida Pensilvânia, que leva diretamente ao Capitólio, onde o presidente eleito será empossado no próximo dia 20. Na frente do hotel tremulam cinco bandeiras americanas e há uma estátua de Benjamin Franklin, um dos fundadores dos EUA.

Com investimento estimado em US$ 200 milhões, Donald Trump transformou o prédio do antigo Escritório dos Correios em Washington, a poucas quadras da Casa Branca, em seu mais novo hotel de luxo Foto: Chad Bartlett/The New York Times

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À primeira vista, os detalhes arquitetônicos do edifício mostram que ele se trata de um imóvel singular. Muito antes de Trump adaptá-lo para receber o hotel, o prédio era o antigo Escritório dos Correios da capital e é declarado como um patrimônio histórico do país.

Na avenida, que também une o Capitólio e a Casa Branca, os apressados operários terminam os preparativos para a posse do republicano, instalando arquibancadas portáteis para receber a multidão que irá ao local com a esperança de viver um dia histórico.

Trump passará em frente ao hotel após tomar posse como 45º presidente dos EUA nas escadas do Capitólio, durante o tradicional desfile até a Casa Branca, sua nova casa.

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O presidente eleito poderá até se hospedar em seu próprio hotel na véspera da posse, um gesto que romperia um protocolo de décadas, segundo informou "The New York Times". Apesar de não haver informação oficial sobre a possibilidade, o jornal afirma que Trump está cogitando a ideia.

Desde que o democrata Jimmy Carter se hospedou em 1976 na Casa Blair, residência de hóspedes do presidente dos EUA na ala oeste da Casa Branca, nenhum candidato eleito descumpriu o rito de passar no local os últimos dias antes de assumir o poder.

Mas nenhum dos antecessores de Trump possuía um hotel cinco estrelas a poucos metros da Casa Branca, com seu nome em um letreiro gigante que, ainda por cima, fica na rota do desfile de posse. Por enquanto, o silêncio da direção do hotel e da equipe de transição sobre os planos do empresário republicano são absolutos. "Não temos nada a comentar", disse a diretora de vendas e marketing do Trump Hotels, Patricia Tang.

Ao lado da família, Donald Trump inaugurou em outubro seu novo hotel na capital americana, Wahsington, montado no prédio do antigo Escritório dos Correios Foto: Stephen Crowley/The New York Times

Para a posse, o estabelecimento confirmou que todos os 263 quartos estão reservados, muitos deles com vistas privilegiadas para a Avenida Pensilvânia. Os preços das diárias dos quartos mais simples em dias comuns não costuma ficar abaixo dos US$ 700.

Alguns dos funcionários do Trump Hotel de Washington esperam que o chefe se hospede no local para a posse. "Espero que ele venha!", disse uma camareira no bar do hall do hotel. Trump visitou o hotel em outubro, em meio à campanha eleitoral, para inaugurá-lo. O evento foi marcado por polêmica por representar uma mistura dos negócios particulares com a candidatura.

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Na ocasião, o agora presidente eleito disse que possuía o "segundo edifício mais cobiçado de Washington" após a Casa Branca e apresentou o hotel como uma "metáfora" do esplendor que ele pretende devolver aos EUA.

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Apesar da autopromoção, é inegável que o empresário restituiu a glória do antigo Escritório dos Correios, aberto em 1899 para recuperar uma área deteriorada da Avenida Pensilvânia na época. Depois, anos mais tarde, as autoridades cogitaram derrubar o edifício por não terem dinheiro para mantê-lo. A demolição foi evitada em 1973, quando o prédio entrou no Registro Nacional de Locais Históricos.

Em virtude de um acordo de aluguel de 60 anos firmado em 2013 com o governo federal, Trump investiu US$ 200 milhões na restauração e na transformação do edifício em hotel. Junto com Trump, porém, vieram várias polêmicas. O hotel já foi palco de vários protestos contra o magnata. Além disso, ele é alvo de uma milionária batalha legal entre o presidente eleito e o popular chef espanhol José Andrés, que rompeu um contrato para abrir um restaurante no local, indignado pelos insultos que o republicano proferiu contra os imigrantes mexicanos na campanha presidencial.

Manifestantes protestam diante do hotel de Trump em Washington Foto: Nikki Kahn-The Washington Post

Dada a propriedade pública do prédio, o imóvel simboliza também os conflitos de interesse que ele poderá enfrentar depois de assumir o poder. A circunstância ainda se agrava por já ter se transformado em "point" para diplomatas que, de drink em drink, tentam se aproximar do novo governo Trump.

Uma semana depois das eleições de novembro, cerca de 100 diplomatas estrangeiros de países como Brasil e Turquia participaram de uma recepção no hotel, degustando champanhe da marca Trump, segundo o jornal "The Washington Post".

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"O local estava lotado", disse Lynn Van Fleit, fundadora do Diplomacy Matters Institute, que organiza eventos para diplomatas, acrescentando que muitos conversaram sobre como "construir laços" com o novo governo que assume o poder no dia 20 de janeiro.

Pesam sobre o hotel, além disso, três processos por uma dívida de US$ 5 milhões cobrada por eletricistas, carpinteiros e encanadores pela suposta falta de pagamento de seus trabalhos nas obras de reforma do edifício.

Não se sabe como Trump resolverá as disputas sobre seu "castelo", mas não há dúvidas que ele será um dos focos de atenção no dia da posse presidencial. / EFE

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