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O bairro em Chicago que fazia a cabeça do presidente

Por Redação Internacional
Atualização:

Cláudia TrevisanEnviada Especial / Chicago

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Antes de Barack Obama transformar-se no seu mais célebre cliente, o salão Hyde Park era o endereço em que o boxeador Muhammad Ali cortava o cabelo nos anos 60 e 70, quando morava no mesmo bairro que o presidente dos Estados Unidos adotaria na década de 80.

A cadeira usada pelo primeiro negro a ocupar a Casa Branca é exibida em uma caixa protegida por vidro na entrada do local, abaixo de um quadro que retrata o barbeiro Zariff cuidando da cabeleira de Obama. O presidente não frequenta mais o salão, mas Zariff continua a cortar seu cabelo, com viagens a Washington ou nas passagens de Obama por Chicago.

Antonio Coye trabalha há dez anos na barbearia em que Barack Obama cortava seu cabelo emHyde Park Foto: Cláudia Trevisan / Estadão

A uma quadra de lá, uma placa de bronze marca o local em que Barack e Michelle Obama se beijaram pela primeira vez. A sorveteria que ambos visitaram naquele dia deu lugar a uma loja da rede Subway, mas a referência ao sabor do sorvete aparece na placa, com a reprodução de trecho de um dos livros do presidente: "Eu a beijei e o gosto era de chocolate".

As ruas de Hyde Park são marcadas por lembranças do período em que o casal presidencial e suas filhas, Malia e Sasha viviam no local. O presidente mantém sua casa no bairro e a utilizou durante seu mandato em algumas de suas visitas a Chicago. Localizada em frente à sinagoga do bairro, ela é identificável pelos carros de proteção do serviço secreto estacionados na rua, que é bloqueada de ambos os lados.

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Muitos dos moradores de Hyde Park têm histórias de encontros com Obama nas ruas, nos restaurantes e no comércio do bairro, que também é sede da Universidade de Chicago, onde o presidente deu aulas de Direito de 1992 a 2004.

"Eu trabalhava em uma loja de queijos e vinhos e fiz vários sanduíches para Obama", lembra o ganês Julius K., de 71 anos. Nos Estados Unidos há 40 anos, ele obteve a cidadania americana na década de 80 e votou no antigo cliente nas duas vezes em que ele disputou a presidência.

Localizado a três quadras do salão Hyde Park, o Valois era o restaurante onde Obama costumava tomar café da manhã nos anos em que viveu no bairro. Como em muitos negócios locais, a foto do presidente está pendurada em uma das paredes.

Vizinho do presidente, o ministro católico Javier Ruiz, de 56 anos, conheceu Obama nos anos 90, quando ambos trabalhavam na promoção de direitos civis e sociais no sul de Chicago. Fiel frequentador do Valois, Ruiz lembra das inúmeras ocasiões em que viu Obama no restaurante. A receita preferida do presidente para o café da manhã tinha dois ovos com bacon, pão tostado e hash browns, prato feito com fatias finas de batata. William Starnes bate ponto quase todos os dias no Valois e já sente nostalgia da presidência de Obama. "Todas as coisas boas chegam ao fim."

Demografia. Hyde Park é um bairro diverso do ponto de vista racial, no qual os brancos representam 47% da população e os negros, 32% - o restante é dividido entre latinos e asiáticos. Mas o local faz parte do sul de Chicago que viu ativistas, escritores e músicos negros ganharem projeção.

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Antes de Obama e Muhammad Ali, muitos cortavam o cabelo na barbearia Hyde Park. "O salão existe desde 1927 e já era famoso quando o presidente passou a frequentá-lo", disse Antonio Coye, o gerente que trabalha no local há dez anos. Em sua opinião, Obama foi um dos melhores presidentes da história dos EUA, apesar de ter enfrentado oposição intransigente dos republicanos.

Coye acredita que o bloqueio às iniciativas de Obama foi movido em parte pela reação contra a eleição do primeiro negro como presidente dos Estados Unidos. "As relações raciais não melhoraram durante o governo Obama. Pelo contrário", opinou Ken Hare, que trabalha no Chicago Defender, o mais antigo jornal voltado para a comunidade negra de Chicago.

Jerome Williams mora no bairro vizinho e trabalha na manutenção de prédios em Hyde Park, mas, segundo ele, o democrata não alterou a realidade dos negros.

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