ONU e Otan entram em era de incertezas diante da vitória de Trump

Ao mesmo tempo em que instituições se mostram alarmadas com o resultado da eleição americana, partidos de extrema direita na Europa comemoraram escolha do magnata como 45º presidente dos EUA

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Por Redação Internacional
Atualização:

Jamil Chade,CORRESPONDENTE / GENEBRA

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GENEBRA - Constrangidos, políticos europeus na ONU não disfarçavam na manhã desta quarta-feira, 9, a surpresa diante da vitória de Donald Trump na eleição à presidência dos Estados Unidos. Para todos, o tom com a decisão dos americanos era de "preocupação".

Falando às rádios alemãs, a ministra de Defesa de Berlim, Ursula von der Leyen, deixou claro que a primeira pergunta que Bruxelas terá de fazer ao presidente eleito se refere ao futuro da aliança militar, a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan). "Teremos de perguntar claramente a ele: você garantirá a aliança?", disse Ursula.

Funcionários da embaixada americana em Bruxelas acompanham a apuração da eleição americana ( Foto: AFP PHOTO / BELGA AND Belga / LAURIE DIEFFEMBACQ)

Durante a campanha, Trump indicou que os americanos não estariam mais dispostos a financiar grande parte da conta da Otan e disse que havia chegado o momento de os europeus bancarem sozinhos sua segurança.

Sabendo da dimensão dos riscos que a aliança corre, o secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, se apressou em insistir sobre a necessidade de manter boas relações com o novo chefe da Casa Branca. Ele "felicitou" Trump, mas, numa mensagem velada, apontou para a "importância da liderança dos EUA diante dos novos desafios de segurança no mundo".

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"Desejo trabalhar com o novo presidente", disse Stoltenberg. "É importante que os laços transatlânticos sigam fortes", insistiu. "Enfrentamos nossos desafios, como ciberataques, terrorismo e a liderança dos EUA é mais importante que nunca".

"Uma OTAN forte é boa tanto para os EUA como para a Europa", insistiu. "As garantias de segurança que a aliança oferece são importantes para a Europa, mas também aos EUA", disse o secretário-geral, que pede um encontro com Trump para avaliar como a aliança "pode fazer mais".

Nos corredores da ONU, o silêncio e constrangimento eram os retratos de uma entidade cada vez mais marginalizada que, agora, depende 25% de seu financiamento de um governo considerado uma "incógnita" em termos de política externa.

Durante a campanha, o alto comissário da ONU para Direitos Humanos, Zeid Al Hussein, indicou que Trump seria "perigoso" para o mundo e chegou a inclui-lo em uma lista de demagogos e que usam "meias-verdades" para obter votos. Nesta quarta, seu escritório prometia que continuaria a questionar suas políticas, sempre que necessário.

Questionado pelo Estado, o porta-voz da ONU para Direitos Humanos, Rupert Colville, insistiu que o mandato das Nações Unidas é o de "proteger e promover os direitos humanos de todos e em todos os lugares, com base em leis e padrões internacionais". "Isso é o que nos guiará em nossa futura posição com relação à próxima administração americana", declarou.

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"Vamos ver o que de fato ocorrerá sob a administração Trump", disse Colville. "Se sentirmos que as políticas ou práticas do próximo governo dos EUA minam ou violam os direitos humanos de pessoas ou grupos, iremos nos expressar, assim como já fizemos no passado nos EUA e exatamente como fazemos em relação a outros países pelo mundo", afirmou.

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Entidades como a Human Rights Watch alertaram que Trump terá de dar exemplo ao mundo em termos de direitos humanos. "É difícil exigir que outros países respeitem os direitos humanos quando teu próprio governo os transgride", alertou Kenneth Roth, diretor da ONG.

Pela Europa, partidos de extrema direita que foram classificados pela ONU de "demagogos" comemoraram a vitória de Trump. "Parabéns ao novo presidente dos EUA e ao povo americano, que é livre", disse a francesa Marine Le Pen, líder da Frente Nacional.

Para Beatrix von Storch, do partido Alternativa para a Alemanha (AfD), o resultado nos EUA é "histórico". "Apenas as elites estão surpresas", disse. O holandês Geert Wilders, duramente criticado pela ONU por propor medidas para banir muçulmanos, também comemorou. "O povo está recuperando seu país", disse.

Para a Liga Norte, na Itália, a vitória é uma "revanche do povo" contra as elites. "Agora chegou a nossa vez", disse Matteo Salvini, líder xenófobo do movimento de extrema-direita na Itália. Para o presidente da Hungria, Viktor Orban, também atacado pelos movimentos sociais, a vitória de Trump é "uma boa notícia". "A democracia segue viva", disse.

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Já o embaixador da França nos EUA, Gerard Araud, não escondia sua preocupação. "O mundo está entrando em colapso diante dos nossos olhos", escreveu nas redes sociais.

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