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Otan cobra compromisso de Trump com a aliança

Vitória do candidato republicano na eleição americana cria um dos momentos mais delicados para Organização do Tratado do Atlântico Norte desde final da Guerra Fria

Por Redação Internacional
Atualização:

Jamil Chade,CORRESPONDENTE / GENEBRA

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A cúpula da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) alerta que o presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, tem um "compromisso com seus aliados militares" e o bloco não serve apenas para defender a Europa, mas também os interesses americanos. A cobrança deixou claro o momento crítico que a aliança vive diante da vitória do candidato republicano.

Durante a campanha, Trump indicou que os americanos não estariam mais dispostos a financiar grande parte da conta da organização, que havia chegado o momento de os europeus bancarem sozinhos sua segurança. Numa outra entrevista, ao ser questionado se a Casa Branca viria ao socorro dos países bálticos no caso de uma invasão russa, o presidente eleito apenas respondeu: "depende". Os comentários criaram um mal-estar entre os generais do bloco com sede em Bruxelas.

Secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, fala em conferência na sede da aliança, em Genebra ( Foto: AFP PHOTO / THIERRY CHARLIER)

A eleição de Trump se transformou num dos maiores desafios da aliança desde o final da Guerra Fria. Falando às rádios alemãs, a ministra de Defesa de Berlim, Ursula von der Leyen, deixou claro que a primeira pergunta que Bruxelas terá de fazer ao novo governo Trump se refere ao futuro da aliança militar. "Teremos de perguntar claramente a ele: você garantirá a aliança?", disse.

Desde a anexação da Crimeia pela Rússia, a Otan passou a adotar uma postura mais dura com Moscou. Mas tal estratégia também pode ser obrigada a ser revista diante dos elogios mútuos entre Trump de Vladimir Putin. Se a postura da Casa Branca for modificada com o Kremlin, a Otan pode ser forçada a repensar seu plano de enviar 4 mil soldados para os países bálticos e para a Polônia em 2017. Assistentes de Trump também já indicaram que podem reconsiderar plano do governo Obama de mandar infantaria pesada para o Leste da Europa no próximo ano, com um custo de US$ 3,5 bilhões aos cofres americanos.

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O novo presidente americano também deixou claro que quer a Otan atuando mais na luta contra o terrorismo, o que tem gerado críticas veladas e mesmo explícitas por parte de militares franceses e alemães, hesitantes em ter tropas internacionais agindo pela Europa.

Sabendo da dimensão dos riscos que a aliança corre, o secretario-general da Otan, Jens Stoltenberg, se apressou em insistir na necessidade de manter boas relações com o novo chefe da Casa Branca. Mas também alertou que a aliança também existe para proteger os EUA. Segundo ele, a única vez que a cláusula de defesa coletiva da entidade foi acionada ocorreu depois dos ataques terroristas de 11 de setembro de 2001.

Stoltenberg ainda foi duro em indicar que Trump tem "compromissos com a aliança". "A garantia de segurança da Otan é um tratado de compromisso", disse o secretário-geral, que criticou abertamente Trump durante a campanha. "Todos os aliados fizeram uma declaração solene de defender o outro. Isso é absolutamente incondicional", insistiu.

"Uma Otan forte é boa tanto para os EUA como para a Europa", insistiu. "As garantias de segurança que a aliança oferece são importantes para a Europa, mas também para os EUA", disse Stoltenberg.

Em respostas às cobranças de Trump, o secretário-geral da Otan indicou que milhares de soldados da aliança, inclusive da Europa, tem lutado contra o terrorismo no Afeganistão e que a organização continua apoiando a coalizão que vem atacando bases do Estado Islâmico no Iraque.

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Criada em 1949 e tendo os EUA como membro fundador, a aliança estabelece em seu artigo 5º que os 28 Estados se comprometem a sair ao resgate de outro membro se ele for atacado.

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Para um dos principais comandantes da Otan, Denis Mercier, o debate sobre o papel da aliança não é apenas uma "questão teórica". Segundo ele, o poder de defesa russo nos bálticos, na Crimeia e na Síria podem começar a limitar a liberdade de movimento da aliança.

Hoje, os americanos pagam 75% do orçamento da Otan. Mas um acordo foi fechado para que os governos europeus usem 2% de seu PIB para financiar sua defesa. Por enquanto, no entanto, apenas Reino Unido, Polônia, Grécia e Estônia cumpriram este objetivo.

Nos mercados financeiros, as ações das companhias de defesa da Europa subiram na quarta-feira. Investidores passaram a apostar que essas empresas terão mais encomendas de governos europeus, diante da posição adotada por Trump.

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