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Trump abandona sinais de moderação e escolhe extremista para posto-chave

Após indicar que manterá parte do programa de saúde de Obama e deportará menos imigrantes do que prometeu, presidente eleito desafia críticas ao eleger como estrategista Stephen Bannon, que dirigiu site com manchetes xenófobas, racistas e misóginas

Por Redação Internacional
Atualização:

Cláudia TrevisanCorrespondente / Washington

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Donald Trump nomeou como seu principal estrategista na Casa Branca um homem identificado com defensores da supremacia branca que, até meados do ano, dirigia o Breitbart, um site célebre por suas manchetes xenófobas, racistas e misóginas. A indicação de Stephen Bannon para o cargo foi criticada por entidades que combatem o discurso de ódio e celebrada por extremistas de direita.

O senador Bernie Sanders disse que a escolha deveria deixar todos os americanos "muito nervosos", enquanto seu colega Jeff Merkley a classificou de "inaceitável". O porta-voz de Harry Reid, líder democrata no Senado, disse que a indicação é um sinal de que defensores da supremacia branca terão um representante no comando da Casa Branca.

Stephen Bannon (D) observa Trump em evento de campanha. Foto: Mike Segar/Reuters

A decisão também foi alvo de pessoas ligadas ao Partido Republicano que se opuseram à candidatura de Trump. "A extrema direita racista, fascista está representada a poucos passos do Salão Oval. Seja vigilante, América", disse no Twitter John Weaver, estrategista republicano ligado ao governador de Ohio, John Kasich.

Entre os mais conservadores apresentadores de rádio dos EUA, Glenn Beck comparou Bannon a Joseph Goebbels, ministro de propaganda de Adolf Hitler. A comentarista da CNN Ana Navarro, que é republicana, também atacou a escolha: "Em um mundo normal, Bannon provavelmente não teria autorização para entrar na Casa Branca. Nesta Casa Branca, ele terá acesso a dados de segurança nacional."

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Radicalismo. Bannon transformou o Breitbart na principal voz da direita radical americana, com ataques frequentes a muçulmanos e manchetes de tom racista e sexistas. Duas semanas depois de um defensor da supremacia branca matar a tiros nove negros em uma igreja da Carolina do Sul, em 2005, o site disse que bandeira dos confederados deveria ser exibida com orgulho.

A bandeira representava o sul anti-abolicionista dos EUA durante a Guerra Civil e é vista como um símbolo racista. O autor do massacre, Dylann Roof, colocou na internet fotos nas quais carregava a bandeira confederada.

"Anticoncepcionais tornam as mulheres pouco atraentes e loucas", foi uma das manchetes do site em dezembro. "Você preferiria que sua filha tivesse feminismo ou câncer?", foi outra de fevereiro.

Islâmicos são um dos alvos prediletos do Breibart. "Jovens muçulmanos no Ocidente são uma bomba-relógio, cada vez mais simpáticos aos radicais e ao terror", publicou o site em março.

"É um triste dia quando um homem que presidiu o principal website da extrema direta americana caminha para ser um membro importante do staff da 'casa do povo'", escreveu Jonathan Greenblatt, presidente da Liga Antidifamação, que combate discurso de ódio e antissemita.

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O Southern Poverty Law Center (SPLC), que monitora a ação de grupos de ódio nos Estados Unidos, iniciou um abaixo-assinado contra a nomeação de Bannon. "Um homem que liderou a transformação de um império de mídia no que um ex-editor do Breitbart chamou de uma 'fossa de supremacistas brancos criadores de memes' simplesmente não tem lugar na Casa Branca", disse Richard Cohen, presidente da organização.

A escolha também foi condenada pelo Conselho de Relações Americano-Islâmicas. O presidente da organização, Nihad Awad, disse que a indicação envia uma mensagem "perturbadora de que teorias conspiratórias antimulçulmanas e a ideologia nacionalista branca serão bem-vindas na Casa Branca".

Ataques. Bannon não foi a única escolha controvertida do presidente eleito. Responsável pelas mais draconianas leis contra imigrantes nos Estados Unidos e defensor de medidas que suprimem o voto de minorias no país, Kris Kobach foi escolhido para chefiar o grupo de transição sobre imigração. Kobach é secretário de Estado de Kansas e, durante muitos anos, foi conselheiro da Federation for American Immigration Society, uma entidade classificada como um grupo de ódio pelo SPLC.

Responsável por questões domésticas na transição de governo, Ken Blackwell tem uma trajetória de ataques a homossexuais. "O papel de liderança de Blackwell no time de transição do presidente eleito deveria ser um alerta para qualquer pessoa que tinha dúvidas de que os direitos LGBTQ estão em risco", disse JoDee Winterhof, vice-presidente para questões políticas da Human Rights Campaign.

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