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Trump enfrentará maior boicote em uma posse desde a Guerra do Vietnã

Número de parlamentares democratas que não irão à passagem do poder ao republicano sobe para 26 após presidente eleito trocar ofensas com um dos líderes da luta por direitos civis nos anos 60

Por Redação Internacional
Atualização:

Pelo menos 26 parlamentares do Partido Democrata anunciaram a intenção de boicotar a cerimônia de posse de Donald Trump, na sexta-feira, no mais contundente gesto de repúdio de congressistas a um presidente eleito desde a chegada ao poder de Richard Nixon em 1973, quando a Guerra do Vietnã dividia os Estados Unidos.

A adesão ao movimento cresceu desde sábado, quando Trump usou o Twitter para atacar o senador John Lewis, um ícone do movimento pelos direitos civis dos EUA - em 1965, ele teve seu crânio fraturado quando policiais reprimiram a primeira tentativa de ativistas de marcharem de Selma a Montgomery para protestar contra a segregação racial.

Trump recebe Martin Luther King III, filho mais velho do defensor de direitos civis.  ( Foto:  AFP / Dominick Reuter

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Na sexta-feira, Lewis disse à rede de TV NBC que não iria à posse de Trump por considerá-lo ilegítimo. "Eu acredito que os russos ajudaram na eleição desse homem. E ajudaram a destruir a candidatura de Hillary Clinton", disse Lewis.

O presidente eleito respondeu com a afirmação de que o senador deveria dedicar mais atenção a seu distrito eleitoral. "É só conversa, conversa, conversa - nenhuma ação ou resultados. Triste!", escreveu Trump no Twitter.

A troca de farpas ocorreu na antevéspera do aniversário de nascimento de Martin Luther King Jr., ao lado de quem Lewis marchou nos anos 60. Enquanto alguns democratas criticaram o senador por questionar o resultado das eleições, outros declararam solidariedade a ele e anunciaram a intenção de boicotar a posse.

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"Para mim, a decisão pessoal de não participar da posse é muito simples: fico ao lado de Donald Trump ou de John Lewis? Eu fico com John Lewis", afirmou o deputado Ted Lieu, da Califórnia, em nota distribuída por seu gabinete.

Acirramento. A participação na cerimônia é vista como gesto de respeito à instituição da presidência e costuma ter adesão de ambos os partidos. Derrotada na eleição de novembro, Hillary irá à posse, ao lado de seu marido, o ex-presidente Bill Clinton. Atacado por Trump durante a campanha, o antecessor de Barack Obama, George W. Bush, também estará presente.

A suspeita de interferência da Rússia nas eleições, os potenciais conflitos de interesse de Trump, sua retórica agressiva contra minorias e o confronto com Lewis levaram congressistas democratas a romperem com a tradição. Os 26 que anunciaram o boicote por razões políticas representam 11% do número de integrantes do partido no Senado e na Câmara.

Professor de Ciência Política da Southern Methodist University, Carl Jillson disse que não é incomum parlamentares deixarem de comparecer ao evento por questões práticas ou pessoais. Segundo ele, o que é distinto no movimento atual são os anúncios públicos e o fato de que as decisões têm natureza política. Jillson ressaltou que a vitória de Hillary no voto popular por uma diferença de 2,9 milhões de votos é outro fator que incentiva o boicote.

Tanto Jillson quanto Susan MacManus, professora da Universidade do Sul da Flórida, acreditam que a decisão dos 26 parlamentares reflete a profunda divisão dos EUA. "O grau de polarização do país é o mais profundo em anos", observou Jillson. "Nunca vi uma divisão tão extrema em minha vida", afirmou Susan, que tem 69 anos.

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Em um contraponto ao confronto com Lewis, Trump se reuniu ontem com Martin Luther King III, filho mais velho do líder do movimento pelos direitos civis. Realizado no aniversário de nascimento de King, o encontro teve o objetivo de discutir medidas que facilitem o exercício do voto.

O herdeiro do mais célebre ativista americano classificou a conversa de "extraordinariamente construtiva" e evitou falar sobre as declarações de Trump e Lewis. "No calor das emoções, muitas coisas são ditas de ambos os lados", desconversou.

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