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Todos os caminhos levam a Berlim

A Europa em convulsão política e a teimosa letargia merkeliana

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Por Fátima Lacerda
Atualização:

Agora não e mais exclusividade da Alemanha ser comparada aos nazistas. Os holandeses também foram chamados de "antidemocratas" pra baixo por Erdogan, o homem que, por estar com a corda no pescoço poucas semanas antes do referendo, está tocando fogo político na Europa.

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Ao contrário do governo Merkel, que tem rabo preso com o governo turco devido ao "Acordo de Refugiados" fechado entre a UE e a Turquia, a Holanda não se deixou intimidar pelo imprevisível e colérico de Ancara. Se Merkel já era chegada a vista grossa, depois do acordo fechado com um país no caminho sem volta, Merkel assiste da varanda da Chancelaria Federal com vista deslumbrante de Berlim, sua força política minguar, 6 meses antes das eleições que constituirão o novo parlamento. 

Ida às urnas

Os holandeses foram às urnas quarta-feira (15). Em abril é a vez dos turcos votarem se aceitam presidencialismo com o poder inteiro na mão e um opressor que, atualmente. mantém 150 jornalistas presos, a maioria deles sem acusação formal e sem um processo justo. Erdogan ainda acusa o jornalista alemão turco (atualmente preso), Deniz Yücel de "propaganda terrorista" e, com sordidez oportunista, o governo Merkel de nazista. Nos últimos dias, as ofensas foram de caráter pessoal diretamente à chanceler que permanece calada enquanto as redes sociais pipocam com criação inflacionária de #hashtags. A mídia auto-batizada politicamente correta não se contem de extasiante regozijo pelas pautas quentes que chegam todos os dias na redação ou na linda do tempo do Twitter sem que se precise pesquisar por elas.

Depois dos ministros do gabinete Merkel esbravejarem em suas contas do Facebook e Twitter, foi a vez de Peter Altmeier, chefe da chancelaria, articulador de governo e tipo cão de guarda de Angela Merkel, em se pronunciar. Nomeado para dar conta da batata quente da incumbência de "Coordenador da Organização de Assuntos de Refugiados", depois que o Ministro do Interior fracassou na incumbência, Altmeier goza de total confiança da chanceler. Ele, que até pouco tempo, em programas de fim de noite na TV vendia seu peixe como "o rosto simpático do governo Merkel", o gordinho boa praça agora saiu do armário como Hardliner dando a cara para bater e, substituindo a chanceler no quesito "mostrar serviço" (ou seria "correr atrás do prejuízo"?).

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Em 11 anos de governo, Merkel nunca esteve tão politicamente sozinha depois que seus aliados europeus foram escorraçados ou, no mínimo, neutralizados pelos eleitores. Mesmo assim ela continua apostando na teimosia da "Casa Europa" no formato obsoleto de outrora.

Quando a casa está pra cair, pode-se achar que o melhor a fazer, e não se mexer, não sair do lugar. Ficar parado pode também ser estratégico, antes das eleições, mas também pode ser fatal e Merkel pode ser punida pela história com esse Laissez-faire perante às ofensas e calúnias vindas de Ancara.

Holanda

Os holandeses foram convocados as urnas e a imprensa europeia estava aguardando o próximo terremoto depois do Brexit e depois da vitória de Trump.

O fantasma loiro chamado Gert Wilders, fundador e chefe do partido de extrema direita Partij voor de Vrijheid (Partido pela Liberdade) vem semeando ódio no país, que outrora, ela exemplo de uma politica de imigração liberal para toda a Europa. O principal inimigo do holandês vaidoso são os muçulmanos que ele abomina e diz temer "A islamização da Holanda". Cometendo desonestidade histórica e sendo leviano, ele comparou o Corão com o livro "Minha Luta", escrito por Adolf Hitler. Não importa o solo. Quando o nacionalismo e o populismo de direita extrapola suas fronteiras políticas e territoriais, só há perdedores. Em qualquer lugar.

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Turquia

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Em abril, no dia do referendo, a Turquia mostrará mais uma vez, que está se lixando para se irá ou não fazer parte da UE. Já foi o tempo em que os turcos residentes na Alemanha se importavam se eram bem quistos pelos alemães. Hoje em dia, não ser pessoa bem quista pelos alemães virou um selo de qualidade para turco que não é "banana", acometido por um sentimento de despatriado, obtém, finalmente a chance de ser "repatriado" através do nacionalismo.

França

A populista de direita, Marine Le Pen já entrou para os livros de história. Ela será a protagonista da eleição mais temida do mundo, depois da certeza da vitória de Donald Trump. Nem mesmo o Brexit, falando em âmbitos europeus, foi um tremor de terra tao grande como será se a chefe do Front Nacional for eleita presidente.

Em entrevista ao programa "Hard Talk" veiculada em outubro de 2016, LePen garantiu que se sair vencedor, sua primeira medida será encaminhar o referendo do Frexit. A entrevista não tem "somente" essa informação como conteúdo incinerável, mas também a sia aversão aos muçulmanos.

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Alemanha

Em setembro próximo Angela Merkel terá a eleição mais apertada e mais incerta de sua longa carreira. Martin Schulz, o social-democrata, um tipo "Titio legal" e de consciência social, largou o caro de Presidente do Parlamento europeu, foi para Berlim e se tornou uma ameaça concreta à reeleição da chanceler. Independente do resultado, as próximas eleições alemães serão determinantes para as bases de governo do CDU, partido de Merkel. Enquanto setembro não chega, a chanceler fica no canto, no come quieto esperando a tempestade passar, digo, fazendo vista grossa.

Até quando?

Foi o governo holandês que no sábado (12) agiu como a Alemanha já deveria ter feto há muito tempo. Mostrar com determinação que a ambição de angariar votos para o referendo na Turquia não podem ultrapassar o território turco. Foi negada autorização de pouso para a aeronave em que se encontrava Fatma Betül Sayan Kaya, Ministra turca nas pastas de família e assuntos sociais. Achando-se esperta, a ministra tentou chegar de carro ao Consulado Geral de Roterdã, mas encontrou na rua uma unidade especial da polícia holandesa. É assim que se faz. Com determinação e tolerância zero quando se trata de falcatruas e espertezas.

Um Iceberg?

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O braço direito de Merkel, Peter Altmaier declarou cogitar "proibir a entrada de políticos turcos na Alemanha", com o intuito de fazer campanha eleitoral para Erdogan. Essa pincelada de Altmaier é um recado da chanceler, que não pode contra-atacar com paúra do déspota desfazer o "Acordo de Refugiados" que a Turquia tem assinado com a UE.

Na manhã que quinta-feira (16) a Europa pode dar uma aliviada no tremor de terra político por aqui. Mesmo que Wilders (PVV) tenha perdido claramente e declarado que "não rolaram os 30 assentos" (no parlamento) que esperava, o apelidado "Mozart" mudou a Holanda que agora precisa colher os cacos de um país divido, de um solo fértil para os Haters de plantão. E eles são muitos! A situação não é diferente na Alemanha, na França, na Inglaterra. O discurso é o mesmo. Só mudam os protagonistas e, por vezes, a intensidade.

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