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Todos os caminhos levam a Berlim

A volta dos Vikings, o ballet de Boateng e os justiceiros de plantão

E ainda há quem reclame da falta de sul-americanos e africanos na Eurocopa, classificando os jogos de "uma lástima". É preciso "olhar para além da beirada do prato", como ensina um ditado alemão, para alcançar, entender o que acontece no olimpo futebolístico no velho continente: mudança de paradigmas, certezas absolutas descendo ladeira abaixo e um país escondido, tem seu momento de glória e nos relembra o caráter mais genuíno do futebol: torcer, torcer, torcer como se não houvesse amanhã e pelo prazer de estar em equipe daquele perdido "jogar bonito", dar a ultima gota de suor pelo time.

Por Fátima Lacerda
Atualização:

O que a equipe da Islândia e também de Wales desencadearam no mundo é a volta da essência do futebol da sua forma mais genuína. Algo fora dos padrões e podridões da FIFA, da CBF, da UEFA e dos grandes magnatas por trás dos clubes de prestigio.

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Tivesse alguém feito o prognóstico que um país chamado Islândia eliminaria o time do país-mãe do futebol, o país de Friedenreich, ela ou ele seriam acusados de terem acompanhado Glória Maria em sua recente viagem à terra de Bob Marley.

A partida contra a Inglaterra foi mais do que uma sensação futebolística em toda a história do torneio europeu. Foi uma humilhação tendo como protagonista a equipe que já mostra a vontade de vencer o jogo na forma em que canta o hino, como procedentemente constatou o portal "Doentes por Futebol" em sua conta no Twitter.

Na noite de domingo (03) depois de ser eliminada pela seleção da França, a Islândia mostrou porque já é o time campeão dos corações. Incontáveis jornais alemães e suas contas no twitter louvaram e agradeceram a equipe dos Vikings pela presença na Copa: "Foi um presente!" atestou o jornal Berliner Zeitung. "Danke!" publicou o portal Spiegel Online.

A Hectormania e a ferida aberta do 7 x 1

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No mais tardar depois da vitória contra a muralha italiana, a Nationalelf não "só" neutralizou o trauma de nunca ter vencido a Itália num torneio, mas deu o pontapé final para uma euforia que acomete o país. Até mesmo a autora deste texto, até bem pouco tempo relutante em torcer para o time que esfregou na nossa cara a miséria em que se encontrava e se encontra o futebol brasileiro se rendeu, sim, à atratividade com a qual joga futebol  o time de Joachim Löw. Me rendi também à eficiência-cool de Toni Kroos, ao paredão, a acrobacia virtuosa (vide jogo contra a Ucrânia) e ao ballet de Jerôme Boateng na partida contra a Squadra e também  na eficiência na dobradinha com Mats Hummels na defesa.

Me deixei encantar pela disposição de ralar quilômetros de Thomas Müller correndo uma maratona dentro do campo com o único objetivo para distrair e desconcertar o jogador defesa da Itália cavando espaço no meio campo para que a bola pudesse chegar aos pés ou a cabeça de Mario Gomez. Essa era a estratégia de Löw para o ,,previsível jogo tático contra a Itália": arrumar  lugar no miolo do campo, ocupá-lo e passar a bola para o atacante.

A Hectormania, envolvendo Jonas Hector, jogador do 1. FC Köln e absolut beginner na seleção, iniciou nas redes sociais logo depois do final da partida.

Hector mostrando ter sangue frio pra dar e vender, bateu com sucesso o último dos ao todo 18 pênaltis garantindo a vitória da Nationalelf sobre a Squadra pela primeira vez em 40 anos.

O número 1

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Mesmo sendo só reverência para "Gigi" Buffon, ele sim, um verdadeiro Deus do Futebol (Fußballgott), não há como não tirar o chapéu para o número 1 da Nationalelf. Manuel Neuer, que quando estreou na seleção alamã, Buffon já contabilizava 90 jogos na "porta" da Squadra Azzurra. Não há como negar que Neuer foi, nesta partida, especialmente, brilhante; teve nervos de aço na hora em que se mais se precisava deles. O seu "espreguiçar" pulando se fazendo grande antes de cada chute de pênalti o faz intransponível e como pudesse cobrir cada cantinho do gol. Fenomenal a frieza misturada com 100% de total concentração.

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Já o grande Buffon falhou na hora H. O respeito ao atual campeão do mundo foi maior.

Neuer segurou os chute des Simone Zaza (especialmente trocado para marcar pênaltis nos 121. minutos) e de Graziano Pellè. Com isso, superou a primeira barreira para se tornar um Deus do Futebol, que, ao contrário do que divulga a imprensa europeia (francesa, italiana, alemã) na manhã desta segunda-feira (04), ele ainda não é da classe de um Buffon.

O início da partida, quando os capitães aguardavam o sorteio de qual lado do campo jogariam, viu-se a imagem do número 7, da camisa de Schweinsteiger e o número 1 da camisa de "Gigi" Buffon. Imediatamente torcedores brasucas sucumbiram no clima deprê de ,,Dejá vù?" Começou a depressão e o masoquismo nas redes para algo que nunca poderemos mudar. Porém ficar pintando o diabo na parede por achar que e conspiração do destino, não leva a nada. A ferida é tão profunda, que um amigo meu, analista esportivo do Brasil, ao ouvir que o equipamento da TV alemã havia sido roubado, ele retrucou:" Bem feito 7 x 2!" 

Ser cool

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O ser descolado e cool de Toni Kroos e de Manuel Neuer não é por acaso. Também o técnico Joachim Löw é só tranquilidade. Antes e depois da partida contra a Squadra Azzurra.

Na coletiva da manhã  de segunda-feira (05), perguntado sobre a partida  valendo uma vaga na Final contra a França jogando em casa e com todo o respaldo da torcida e se ele não teria medo, Löw respondeu: "No Brasil também foi assim. A seleção tinha 200.000.000 de torcedores pelo time na semifinal...." arredondando com um sorriso maroto e sinalizando que fatores como esses ou mesmo "teorias do passado" sobre "trauma", "fantasmas" não o interessam. "Isso não importa. Não é o passado, mas estar focado no presente", declarou o budista com a serenidade de quem acabara de buscar o pão na padaria e não de um que está bem perto de atingir o auge de sua carreira, caso consiga a dobradinha de Campeão do Mundo e do Europeu de futebol.

A Bavária e suas mazelas

Markus Söder é um tipo bobo da corte num "reinado" chamado Baviera, região essa, que da perspectiva prussiana é "fora da Alemanha" tal a diferença cultural, social e financeira entre os dois solos. E a recíproca é verdadeira. Da perspectiva dos bávaros, Berlim é um lugar caótico, sem governo e cheio de gente doida, muito politizada e muito revolucionária demais.

Esse mesmo bobo da corte vem aguardando para tomar o lugar do atual Ministro Presidente da Bavária, Horst Seehofer, e entrar na tradição do poderoso Franz-Josef Strauss, emblemático Ministro Presidente (1978-1988) e que transformou a Baviera num polo de tecnologia de ponta e isso sem criar uma dicotomia com a tradição da calça de couro e ao apego à regionalidade. 

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Vestindo um chapéu com as cores da bandeira alemã e segurando um prato onde continua uma gordurosíssima pizza salame, ele comentou: "Que loucura esse jogo! Nós esperamos por isso durante 40 anos. Só mais uma coisa: "Nunca mais um pênalti marcado por Özil. A partir de agora, só jogadores jovens".

O bobo da corte mencionou Özil não "somente" porque ele jogou pra fora o pênalti na partida contra a Itália, mas pelo fato o jogador do FC Arsenal não ter um nome germânico. Além disso, Özil é declarado membro da religião muçulmana. Como se isso "não bastasse", ele ainda faz peregrinação em Meca, tira foto e ainda posta no seu Instagram! Sem medo de ser feliz. Isso é "ousadia" demais para o bávaro conservador.

Depois do Shitstorm angariado, Söder deletou o post, mas a internet é como Angela Merkel. Nunca esquece nem perdoa.. A atitude mostra também, que nem a vitória memorável da Nationalelf sobre a Squadra Azzurra foi suficiente para acariciar seu ego germânico bávaro do bob da corte bávara. Que nada! Ele tem que vomitar a sua xenofobia disfarçada de um patriotismo capiau.

Falando em patriotismo...

Na UEFA Fan Fest no Portão de Brandemburgo em Berlim, neonazistas vem usando o torneio para destilar sua ideologia e, finalmente, se sentirem ,,alguém". Da fila do gargarejo vários fizeram a saudação hitleriana enquanto tocava o hino nacional, esse que continua o mesmo da época do Nacional-socialismo de Hitler tirando as duas primeiras estrofes, essas proibidas pelos aliados de serem cantadas depois da capitulação em 1945.

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Markus Söder não se difere muito dos neonazistas da Fan Fest , exceto no aspecto de que um solta o seu veneno no estilo do bobo da corte nas redes sociais e não parte para os finalmente nem para a violência física como fizeram os torcedores Hooligans em Lille.

Do outro lado do oceano...

Alexandre Frota, ex-ator de filmes pornô, o Jean-Claude Van Damme tupiniquim está na missão para "salvar o Brasil da podridão". Frota contratou seus amigos e colegas de academia (aprox. 70) para protegeram a advogada Janaína Paschoal de "emboscadas" e "ataques" como recentemente acontecidos no Aeroporto de Brasília. Em vídeo, o ex-de Claudia Raia, justiceiro e com a "missão" pela "limpeza" da sociedade brasileira, se lixa para a constituição e para os aparatos que devem investigar crimes cometidos dentro de um Estado de Direito.

"Nós vamos embarcá-la e desembarcá-la. Em SP, no RJ e em Brasília. Nós não vamos levar desaforo pra casa". avisado!

O mesmo que agora quer bancar de protetor de mulheres desamparadas, chamou o ator José de Abreu para a briga  de cupse e esculachoue zoou nas redes o músico Tito Santa Cruz quando foi ,,recebido" no Ministério da Educação e da Cultura do governo interino. 

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As redes sociais, como plataformas que oferecem anonimidade estão cheias desses auto-batizados justiceiros, deste como do outro lado do Atlântico. Uns acomedidos de ânsias arianas no ideal germânico e outros com incurável síndrome de vira-lata e que por falta de qualquer talento, lutam de todas as formas para driblar a sua própria insignificância e o perigo do ostracismo.

Saudação hitleriana

Desde o primeiro jogo contra a Ucrânia, no jogo contra a Polônia durante as pré-eliminatórias e também no último jogo contra a Itália, neonazistas foram vistos na UEFA Fan Fest em Berlim fazendo a saudação hitleriana enquanto tocava o hino nacional alemão.

Somente depois de muita pressão da mídia no contexto do jogo da Ucrânia, foi que o Ministério Público abriu inquérito e, agora, apela por informações da população para localizar o elemento fotografado de costas.

O elemento também entoava a primeira e segunda estrofes do hino nacional alemão, que diz: "Alemanha, Alemanha, acima de tudo", o que na linguagem neonazista significa questionar a soberania de outros estados e suas linhas demarcadoras de fronteiras. Depois da perda da Segunda Guerra Mundial e da capitulação foi proibido pelos aliados que os alemães cantassem a primeira e segunda estrofe do hino, que hoje tem somente uma a terceira.

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Já nos jogos contra a Polônia e contra a Itália, os elementos foram presos de imediato, em flagrante. Os neonazistas, de respectivamente 19 e 22 anos de idade confessaram o ato ainda durante o primeiro interrogatório.

A saudação hitleriana é crime e resulta, no mínimo, em multa de alto valor senão pena de prisão, independentemente, se a motivação para a saudação hitleriana foi por motivo político ou não e se o autor estiver alcoolizado ou não. Com essa precedência, a Promotoria quer banir do setor público "manifestações anticonstitucionais", explica o portal jurídico Rechtsindex (Index jurídico).

Os Vikings islandeses ainda não tem Hooligans e não é "só por isso" são o país mais querido da Europa no momento. Jornais já começaram a veicular matérias de turismo sobre o país do gelo.. Qual o melhor lugar para assistir futebol em Reiquiavique ou como curtir a natureza do país? Ao invés de hinos de conteúdos obsoletos de um passado cinzento, as redes sócias alemães estão aprendendo a cantar com o Embaixador da Islândia em Berlim, como torcer em islandês.

Gudmundur Benediktsson, comentarista que surtou durante gol da Islândia na partida contra a Áustria está prestes a perder seu emprego, mas isso nada tem a ver com o seu êxtase vocal que varou o mundo.

Como co-treinador da equipe KR Reykjavik da primeira divisão islandesa, seus colegas estão com a corda no pescoço. Depois de 3 derrotas locais, a equipe técnica está para ser despedida e seus colegas estão uma fera com a ausência de Benediktsson, que atua como jornalista free-lance para a TV.

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Vale a pena ver de novo:

https://www.youtube.com/watch?v=9ns9puEM-nw