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Todos os caminhos levam a Berlim

Voar em tempos de terror, companhias aéreas e suas diferenças culturais

Já faz muito tempo em que voar era símbolo de status ou de alegria.

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Por Fátima Lacerda
Atualização:

O Concorde não existe mais, o charme da ponta aérea Rio-São Paulo também se foi desde que o Aeroporto Santos Dumont virou um campo de batalhas entre a máfia de empresas de táxis do Rio de Janeiro e o Ueber. Já faz tempos que a vista da silueta do Pao de Acuçar nos fazia suspirar ao aterrissar em solos cariocas.

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Depois de 11 setembro de 2001, as medidas de segurança e de precaução nos oferecem uma palinha do que se tornou a aviação comercial.

Em voos para Israel a cabine do piloto e fechada por dentro. Nem mesmo a aeromoça, chefe de bordo, pode abrir. Essa mudança foi feita logo depois do ataque às torres do WTC em Nova Iorque.

Na noite de Réveillon de 2016/2017 um passageiro no voo da Austrália para São Francisco viralizou nas redes sociais por reclamar com a aeromoça ter sido colocado entre dois passageiros "com o mesmo sobrenome! que não paravam de falar num dos trajetos mais longos da aviação Internacional. Ao invés de contornar o problema de forma rápidas, soberana e decisiva, a aeromoça se deixou o influenciar por passageiros que já tiravam os celulares do bolso para protocolar os acontecimentos, incluindo o passageiro envolvido, ironizar :"Não seria um inusitado legal eu ser responsável pela parada especial do avião na Nova Zelândia?" e ainda ofendê-la. A aeromoca pecou pela relutância e pelo caminho mais fácil, tentando apelar para a coerência, que nesse momento, já havia caído por água abaixo. Os celulares prontos para "eternizar" o momento foram o estopim que faltava para que o passageiro jogasse tudo no ventilador.

Num outro avião da Delta Airlines, um passageiro foi removido da aeronave por ter falado em árabe com seu companheiro de viagem.

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Tudo indica que os tempos de ataques terroristas ainda não foram graves o suficiente para que empresas aéreas investissem na otimização e preparo de comissárias e comissários para lidar de forma soberana e, acima de tudo, decidida em casos que podem atingir todos os presentes na aeronave e cauar imenso prejuízo. É preciso usar a coerência e não se deixar levar pelo medo, como no caso dos passageiros que "se sentiram incomodados" com os dois jovens falando árabe.

 

Lisboa-Barcelona pela TAP

No trajeto que dura um pouco mais de uma hora e meia, o voo daquela manhã de segunda-feira foi bem complicado. A abertura do portão de embarques no Aeroporto de Lisboa foi feita com atraso. Por consequência, a entrada dos passageiros na aeronave, esbaforida. Mas isso se tiraria de letra, não fossem uma mãe e filha portuguesas mostrando do um comportamento altamente associal. Sentada na quarta fileira, no assento 04D, fui, involuntariamente, testemunha ocular de um espetáculo deprimente, estarrecedor e evitável.

Por partes

Do assento 04 D presenciei a atitude bombástica de mãe e filha portuguêsas. Quando a filha percebeu que o compartimento acima do assento ainda exibia lugar vago (mesmo já contendo uma bagagem), enlouquecida e em tom de quem não está para brincadeira, ordenou à mãe:" Pega a mala! Pega a mala!!!" A mãe, obediente nadou contra a maré da fila dos que tentavam adentrar a aeronave e, ignorando a advertência da chefe de bordo, adentrou o compartimento fora do avião onde ficam armazenadas as malas. Voltou com 2 bagagens de um tamanho exacerbado para levar como mala da mão. A filha, muito ativa, pegou as malas, empurrou a mochila que já continha ali e empurrou as duas malas para dentro do compartimento mediante à força bruta. Um alemão, sentado na fileira atrás de mim e que já não encontrara lugar vago no compartimento acima da nossa fileira, com muita pressa e urgência tentou um lugarzinho no compartimento que, no momento, já havia sido avistado pelas duas estressadas. Ao ver o alemão se aproximar, a mãe gritou "Esse é meu!", empurrando-o para o lado. Ele, irado, em inglês, mandou "FDP" o que foi ignorado pela mulher, mas sim, entendido por todos ao redor. Ele voltou para o assento com a cabeça roxa de tanta raiva. O clima entre os passageiros aumentava no quesito tensão. Aquelas duas eram uma bomba que poderia explodir a qualquer momento. Olhares tentavam disfarçar a curiosidade na esperança pueril de: "Aquilo que você não toma conhecimento, não existe. Quem dera fosse tão fácil.

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Ana Paula, comissária chefe de bordo do voo TP 1038 do dia 02 de janeiro andava de um lado para o outro. Falava ao telefone. Falava com o comandante Ketan Nautamlal que várias vezes entrou e saiu da cabine sem um motivo claro. Cada vez a fisionomia da simpática chefe de bordo era de maior desagrado por estar sendo desafiada perante a todos os passageiros das primeiras filas da aeronave. Tentando manter a autoridade, Ana Paula se dirigiu ao assento da mãe e da filha (na janela estava sentada uma jovem mulher com o cachorro dentro de um compartimento e que cada vez mais expressa o desagrado de ter "entrado de gaiata no navio" e dava sermao nas duas abusadas e que, para disfarcar, quando Ana Paula terminou, disseram "Obrigada".

CONTiNUA APÓS PUBLICIDADE

Á Ana Paula faltava o respaldo corporativo para agir como deveria ter sido feito mesmo depois da mãe ter desafiado sua autoridade, dizendo: "Eu posso falar com o comandante", ( e obteve como resposta de Ana Paula "Quem manda na cabine sou eu!" Um comportamento desses causa, sem necessidade, um clima tenso e instiga agressividade e constrangimento, nesse caso para a chefe de bordo e o mais importante de tudo: poderia ter sido evitado com uma atitude clara e rápida para cortar o mal pela raiz, como manda a dialética alemã. Não tem bate-boca e nem muita choradeira, é anunciada a decisão e finalizado o conflito. Num âmbito de aviação comercial essa é a melhor maneira de evitar transtornos, atrasos e um estresse desnecessário para todos. Para se vingar do sermao anterior, durante o voo a mão se levantou, se plantou na primeira fileira e tirava satisfacão com a Ana Paula enquanto mostrava as costas para os passageiros, em sua esmagadora maioria nao entendia português. Ponto para a mãe e, até que se prove que fucinho de porco é tomada, a chefe de bordo, Ana Paula, parecia tomar um sermão, ao vivo e a cores. De novo: Por uma questao de relutância, sim, de mentalidade, a TAP nao poupou a sua chefe de bordo de um constrangimento terrível e desnecessário e não poupou seus passageiros de um espetáculo ridículo.

Quando o clima estava ficando insuportável, eu levantei, me apresentei à Ana Paula e informei que a agressividade estava aumentando e se não se poderia desacelerar aquilo. A chefe de bordo me contou toda a história (especialmente a parte de adentrar o compartimento somente permitido para funcionários do aeroporto) e declarou estar esperando resposta da TAP. "O comandante disse que se faltar espaco para a mala de alguém, as malas terao que ser retiradas", assim a desculpa esfarrapada da companhia aérea.

TAP x Lufthansa: Diferençasculturais?

Voar pela TAP no trajeto Berlim Lisboa foi tranquilo, apesar do aeroporto internacional de Berlim a onda não estar pronto e só Deus sabe se um dia ele estará. E simplesmente incrível e (mesmo vivendo aqui por 28 anos) como os alemães sabem simplificar a vida!

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Com o meu cartão de embarque digital, mostrei o celular, a funcionaria, mal olha do pra minha cara, acolheu as malas e me deu a etiqueta e isso foi tudo. A demora no Aeroporto de Tegel foi a fila e a hora de abrir a aeronave, mas nada dramático. Comparando Tegel com o saguão da TAP no aeroporto de Lisboa, e comparar o Vasco da Gama com o Borussia Dortmund. O número de pessoas que presenciei no saguão da TAP em Lisboa é um caso histórico e coisa de português mesmo. Um saguão para embarque para todos os destinos que a companhia faz com aproximadamente 1000 pessoas ali numa fila interminável. Certa vez alguém disse:" No balcão do Check-In você pode ter um infarto!" e ele, provavelmente será num aeroporto alemão, já que o alemão não discute: ele da ordem e se você estiver na onda do "Ihhh, foi mal" isso será desmembrado em problema, em desvantagem, para dizer ao mínimo.

Em Lisboa, eu percebi que na fila em que estávamos, a funcionaria precisaria de uma vida para fazer o procedimento com dois chineses. Mudamos de fila e a funcionaria deu o recado, mas era, constantemente, interrompida pela "outra" que ainda mastigava o abacaxi dos chineses.

Num avião da Lufthansa, não haveria nem um terço das discussões e do bate-boca entra a chefe de bordo e a passageiro associal e abusada. Só o fato dela ter burlado o regulamento de não poder acessar a área de cora do avião onde no compartimento de malas, seria o suficiente para que, a polícia entrasse na aeronave, as retirassem, fizessem um BO além dos bilhetes perderem a validade, ou seja, elas teriam que comprar outras passagens.

Que pena que a simpática chefe de bordo e a equipe ficaran de mãos atadas para tomar medidas de resultado imediato, evitando estresse, tensão e aborrecimento para muitos passageiros e sublinhando que um tipo de comportamento assim tão reprovável não e aceito.

Andar de aviao é muito mais do que uma tarefa logística que exige concentração o tempo todo; desde a chegada no aeroporto, que já no passado tinham um gosto amargo de despedida de quem a gente ama. No pós-globalizado e em tempos de terrorismo e de medos subjetivos e objetivos, o aeroporto, assim como voar se tornou mera necessidade para longas distâncias. Por isso, quanto mais autonomia e soberania a equipe de bordo tiver para, rapidamente, desacelerar o conflito, menos potencial existirá para que pessoas se comportem fora da linha e fora de qualquer âmbito de socialidade, além dessas medidas servirem como um aviso para aqueles e aquelas com imenso e perigoso deficit em competência social e empatia ou simplesmente cara de pau.

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