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De Beirute a Nova York

A equação da bomba atômica do Irã

Não houve acordo nesta rodada de negociações em Genebra. O otimismo, inclusive dos próprios chanceleres envolvidos, acabou não resultando em um acerto neste momento. Pode, porém, ocorrer no próximo encontro. Os lados envolvidos ainda precisam convencer céticos nos dois lados. E existe razão para o ceticismo mútuo.

Por gustavochacra
Atualização:

O Irã, hoje, teria a capacidade de produzir uma bomba atômica em dois meses. Já chegou a este patamar. Conforme mostra o New York Times em gráfico, o regime de Teerã possui 6.774 kg de urânio a 3,5% e 186 kg a 20%. Com as 19 mil centrifugas existentes, daria para enriquecer este patamar para 90%, suficiente para construir uma arma nuclear, em 1,6 meses - isto é, um mês e 18 dias.

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6.774 kg de urânio 3,5% + 186 kg de urânio 20% + 19 mil centrífugas = Urânio a 90% (capacidade de construir bomba atômica)

Além disso, o Irã pode levar adiante o enriquecimento em usinas como Fordo, não alcançáveis em um ataque convencional de Israel e mesmo dos EUA. Por último, há a opção iraniana de chegar a uma bomba atômica pela via do plutônio em sua instalação de Arak.

Os EUA e seus parceiros do Sexteto, composto pelos cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU (EUA, Rússia, França, Reino Unido e China), mais a Alemanha, querem, em um primeiro momento, frear esta capacidade do Irã por meio da redução de suas atividades nucleares.

. As centrifugas precisariam deixar de funcionar, novas não poderiam ser fabricadas e o urânio já existente enviado ao exterior. Na prática, retiraria a capacidade iminente de o Irã produzir a bomba. Também exige inspeções intrusivas da Agência Nuclear de Energia Atômica para ter certeza de que o regime esteja respeitando o acordo. Pelo menos alguns destes itens precisariam ser aceitos pelos iranianos.

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 A França também demanda uma maior restrição na questão do plutônio em Arak. O Irã argumenta que a usina é para pesquisas. Mas o tamanho das instalações são oito vezes superiores a qualquer outra similar no mundo.

Em troca deste acordo, os EUA e seus parceiros descongelariam bens iranianos, incluindo meios financeiros, no exterior. Outras sanções econômicas, incluindo no setor de petróleo, não seriam incluídas em um primeiro momento. Estas dependeriam de uma reavaliação e possíveis novas determinações nos próximos meses.

O governo do Irã é mais moderado e pragmático do que o anterior. Também estaria mais disposto a concessões devido ao grave estado da economia iraniana. Por outro lado, embora tenha o aval do aiatolá Khamanei, enfrenta resistência de facções mais conservadoras do regime de Teerã, incluindo a Guarda Revolucionária. O presidente Rouhani precisa fazer quase mágica para agradar o Sexteto e não entrar em rota de colisão com a Guarda Revolucionária. E as concessões seriam muito pequenas para vender como vitória internamente.

No outro lado, os EUA e seus parceiros enfrentam resistências de Israel, da Arábia Saudita e do Congresso dos EUA. Estes querem que o Irã abdique incondicionalmente de todo o seu programa nuclear e afirmam que o atual governo em Teerã é cínico e tenta ganhar tempo. As sanções não podem ser abrandadas porque elas têm funcionado, arumentam.

O Irã nega estar em busca de construir uma bomba atômica. Também vê com ironia que, tirando a Alemanha, todos os membros do Sexteto tenham armamentos nucleares. No caso de Israel, Teerã lembra que os israelenses sequer são signatários do Tratado de Não-Proliferação Nuclear.

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De qualquer maneira, mesmo sem o acordo deste fim de semana, o clima de otimismo foi mantido. As posições de Israel e, em menor escala, dos sauditas são importantes porque servem como pressão para Irã entender que a alternativa militar ainda existe.

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Guga Chacra, comentarista de política internacional do Estadão e do programa Globo News Em Pauta em Nova York, é mestre em Relações Internacionais pela Universidade Columbia. Já foi correspondente do jornal O Estado de S. Paulo no Oriente Médio e em NY. No passado, trabalhou como correspondente da Folha em Buenos Aires

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