PUBLICIDADE

Foto do(a) blog

De Beirute a Nova York

A mágica matemática libanesa para colocar inimigos mortais em um governo de união nacional

Como única nação do mundo sem maioria religiosa, tendo diferentes pluralidades (cristãos maronitas, muçulmanos xiitas e sunitas), os libaneses precisaram resolver suas diferenças com um acordo sectário para atingir uma balança de poder. Desta forma, o presidente é cristão maronita, o premiê, muçulmano sunita, e o presidente do Parlamento, muçulmano xiita. Drusos, cristãos ortodoxos, armênios, melquitas e outras minorias possuem seus cargos. O Parlamento é metade cristão, metade muçulmano (e druso), com suas subdivisões.

Por gustavochacra
Atualização:

Para complicar, as facções políticas se dividem em duas, com nomes de datas. Uma, a 8 de Março, conta com xiitas e cristãos. A outra, 14 de Março, com sunitas e cristãos. Os primeiros são aliados do Irã e de Assad. Os seguintes, dos EUA, Arábia Saudita e da oposição síria.

PUBLICIDADE

Eles divergem em praticamente tudo e têm um apoio quase idêntico da população libanesa. Você acha que democratas e republicanos nos EUA ou tucanos e petistas no Brasil divergem? Visite o Líbano e veja a que ponto chega o antagonismo.

Ainda assim, depois de 11 meses de governo interino, o premiê Tammam Salam conseguiu formar um governo de união nacional, levando em consideração todas as divisões religiosas e políticas, no esquema 8-8-8 - oito da 14 de Março, 8 da 8 de Março e 8 centristas (drusos ou ligados ao presidente Michel Suleiman e ao premiê). Antes que os desinformados venham dizer que o Hezbollah controla o governo libanês, vamos ver cada um dos ministros pela sua religião e seu grupo político.

Ministros Centristas

Primeiro Ministro, Tammam Salam, muçulmano sunita

Publicidade

Vice-premiê e ministro da Defesa, Samir Moqbel, - cristão grego-ortodoxo

Ministro da Saúde, Wael Abu Faour - druso

Ministro da Agricultura, Akram Shehayyeb - druso

Ministro do Meio-Ambiente, Mohammad Mashnouq - sunita

Ministro dos Deslocados, Alice Shabtini - cristã maronita

Publicidade

Ministro dos Assuntos Sociais, Rashid Derbas - muçulmano sunita

Ministro dos Esportes e da Juventude, Abdul Muttaleb Al-Hinawi - Muçulmano xiita

 Ministros da 14 de Março (sunitas e cristãos)

Ministro do Interior,Nuhad Mashnouq - muçulmano sunita

Ministro das Telecomunicações, Boutros Harb - cristão maronita

Publicidade

Ministro do Trabalho, Sejaan Azzi - cristão maronita

Ministro do Turismo, Michel Pharaon - cristão melquita (grego-católico)

Ministro da Informação, Ramzi Joreige - cristão grego-ortodoxo

Ministro da Justiça, Ashraf Rifi - muçulmano sunita

Ministro da Economia, Alain Haim - católico romano

Publicidade

Ministro de Estado, Nabil De Freij - protestante

Ministros da 8 de Março (xiitas e cristãos)

Ministro da Energia, Artur Nazarian - cristão Armênio-Ortodoxo

Ministro da Cultura, Remon Areiji - cristão maronita

Ministro da Educação, Elias Abu Saab - cristão maronita

Publicidade

Ministro das Relações Exteriores, Gebran Bassil - cristão maronita

Ministro de Estado, Mohammed Fneish - muçulmano xiita

Ministro da Indústria, Hajj Hasan - muçulmano xiita

Ministro das Finanças, Ali Hassan Khalil - muçulmano xiita

Ministro dos Transportes, Ghazi Zeaiter - muçulmano xiita

Publicidade

Agora, a matemática

Número de ministros cristãos (independentemente da denominação) - 12

Número de ministros muçulmanos e drusos (independentemente da denominação) - 12

Número de ministros cristãos maronitas - 6

Número de ministros muçulmanos sunitas - 5

Publicidade

Número de ministros muçulmanos xiitas - 5

Número de  ministros drusos - 2

Número de ministros cristãos grego-ortodoxos - 2

Número de ministros cristãos grego-católicos (melquitas) - 1

Número de ministros cristãos armênio-ortodoxos - 1

Publicidade

Número de ministros protestantes - 1

Número de ministros católico-romanos - 1

Número de ministros homens - 23

Número de ministras mulheres - 1

Número de ministros do Hezbollah - 2

Número de ministros pró-Assad - 8

Número de ministros anti-Assad - 8

Conclusão - O Ministério libanês favorece os cristãos em detrimento dos muçulmanos. Isso é aceito por todos os lados. O Hezbollah tem 1/12 do governo, sendo completamente equivocado dizer que controlam o gabinete. Um terço dos ministros é anti-Hezbollah. As mulheres lamentavelmente quase não são representadas no Ministério, apesar de o Líbano ser disparado o país árabe mais liberal

Guga Chacra, comentarista de política internacional do Estadão e do programa Globo News Em Pauta em Nova York, é mestre em Relações Internacionais pela Universidade Columbia. Já foi correspondente do jornal O Estado de S. Paulo no Oriente Médio e em NY. No passado, trabalhou como correspondente da Folha em Buenos Aires

Comentários islamofóbicos, antissemitas, antocristãos e antiárabes ou que coloquem um povo ou uma religião como superiores não serão publicados. Tampouco ataques entre leitores ou contra o blogueiro. Pessoas que insistirem em ataques pessoais não terão mais seus comentários publicados. Não é permitido postar vídeo. Todos os posts devem ter relação com algum dos temas acima. O blog está aberto a discussões educadas e com pontos de vista diferentes. Os comentários dos leitores não refletem a opinião do jornalista

Acompanhe também meus comentários no Globo News Em Pauta, na Rádio Estadão, na TV Estadão, no Estadão Noite no tablet, no Twitter @gugachacra , no Facebook Guga Chacra (me adicionem como seguidor), no Instagram e no Google Plus. Escrevam para mim no gugachacra at outlook.com. Leiam também o blog do Ariel Palacios

 

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.