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De Beirute a Nova York

A questão do genocídio armênio

A Turquia está próxima de estabelecer a paz com a Armênia, ao mesmo tempo que terá de enfrentar, no fim de abril, mais uma vez, os armênios da diáspora em votação no Congresso americano sobre o reconhecimento do genocídio que teria sido cometido pelos turcos durante a Primeira Guerra Mundial - quando ainda era o Império Otomano.

Por gustavochacra
Atualização:

O ministro das Relações Exteriores turco, Ali Babacan, disse que a "Turquia e a Armênia estão mais perto do que nunca da paz". Segundo ele, se os Estados Unidos reconhecerem o genocídio, o processo será prejudicado. "Não estamos usando uma retórica ameaçadora. Não estamos dizendo que se aprovarem a resolução faremos isto ou aquilo. Honestamente, estamos dizendo aos americanos sobre a situação atual no Cáucaso. Uma resolução entre a Turquia e a Armênia nunca esteve tão próxima. É o ponto mais próximo desde 1915. Ainda não chegamos a um acordo, mas estamos muito perto de concluir", disse o chanceler.

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Na Armênia, também em uma atitude de aproximação, o premiê Tigran Sargsian convidou a Turquia para ajudar a construção de um reator nuclear. Recentemente, o presidente turco, Abdullah Gul, visitou Yerevan, capital armênia, para assistir a uma partida de futebol entre as seleções nacionais dos dois países. Apesar destes gestos, a fronteira permanece fechada, apesar de haver vôos entre Istambul e Yerevan, além de ônibus que saem da cidade turca de Trabzon, via Geórgia, até a Armênia.

Em Washington, em uma iniciativa contrária ao processo de paz, organizações da diáspora armênia, pelo segundo ano seguido, estão fazendo lobby para que o Congresso americano reconheça o genocídio armênios cometido pelos turcos, quando centenas de milhares de pessoas foram mortas nas mãos de soldados otomanos. Países como a França, Líbano e Argentina já reconhecem o episódio. A Turquia rejeita ter havido genocídio e argumenta que as mortes foram consequência da guerra. O governo de Ancara também possui um forte lobby na capital americana, além de contar com o apoio da AIPAC (organização lobbista pró-Israel), que costuma ajudar os turcos. O problema é que esta entidade está relutante em colaborar com a Turquia depois das críticas do premiê turco, Recep Tayyip Erdogan, à ofensiva israelense contra o Hamas na Faixa de Gaza.

Os armênios da diáspora não são originários do que hoje é o país Armênia. Na verdade, o povo armênio estava dividido, desde 1828, entre o Império Russo e o Otomano. Os que viviam na Rússia se tornaram independentes em 1918, mas foram conquistados pelo Exército Vermelho dois anos mais tarde e passaram, depois, a fazer parte da União Soviética. A reconquista da independência aconteceu em 1991. Na época, a Turquia foi um dos primeiros países a reconhecer a Armênia como um Estado independente. Já os que viviam na Turquia foram expulsos ou mortos ao longo da Primeira Guerra Mundial. Parte imigrou para onde hoje é o Líbano e a Síria. Outros foram para o Brasil, Argentina e Estados Unidos. Armênios libaneses dizem que não vêem Yerevan como a pátria perdida. Para eles, que dizem se sentir melhor no bairro de Burj Hamoud, em Beirute, a nação armênia deveria estar na Anatólia, perto do monte Ararat - símbolo do cristianismo armênio -, no lado turco da fronteira.

Já um acordo envolvendo a Turquia e o país Armênia não tem como principal entrave a questão do genocídio. Na verdade, os turcos racharam com os armênios de Yerevan quando estes invadiram a região de Nagorno Karabakh no início da década de 1990. Para a Turquia, o território faz parte do Azerbaijão e exige que os armênios o devolvam. A relação com os azeris é considerada fundamental para o governo de Ancara e a administração de Erdogan não está disposta a sacrificá-la em nome de Yerevan. Já para a Armênia, que passa por grave crise econômica, segundo, Richard Giragosian, do Amenian Center for National and International Studies, "é preciso abrir a fronteira com a Tuquia para melhorar a economia armênia". O corredor de gás que a Turquia pretende construir como alternativa à via russa poderia usar uma rota através da Armênia.

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Shalit - ainda sem solução

A negociação para a libertação de Gilad Shalit ainda não terminou. Mas muitos já apontam um fracasso. O Hamas tem interesse em que a haja um acordo, assim como Israel. O problema está nos detalhes. Os israelenses exigem que os libertados sejam exilados na Síria. O grupo palestino não aceita.

Egito está preocupado com futuro governo israelense

O Egito, que possui um acordo de paz com Israel, está preocupado com a composição do futuro governo israelense. No Parlamento Europeu, em Bruxelas, o ministro das Relações Exteriores do Egito, Abul Gheit, afirmou que "nós temos uma visão negativa da emergência de um governo de extrema direita em Israel". O anti-árabe Avidgdor Lieberman, do partido Israel Beitenu (Nossa Casa), deve integrar um possível governo de Benjamin Netanyahu. Os israelenses devem lamentar que Tzipi Livni não seja a próxima chanceler. Ela seria a parceira ideal para Hillary Clinton. Além de estar disposta a negociar com os palestinos a criação de um Estado Os cães de Istambul

Quem já esteve em Istambul deve ter reparado na quantidade de cachorros nas ruas. Todos andam soltos. Não tem donos. São de todos. O governo cuida da vacinação. Os habitantes os alimentam. Eles não sujam as calçadas. Sabem atravessar movimentadas avenidas respeitando o sinal vermelho. Não atacam ninguém. Orhan Pamuk escreveu sobre os cães. Estão nas ruas de Istambul há décadas. São uma marca da cidade. Imprensa americana em turco

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A Turquia tem CNN em turco, Newsweek em turco e Business Week em turco. Acho que é um dos poucos países a possuir tantos órgãos de imprensa americanos no próprio idioma

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Aeroportos

Peguei o avião ontem de Istambul para o Cairo, onde estou agora (em breve, posts sobre o país). Impressionante as diferenças quando comparado a Cumbica. Infelizmente, o nosso aeroporto ficou para trás, inclusive do de Beirute o do de Tel Aviv. Está no nível do Cairo. Completamente atrasado quando comparado ao Ataturk International, de Istambul. Aliás, a cidade turca tem bem menos pobreza do que São Paulo. No caminho para qualquer um dos aeroportos (o da Ásia ou o da Europa), quase não se vê habitações ruins. Isto cruzando os subúrbios da cidade.

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