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De Beirute a Nova York

A questão do Golã e o inócuo ataque verbal do chanceler de Israel ao regime sírio

As colinas do Golã eram da Síria quando o país se tornou independente nos anos 1940. Em 1967, depois de uma guerra, Israel ocupou o território alegando questões de segurança. Voltaram a ocorrer confrontos na guerra de 1973. Nos 37 anos seguintes, a região ficou calma, sem o registro de nenhum ataque, graças a um cessar-fogo negociado por Henry Kissinger. Nem mesmo durante a guerra civil libanesa ocorreram combates. Nos anos 1980, as colinas foram anexadas por Israel em ato considerado ilegal pelas Nações Unidas e não reconhecido por nenhum outro país do mundo, o que inclui os Estados Unidos. Os israelenses ainda utilizam o argumento da segurança para justificar a ocupação. Porém construíram estações de esqui e trilhas para caminhada, chegando a fazer propaganda em revistas americanas.

Por gustavochacra
Atualização:

O comandante da UNDOF (forças de paz no Golã) me disse, quando visitei as colinas em sua companhia em 2008, que Israel não precisa ocupar as colinas para garantir a sua segurança. Na verdade, segundo ele, a região é estratégica pela grande quantidade de água, em falta tanto em Israel como na Síria. No passado, diversas vezes, os dois países estiveram próximos de chegar a um acordo. Na última vez, em dezembro de 2008, as negociações entre Bashar al Assad e o ex-premiê Ehud Olmert estavam avançadas, com a mediação da Turquia.

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Agora, mais uma vez, diziam que os dois lados estavam prontos para se sentar de novo à mesa para dialogar. Até o ministro das Relações Exteriores de Israel, Avigdor Lieberman, decidir atacar verbalmente os sírios e atrapalhar a aproximação. "Eu acho que a mensagem precisa ser clara para Assad. Na próxima guerra, sua família perderá o regime. Você não continuará no poder, nem a sua família", disse. A declaração, segundo autoridades israelenses, teria irritado o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu. Afinal, o premiê de Israel sabe da incapacidade de Lieberman para ser chanceler do Estado mais avançado do Oriente Médio e com dezenas de profissionais mais qualificados para chefiar a diplomacia. Sabe ainda que o seu ministro apenas prejudica a imagem externa de Israel, inclusive com aliados como o Egito e a Turquia. Mas é obrigado a mantê-lo para a sua coalizão não cair. A situação seria mais simples se houvesse um acordo com Tzipi Livni, bem mais respeitada internacionalmente do que Lieberman.

A Síria certamente não é um exemplo de democracia. O regime reprime a oposição e exerce uma influência pouco saudável no Líbano. Mas, no mundo árabe, todos sabem que não há nada melhor para Israel do que o regime de Assad. Secular, que reprime os radicais islâmicos e, acima de tudo, mantém a fronteira no Golã calma. Verdade, tem uma aliança com o Irã (o Brasil e a Turquia também) e dá apoio ao Hamas. Em relação ao Hezbollah, a relação é muito mais complexa e nem cabe discutir aqui neste post. Apenas lembro que o comandante militar da organização morreu na explosão de um carro-bomba em Damasco.

Em vez de pensar em derrubar o regime sírio, Lieberman deveria incentivar as negociações. As colinas, obviamente, precisam ser devolvidas, mas Israel pode pedir contrapartidas. Como no caso do Sinai, exigir que os sírios não mobilizem tropas para a região. Insistir na manutenção das forças da UNDOF. E tentar manter pelo menos parte do fornecimento de água. No caso do Hamas, a Síria pode ser útil, servindo como mediador em um diálogo do Hamas com Israel. Acima de tudo, um acordo com a Síria pode ajudar a isolar o Irã, por mais que as relações entre Damasco e Teerã não sejam rompidas.

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