Estive em Honduras por três semanas cobrindo a deposição de Zelaya e fui agora à entrevista. Parecem dois mundos distintos. A maior parte do Parlamento, os dois principais partidos, a Suprema Corte, a Igreja Católica (forte em Honduras), os evangélicos, os jornais, os dois principais candidatos presidenciais e as Forças Armadas defendem o governo de fato de Roberto Michelletti.
Zelaya argumenta ter sido vítima de golpe. Já os governantes e todos os setores acima citados dizem que foi respeitada a Constituição. O texto é claro ao dizer que a Suprema Corte pode retirar os poderes do presidente caso ele tente alterar a Constituição. Não existe processo de impeachment, como no Brasil ou nos Estados Unidos. Zelaya convocou um plebiscito para uma consulta sobre uma mudança constitucional. Os juízes e o Exército entenderam que era uma tentativa de reforma e removeram o presidente, que foi colocado em um avião e expulso de Honduras. Em seu lugar, assumiu o presidente do Congresso, ironicamente pertencente ao mesmo partido.
Amorim concorda integralmente com a visão de Zelaya e chama todo o tempo os eventos em Honduras de golpe. Diz não reconhecer de forma alguma o governo de fato. O governo do Brasil, segundo ele, não conversará com Michelletti e as autoridades hondurenhas a não ser para temas como a coleta de lixo. Zelaya foi eleito como moderado, mas, durante o seu mandato, radicalizou o discurso e se aproximou de lideranças populistas como Hugo Chávez, Daniel Ortega, Rafael Correa e Evo Morales.