1. Primeiro, temos de entender quem são os houthis. Trata-se de um grupo étnico do norte do território iemenita que segue uma vertente do islamismo xiita conhecida como zaydismo. Representa cerca de um terço da população do país
2. Em segundo lugar, a religião (islamismo zayd, e não islamismo xiita) não é o principal definidor da identidade. Assim como no caso dos curdos, que são majoritariamente sunitas, pesa mais a etnia. Tanto que falamos "houthis" e não "zayds". No Iraque e na Síria raramente falamos que os curdos são sunitas ao lutarem, ao lado de milícias xiitas, contra o sunita ISIS (Grupo Estado Islâmico ou Daesh). Saddam Hussein (árabe e sunita, embora laico) massacrava os curdos, também sunitas.
3. Terceiro, os houthis são aliados de grupos árabes sunitas. São as facções do Exército leais ao ex-ditador Abdullah Saleh que, embora houthi de nascimento, foi por anos o maior algoz do grupo antes de se tornar um aliado.
4. Quarto, os houthis não são fantoches de Teerã. Possuem agenda própria e existiram independentemente do apoio dos iranianos. Insisto, são como os curdos para o Iraque. É diferente, por exemplo, do Hezbollah, que, sem o regime iraniano, possivelmente não teria sido criado - provavelmente a AMAL seguiria como o maior representante dos xiitas no Líbano. O Irã tampouco manda nos houthis, apesar do apoio logístico. Os houthis agem por conta própria.
5. Quinto, os houthis são inimigos da Al Qaeda na Península Arábica e do ISIS. Há duas semanas, o ISIS reivindicou o que pode ter sido o maior ataque terrorista da história da organização ao explodir mesquitas frequentadas por houthis no Yemen.
6. Sexto, o presidente deposto Hadi também é inimigo da Al Qaeda na Península Arábica. Para os EUA, Hadi tinha a vantagem de coordenar os ataques com Drones. Não se sabe como seria com os houthis, que entoam o grito de "Morte aos EUA", embora seu líder diga que se trata apenas de slogan e indicou estar disposto a trabalhar com os EUA para combater o terrorismo.
7. Sétimo, os houthis vêm sendo classificados como extremistas. Para padrões ocidentais, certamente são. Mas, para padrões do Yemen e mesmo do Golfo Pérsico não são. Lembro que o Yemen é uma nação ultra conservadora mesmo para o mundo árabe, ficando atrás apenas da Arábia Saudita, tem a quase totalidade de sua população adulta viciada em droga (qat) e um dos maiores percentuais de homens armados, normalmente com fuzis, do mundo.
Guga Chacra, comentarista de política internacional do Estadão e do programa Globo News Em Pauta em Nova York, é mestre em Relações Internacionais pela Universidade Columbia. Já foi correspondente do jornal O Estado de S. Paulo no Oriente Médio e em NY. No passado, trabalhou como correspondente da Folha em Buenos Aires
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