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De Beirute a Nova York

Assad matou a Síria; o Ocidente no máximo conseguirá ajudar a enterrar

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Por gustavochacra
Atualização:

no twitter @gugachacra

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A expulsão dos embaixadores sírios na Europa apenas deixa claro que o Ocidente não sabe como interromper a guerra civil na Síria. Afinal, por mais trágico que possa ser, não há saída no curto e médio prazo. A solução iemenita é uma piada que não funcionou nem no Iêmen. Basicamente, tira o dente podre (Saleh) para deixar banguela, com um novo governo incapaz de controlar a própria capital. Na Síria, seria igual ou pior pois tem a questão sectária.

Aos poucos, os países ocidentais apenas tentarão alterar a balança a favor da oposição, enquanto buscam convencer a Rússia a endurecer com Bashar al Assad. Moscou, obviamente, não está preocupado com desrespeito aos direitos humanos e massacres como o de Houla. Vladimir Putin também considera um erro os russos não terem bloqueado a intervenção na Líbia, que nem era tão importante para eles. Na Síria, a Rússia aina desfruta de uma série de regalias nas relações com Assad, incluindo o uso do porto de Tartus, sua única base no Mediterrâneo, e a venda de armas. Sem falar no laço cultural com os cristãos ortodoxos, que apoiam Assad em sua maioria.

Sem a Rússia cooperando com o Ocidente, podem descartar qualquer possibilidade de Assad deixar o poder por conta própria. A guerra civil prosseguirá por meses ou anos. As novidades tendem a vir do Líbano, onde o conflito está pronto para explodir. As principais lideranças sectárias não saem mais de casa, estão escondidas ou foram para o exterior - uma delas, tenham certeza, morrerá em breve em atentado.

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E o apoio a Assad depois do massacre? Está mais forte, por incrível que pareça, entre quem o defendia. O líder sírio sempre foi acusado por membros do regime de ser um banana perto do "velho Hafez". É como na Argentina na Guerra Suja, onde crianças eram tiradas de seus pais. Não tem diferença. Em Buenos Aires, havia o temor de virar Havana. Em Damasco, os simpatizantes do regime (não toda a população), o que inclui cristãos, alauítas e as elites sunitas, olham com muito mais temor os acontecimentos no Egito, onde a Irmandade e os salafistas ganham força, do que em Houla.

Eles preferem o terror do Estado sanguinário de Assad ao fim de suas liberdades, como beber álcool, não cobrir a cabeça, ser gay, namorar à vontade e ir à igreja que poderia vir se, como diz a propaganda do regime, a oposição chegasse ao poder. Claro, eles não vêem a possibilidade de uma transição para a democracia, como a Tunísia. E acabarão como o Líbano dos anos 1980 e o Iraque de anos atrás. Uma tristeza, mas Assad matou a Síria e os opositores podem ajudar a enterrar.

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O jornalista Gustavo Chacra, correspondente do jornal "O Estado de S. Paulo" e do portal estadão.com.br em Nova York e nas Nações Unidas desde 2009, é mestre em Relações Internacionais pela Universidade Columbia. Já fez reportagens do Líbano, Israel, Síria, Cisjordânia, Faixa de Gaza, Jordânia, Egito, Turquia, Omã, Emirados Árabes, Iêmen e Chipre quando era correspondente do jornal no Oriente Médio. Participou da cobertura da Guerra de Gaza, Crise em Honduras, Crise Econômica nos EUA e na Argentina, Guerra no Líbano, Terremoto no Haiti e crescimento da Al-Qaeda no Iêmen. No passado, trabalhou como correspondente da Folha em Buenos Aires. Este blog foi vencedor do Prêmio Estado de Jornalismo, empatado com o blogueiro Ariel Palacios

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