Com um novo presidente (Enrique Peña Nieto tomou posse ontem), a economia mexicana deve superar a brasileira em crescimento pelo segundo ano seguido. O país, embora ainda associado ao narcotráfico, conseguiu se transformar em um destino atraente para investidores e indústrias estrangeiras. Até 2018, os mexicanos devem se transformar nos maiores exportadores para os EUA, superando China e Canadá, com 16% do total.
Essa "mania" de México, nos últimos meses, foi alvo de reportagens positivas em publicações internacionais, como a revista The Economist e o New York Times, exatamente como o Brasil nos anos anteriores. Em todas, há uma comparação buscando mostrar que os mexicanos, aos poucos, superam os brasileiros. Análises de bancos também têm sido positivas para os vizinhos dos EUA. A comparação entre os dois países foi debatida na Universidade Columbia e no dia 12 será tema de conferência na Câmara do Comércio Brasil-EUA. Até mesmo no futebol os mexicanos nos derrotaram e agora eles têm um piloto de F1 na antiga equipe de Ayrton Senna.
"A sensação de fascínio com o Brasil, especialmente no primeiro semestre de 2011, depois de termos crescido mais de 7% no ano anterior, aos poucos vai se dissipando", me disse Marcos Troyjo, diretor do BRICLab, da Universidade Columbia, em Nova York. "As pessoas exageraram na história brasileira de sucesso. As expectativas foram muito elevadas", acrescenta Eric Farnsworth, do Council of the Americas.
"Os investidores diziam tempos atrás que o Brasil era moda. Agora, o México é a moda. Mas, mesmo assim, até mesmo no México, as pessoas entendem bem as diferenças entre os dois países e não fazem uma comparação direta entre ambos. Afinal, não são economias que se sobrepõem. O Brasil, por exemplo, tem uma economia dependente da exportação de commodities para a China. Já o México, compete com os chineses na área industrial", afirma Carlos Saenz, analista de América Latina em Nova York do Banco Mizuho, do Japão, que viaja sempre para São Paulo e México.
Pontos fortes. O fortalecimento do México, segundo Troyjo, da Columbia, deve-se a três principais fatores. Primeiro, "empresas mexicanas adquiriram ativos nos EUA", aproveitando-se da junção de oligopólios com o Estado. "Esse processo recebeu até o apelido de La Reconquista."
Em segundo lugar, "o México tem 12 acordos comerciais com 44 países, incluindo os EUA". Por último, "com os custos de produção crescendo na China, o México acaba sendo beneficiado por seu setor industrial".
O Brasil, para Saenz, do Mihuko Bank, sofre com uma "imagem protecionista no mercado, enquanto o México está integrado à cadeia produtiva mundial". De acordo com Troyjo, do BRICLab, "o Brasil tem uma política industrial de substituição de importação 2.0". Já o México, como lembra Farnsworth, "busca a inovação nas suas indústrias".
Na avaliação deles, depois de uma empolgação inicial, o mercado começou a observar mais detalhadamente o Brasil e percebeu os problemas. A necessidade de reformas microeconômicas é vista como fundamental. "O Brasil recebeu o investment grade. Agora precisa do business grade", afirma Troyjo.
Farnsworth ressalta, porém, que o México em alguns pontos ainda está atrasado, necessitando de reformas na área de energia, por exemplo, já feitas pelo Brasil.
Gabrielle Oliveira, que faz doutorado sobre o México na Universidade Columbia e viaja constantemente para áreas pobres do país, notou duas mudanças nos últimos meses. "Primeiro, as mulheres que não tinham nenhuma fonte de renda foram beneficiadas pelo programa Oportunidades (equivalente ao Bolsa Família), que começou a chegar em vilas bem pobres. Por outro lado, também há uma presença maior do narcotráfico nessas áreas, que acaba gerando um desenvolvimento paralelo."
Todos os analistas que ouvi ressaltam que esses modismos devem ser vistos com cautela porque a moda passa rapidamente. O Brasil mesmo deve voltar a receber os holofotes com a Copa do Mundo e a Olimpíada. "Haverá uma lente de aumento que observará os pontos bons e ruins do País", afirma Troyjo.