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De Beirute a Nova York

Como Le Pen pode ser eleita matematicamente por meio da abstenção?

As pesquisas indicam que Macron venceria Le Pen no segundo turno por 20 pontos percentuais de diferença (60% a 40%). Os levantamentos, no entanto, pelo que entendi e me corrijam se estiver errado, não levariam em conta a abstenção. Portanto como Le Pen pode reverter esta diferença por meio de um menor comparecimento de eleitores de Macron às urnas?

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Por gustavochacra
Atualização:

Primeiro, suponha que 90% dos eleitores de Le Pen compareçam. Neste caso, ela teria 36% dos votos (90% de 40%). Deixa eu explicar melhor. Os 40% seriam o universo de pessoas que disseram ter interesse em votar nela. Mas nem todas necessariamente irão à urna no dia da eleição. Caso 9 em cada 10 eleitores de Le Pen votem, ela teria 36% do universo total.

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Para ser vencedora, ela precisa que estes 36% do universo total (número total de eleitores franceses) seja igual ao maior do que 50% das pessoas que votaram. Logo, ela precisaria que os 60% das intenções de voto de Macron no universo total sejam equivalentes de no µáximo 36% dos eleitores que realmente votaram. Logo, seria Y x 60% = 36. Y (taxa de comparecimento de eleitores que dizem ter intenção de votar em Macron) seria igual a 60%. Isto é, apenas 6 em cada 10 eleitores que dizem pretender votar em Macron poderiam comparecer às urnas para Le Pen ter chance neste cenário. Neste caso, Le Pen e Macron estariam empatados em 50% a 50% dos votos validos.

Resumindo, Le Pen precisaria que 9 em cada 10 de seus eleitores comparecessem e, ao mesmo tempo, que no máximo 6 em cada 10 de Macron votassem. Claro que o cenário pode ser diferente caso as pesquisas estejam erradas e, na verdade, sendo otimista em relação a Le Pen, Macron tenha 55% das intenções de voto e ela, 45%.

Neste caso, com um comparecimento de 90% dos eleitores de Le Pen, a candidata da Frente Nacional teria 40,5% dos votos do universo total. Para Le Pen vencer, 40,5% precisam ser iguais a 50% do total de quem votou. Portanto a equação de Macron para Len Pen ser eleita seria de Y x 60 = 40,5%. Logo, Y=67,5. Neste caso, no máximo 67,5% (pouco mais de dois terços) dos eleitores de Macron poderiam comparecer para Le Pen ter chance de ser eleita.

Que fique claro, os números de 90% de comparecimento da candidata da Frente Nacional são aleatórios e nada garante que este será o comparecimento a favor dela. Jogo com a visão mais otimista para mostrar como matematicamente existe uma possibilidade via taxa de abstenção de ela vencer mesmo estando 20 pontos percentuais atrás. E também suponho que os franceses não façam pesquisas com os "likely voters" como nos EUA (me corrijam se eu estiver errado).

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E, por favor, este texto NÃO É UMA PREVISÃO. Trata-se de um exercício matemático. Além disso, vale lembrar que as pesquisas nos EUA não erraram o resultado das eleições. A previsão, na média, era de que Hillary venceria no voto popular por 3% (venceu por pouco mais de 2%, dentro da margem de erro). Nos Estados, as pesquisas de grandes institutos acertaram em todos swing states (por exemplo, cravavam Ohio para Trump e colocavam a Florida como indefinida). O erro foi não ter havido levantamentos dos grandes institutos em Michigan e Wisconsin.

Guga Chacra, blogueiro de política internacional do Estadão e comentarista do programa Globo News Em Pauta em Nova York, é mestre em Relações Internacionais pela Universidade Columbia. Já foi correspondente do jornal O Estado de S. Paulo no Oriente Médio e em NY. No passado, trabalhou como correspondente da Folha em Buenos Aires

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