O Hezbollah, portanto, é inimigo tanto de Israel como da Al Qaeda e do ISIS. Isso não significa que os israelenses sejam aliados da do ISIS e da Al Qaeda. Não são. Significa apenas que um grupo ou um país pode ter inimigos completamente distintos em conflitos paralelos.
Na Guerra da Síria, o Hezbollah luta ao lado das forças de Bashar al Assad para defender seus interesses.
No Líbano, o Hezbollah é aliado do maior grupo político cristão, conhecido como Frente Patriótica Livre, liderado pelo popular líder cristão Michel Aoun, e também de outros, como a Marada. Esta aliança se encaixa dentro de um contexto de política doméstica libanesa, onde um grupo sectário depende do outro em eleições. Ambos têm interesses em comum em determinados assuntos, mas divergem em outros. O Hezbollah também entende a importância da identidade cristã libanesa.
Os principais rivais do Hezbollah no Líbano são os sunitas e alguns grupos cristãos da coalizão 14 de Março. Estas facções são extremamente críticas do grupo xiita. Não há problema algum em criticar o Hezbollah no Líbano, um país democrático. Basta ler alguns jornais libaneses (muitos disponíveis em inglês e francês) para ver os ataques diários entre os dois lados.
Esta inimizade, porém, não significa que a 14 de Março, mesmo sendo anti-Hezbollah, seja pró-Israel. Eles também consideram os israelenses inimigos. Na Guerra de 2006, todo o Líbano, incluindo áreas cristãs e sunitas, foram bombardeadas por Israel, não apenas as regiões controladas pelo grupo xiita, apesar de estas terem sido as mais atingidas.
Guga Chacra, comentarista de política internacional do Estadão e do programa Globo News Em Pauta em Nova York, é mestre em Relações Internacionais pela Universidade Columbia. Já foi correspondente do jornal O Estado de S. Paulo no Oriente Médio e em NY. No passado, trabalhou como correspondente da Folha em Buenos Aires