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De Beirute a Nova York

Controlando toda a Síria, Assad engana e ganha tempo ao aceitar plano de Annan

O regime de Bashar al Assad disse que aceita cooperar com o plano de Annan para a resolução da crise síria. Isso não significa que o líder sírio irá cooperar. Na verdade, apenas usa táticas tradicionais de teoria dos jogos. No fim, assim como aconteceu com o plano da Liga Árabe, culpará a oposição pelo fracasso. A Rússia concordará e voltaremos para a estaca zero.

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Por gustavochacra
Atualização:

Pense com a cabeça de Assad, que não é a de um líder democrático, mas de um regime ditatorial baseado em cinco pilares - Partido Baath, que ao contrário do que dizem não é alauíta, mas laico nos moldes peronistas ou varguistas; nas minorias cristãs e alauítas; nas forças especiais do Exército, que são basicamente cristãs e alauítas; nas elites de Aleppo e Damasco, que são sunitas; e nas alianças externas com o Irã, Iraque, Rússia, Argélia, Venezuela, Líbano e algumas outras nações sem relevância.

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Nenhum destes pilares corre risco no médio prazo. E, no longo, a maior possibilidade de ruptura seria com a Rússia e as elites de Damasco e Aleppo. Estes dois grupos, porém, estão dando tempo para Assad resolver a questão - leia-se acabar com a oposição. Aparentemente, o líder sírio teve sucesso por enquanto. Ele controla virtualmente todo o território sírio.

Em um ano de levantes, a maior gloria da oposição foi controlar o bairro de Bab Amr, em Homs. Depois de massacres e o que talvez sejam crimes contra a humanidade, segundo a ONU, as forças de Assad retomaram o controle da área. A ponto de o líder sírio visitar a cidade sem colete a prova de bolas

Apesar disso, acho que a comunidade internacional, com o Plano Annan, faz o correto se levar em conta as opcoes disponiveis. A expectativa é de que as sanções econômicas enfraqueçam Assad e seja encontrada uma solução como a do Yemen. Mas, óbvio, lá a guerra civil continua e o sul ameaça ficar independente mais uma vez.

A Síria seguirá por meses ou mesmo anos em uma guerra civil de baixa intensidade como agora independentemente de Assad permanecer ou não no poder no longo prazo.

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O jornalista Gustavo Chacra, correspondente do jornal "O Estado de S. Paulo" e do portal estadão.com.br em Nova York e nas Nações Unidas desde 2009, é mestre em Relações Internacionais pela Universidade Columbia. Já fez reportagens do Líbano, Israel, Síria, Cisjordânia, Faixa de Gaza, Jordânia, Egito, Turquia, Omã, Emirados Árabes, Iêmen e Chipre quando era correspondente do jornal no Oriente Médio. Participou da cobertura da Guerra de Gaza, Crise em Honduras, Crise Econômica nos EUA e na Argentina, Guerra no Líbano, Terremoto no Haiti e crescimento da Al-Qaeda no Iêmen. No passado, trabalhou como correspondente da Folha em Buenos Aires. Este blog foi vencedor do Prêmio Estado de Jornalismo, empatado com o blogueiro Ariel Palacios

 

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