Foto do(a) blog

De Beirute a Nova York

Curdos, e não Assad, são o problema da Turquia na Síria

Bashar al Assad considerava o premiê da Turquia, Recep Tayyp Erdogan, o seu principal aliado até o início de 2011. Nas ruas de Damasco, em 2010, havia dezenas, isso mesmo, dezenas de gigantescos cartazes do líder turco e praticamente nenhum do iraniano Mahmoud Ahmadinejad. Hoje os dois são inimigos e podem entrar em guerra.

PUBLICIDADE

Por gustavochacra
Atualização:

Por trás deste conflito, não está a "liberdade" do povo sírio, como talvez alguns queiram dizer. Na verdade, a preocupação da Turquia é com os curdos na Síria. Nos últimos meses, Assad praticamente liberou para eles terem uma autonomia, depois de décdas de repressão. O objetivo era justamente irritar os turcos pelo apoio dado aos rebeldes.

PUBLICIDADE

A estratégia funcionou. De um lado, os curdos incrementaram os contatos com o Curdistão iraquiano. De outro, o PKK (grupo separatista curdo), considerado inimigo mortal da Turquia, começou a operar na região. Os curdos, maior nação sem Estado do mundo, não querem perder esta chance de lutar para ter um país ou, pelo menos, mais direitos e autonomia, como no Iraque.

Erdogan, claro, ficou irritado. Ele não está nem um pouco preocupado com os sírios, rebeldes ou seja o lá o que for. Quer mesmo bater forte nos curdos da Síria para acabar com o oásis que eles possuem no território sírio, de onde podem lançar operações contra a Turquia. Afinal, o premiê turco quer mesmo uma Turquia presidencialista com ele próprio no cargo de presidente.

O episódio de hoje, e sabe-se lá quem é o responsável (não dá para cravar que seja o regime de Assad e se foi de propósito), deu a desculpa para os turcos entrarem e arrasarem os curdos que estão longe de desfrutar do apoio e da simpatia internacional de outros povos sem Estado, como os palestinos e os tibetanos. Mas, por enquanto, será apenas mais um ultimato, como o ocorrido depois de um avião ser abatido pela defesa anti-aérea síria em junho.

Leiam ainda o blog Radar Global. Acompanhem também a página do Inter do Estadão no Facebook

Publicidade

Comentários islamofóbicos, anti-semitas e anti-árabes ou que coloquem um povo ou uma religião como superiores não serão publicados. Tampouco ataques entre leitores ou contra o blogueiro. Pessoas que insistirem em ataques pessoais não terão mais seus comentários publicados. Não é permitido postar vídeo. Todos os posts devem ter relação com algum dos temas acima. O blog está aberto a discussões educadas e com pontos de vista diferentes. Os comentários dos leitores não refletem a opinião do jornalista

O jornalista Gustavo Chacra, correspondente do jornal "O Estado de S. Paulo" e do portal estadão.com.br em Nova York e nas Nações Unidas desde 2009, é mestre em Relações Internacionais pela Universidade Columbia. Já fez reportagens do Líbano, Israel, Síria, Cisjordânia, Faixa de Gaza, Jordânia, Egito, Turquia, Omã, Emirados Árabes, Iêmen e Chipre quando era correspondente do jornal no Oriente Médio. Participou da cobertura da Guerra de Gaza, Crise em Honduras, Crise Econômica nos EUA e na Argentina, Guerra no Líbano, Terremoto no Haiti e crescimento da Al-Qaeda no Iêmen. Também é comentarista do programa Em Pauta, na Globo News. No passado, trabalhou como correspondente da Folha em Buenos Aires. Este blog foi vencedor do Prêmio Estado de Jornalismo, empatado com o blogueiro Ariel Palacios

no twitter @gugachacra

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.