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De Beirute a Nova York

De 1947 a 2011 - O Brasil na criação de Israel e da Palestina

no twitter @gugachacra

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Por gustavochacra
Atualização:

Assim como nesta semana em Nova York, a questão da Palestina também dividiu as Nações Unidas 64 anos atrás, quando muitas das lideranças no poder atualmente eram crianças ou sequer haviam nascido. Foram 33 votos a favor, 13 contra e dez abstenções na votação da Partilha, que culminou na criação do Estado de Israel.

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Entre os que não apoiaram a divisão, além dos países árabes, estavam nações como a Grã Bretanha, Grécia, Turquia, Argentina, China, México, Colômbia, Chile e Cuba. Mas Estados Unidos e União Soviética, que eram as duas grandes potências da época, defendiam a partilha da Palestina histórica em um Estado judaico e outro árabe.

Como Moscou e Washington, o Brasil também se posicionou a favor da divisão. E um dos grandes responsáveis pela aprovação da partilha que culminou na criação do Estado de Israel foi o embaixador brasileiro Osvaldo Aranha, que presidiu a sessão histórica da Assembleia Geral da ONU. Sem os esforços do diplomata brasileiro nos dias que antecederam o voto, talvez os judeus não tivessem conseguido o reconhecimento do Estado judaico na comunidade internacional.

Devido a pressões dos americanos e soviéticos, Aranha, segundo reportagem do New York Times de 30 de novembro de 1947, pediu para que a ONU "não aceitasse adiar a votação e aprovasse de imediato a partilha, não levando em conta esforços dos países árabes para um acordo".

Uma das propostas, segundo Thomas Hamilton, que escreveu o artigo para o New York Times, era retornar a questão para o Comissão Ad Hoc sobre a Palestina, levando em conta as sugestões árabes. Estes países eram contra a divisão do território em dois países, argumentando que os árabes eram maioria mesmo no Estado judaico.

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Os argumentos apresentados não convenceram Aranha, que tinha crença na solução de dois Estados. Camille Chamoun, embaixador do Líbano junto às Nações Unidas e que viria a ser presidente libanês, tentou se reunir com o diplomata brasileiro para pelo menos adiar a votação, mas foi ignorado. No fim, o embaixador do Brasil entrou para a história e hoje dá nome a um kibutz e a uma praça em Israel.

Apesar deste papel na votação da partilha, o Brasil não reconheceu imediatamente o Estado de Israel quando este proclamou a independência em maio do ano seguinte. O reconhecimento aconteceu apenas em fevereiro de 1949, com reclamações do Egito. Em resposta ao Cairo, o Ministério das Relações Exeteriores brasileiro afirmou ter tomado a decisão "depois de muitos países e não seria correto não reconhecer Israel".

Os árabes talvez tivessem mais sorte se outra nação da América Latina estivesse na presidência da Assembleia Geral. O Chile, com uma das maiores comunidades palestinas da diáspora, alterou a sua posição depois de pressões internas. O PRI mexicano, assim como Juan Domingo Perón, na Argentina, mantinha boas relações com o mundo árabe. Cuba vivia um hiato dentro da ditadura de Fulgencio Baptista, sendo governado pelo populista Ramon Grau San Martin.

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O jornalista Gustavo Chacra, correspondente de "O Estado de S. Paulo" em Nova York e nas Nações Unidas desde 2009, é mestre em Relações Internacionais pela Universidade Columbia. Já fez reportagens do Líbano, Israel, Síria, Cisjordânia, Faixa de Gaza, Jordânia, Egito, Turquia, Omã, Emirados Árabes, Yemen e Chipre quando era correspondente do jornal no Oriente Médio. Participou da cobertura da Guerra de Gaza, Crise em Honduras, Crise Econômica nos EUA e na Argentina, Guerra no Líbano, Terremoto no Haiti e crescimento da Al Qaeda no Yemen. No passado, trabalhou como correspondente da Folha em Buenos Aires. Este blog foi vencedor do Prêmio Estado de Jornalismo, empatado com o blogueiro Ariel Palacios

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