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De Beirute a Nova York

De 2001 a 2010 - O 11 de Setembro mais tenso depois dos atentados terroristas

Faz nove anos que aconteceu o 11 de Setembro. Aqui em Nova York está um dia de sol como a terça-feira dos maiores atentados terroristas da história. Mas o mundo mudou muito depois dos ataques. Além das duas guerras, no Iraque e no Afeganistão, começamos usar expressões como jihadistas, Al Qaeda, Taleban, radicalismo islâmico, e a conhecer cidades como Basra, Cabul, Kandahar, Najaf.

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Por gustavochacra
Atualização:

Em 2001, Barack Obama era tão desconhecido que não havia sido citado por nenhuma publicação brasileira. Hillary ainda era apenas a mulher de Bill Clinton. Yasser Arafat liderava os palestinos. A Intifada se intensificava. Saddam Hussein vivia ignorado e enfraquecido no Iraque, sendo lembrado apenas em episódios de South Park. Um moderado, para os padrões do regime de Teerã, governava o Irã. A Síria ainda ocupava o Líbano. Fernando Henrique Cardoso estava na Presidência do Brasil. Obviamente, na Venezuela, já era Hugo Chávez. O papa se chamava João Paulo II. Em 2001, 11 de Setembro marcava apenas a data do golpe militar no Chile.

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Quem nasceu no 11 de Setembro de 2001 já sabe hoje ler, escrever, a tabuada e algumas das capitais do mundo. Os vestibulandos da FUVEST neste ano tinham apenas 9 anos na época do atentado. Não existia Orkut, nem Facebook. O YouTube ainda demoraria uns quatro anos para se tornar popular. Pessoas realizavam buscas no Altavista e no Yahoo. O Hotmail superava em popularidade o Gmail, inexistente mesmo nos EUA. O Skype não havia revolucionado a comunicação. O Twitter era algo não imaginado. O iPhone e o iPad talvez estivessem nos sonhos do Steve Jobs, mas não das pessoas comuns.

Nove anos depois, o Bin Laden ainda está vivo e solto. O Saddam Hussein, que nada teve a ver com os atentados, morto. Khalid Sheikh Mohammed, verdadeiro mentor do 11 de Setembro, está preso em Guantánamo.

Este será meu sexto 11 de Setembro em Nova York. Certamente, o mais tenso de todos. Até o ano passado, a data era marcada com discrição em Nova York. A cerimônia se restringia apenas à leitura dos nomes das vítimas no Ground Zero. Neste ano, estão previstos confrontos e protestos dos EUA ao Afeganistão.

A polícia de Nova York, preocupada com possíveis atos hostis na cidade, reforçará a segurança neste ano ao redor do Ground Zero. Haverá protestos contra e a favor a construção de um centro islâmico a duas quadras de onde estavam as torres do World Trade Center. Os policiais também temem ações contra outras mesquitas na cidade onde muçulmanos celebrarão o fim do Ramadã.

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Nos últimos dias, o crescimento da islamofobia em Nova York foi marcado pelo esfaqueamento de um taxista. Outras ações contra muçulmanos e suas propriedades foram registrados no país. Ao mesmo tempo, houve um envolvimento maior de muçulmanos americanos em ações violentas no país e no exterior. Um soldado de origem muçulmana matou 14 militares em uma base do Exército do Texas em novembro, um iemenita de origem americana se transformou no mais perigoso líder da Al Qaeda no exterior e um outro muçulmano tentou explodir um furgão no meio do Times Square em maio.

Segundo pesquisa do instituto Abt SRBI, 25% dos americanos não consideram os muçulmanos dos EUA patrióticos. Para 28%, muçulmanos deveriam ser proibidos de concorrer à Presidência e 32% dizem que eles não devem integrar a Suprema Corte. Outros 43% afirmam ter uma imagem desfavorável do islamismo. Usando estes números como base, a revista Time questionou em reportagem de capa se os americanos são islamofóbicos.

Uma coalizão de líderes cristãos, judeus e muçulmanos publicaram um comunicado alertando para os riscos da islamofobia. "Preocupados com o crescimento na discriminação contra os muçulmanos tentando construir seus templos de oração ao redor dos EUA, formamos uma coalizão para ajudar as comunidades muçulmanas a confrontarem esta oposição", afirma.

Por outro lado, grande parte da população da cidade continua ignorando o 11 de Setembro. Para alguns, hoje é dia de semifinal masculina e final feminina no US Open. Outros estão preocupados com a Fashion Week. Alguns ansiosos para as partidas de futebol americano. Os seguidores de baseball já entram no fim da temporada. Os calouros das universidades começam a se enturmar. Os que odeiam o verão passam a celebrar. Os que adoram, aproveitam seus últimos dias, mas com a temperatura já se distanciando dos 30 graus. Nova York, no 11 de Setembro, é bem mais do que o Ground Zero e estas discussões intermináveis que temos aqui no blog.

Quem quiser aproveitar bem o 11 de Setembro em São Paulo, falar de tênis, moda e um pouco de Oriente Médio pode ir ao encontro dos leitores hoje. Eu, desta vez, não poderei ir porque moro fora. Mas vale a pena. A organização é do Fabio Nog.

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Local do Encontro dos Leitores

Dia: 11 de setembro, sábado

Horário: a partir das 14 hs

Local: Empório Alto dos Pinheiros (www.altodospinheiros.com.br), fone 3031-4328

Comentários islamofóbicos, anti-semitas e anti-árabes ou que coloquem um povo ou uma religião como superiores não serão publicados. Tampouco ataques entre leitores ou contra o blogueiro. Pessoas que insistirem em ataques pessoais não terão mais seus comentários publicados. Não é permitido postar vídeo. Todos os posts devem ter relação com algum dos temas acima. O blog está aberto a discussões educadas e com pontos de vista diferentes

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O jornalista Gustavo Chacra, mestre em Relações Internacionais pela Universidade Columbia, é correspondente de "O Estado de S. Paulo" em Nova York. Já fez reportagens do Líbano, Israel, Síria, Cisjordânia, Faixa de Gaza, Jordânia, Egito, Turquia, Omã, Emirados Árabes, Yemen e Chipre quando era correspondente do jornal no Oriente Médio. Participou da cobertura da Guerra de Gaza, Crise em Honduras, Crise Econômica nos EUA e na Argentina, Guerra no Líbano, Terremoto no Haiti e crescimento da Al Qaeda no Yemen. No passado, trabalhou como correspondente da Folha em Buenos Aires. Este blog foi vencedor do Prêmio Estado de Jornalismo em 2009, empatado com o blogueiro Ariel Palacios

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