gustavochacra
23 de agosto de 2010 | 08h50
As cidades mais cosmopolitas do mundo árabe eram as que possuíam judeus. De Alexandria a Aleppo, de Beirute a Bagdá, a comunidade judaica estava presente com suas sinagogas, suas lojas, seus médicos e sua cultura. Eram árabes, de religião judaica. Assim como até hoje temos os árabes cristãos, os árabes sunitas, os árabes xiitas e os árabes druzos.
Em Beirute, tentei encontrar judeus para uma reportagem. Fracassei. Sei que existem algumas dezenas, que não formam uma comunidade. Eles não se reúnem e tampouco possuem um rabino. O fim dos judeus no Líbano ocorreu nos anos 1980, apesar de ter começado cerca de 20 anos antes, com a chegada da OLP. Na Síria, eles duraram mais, até os anos 1990, sendo tratados como cidadãos de segunda classe. Também tentei achá-los na cidade velha de Damasco. Mais uma vez, não tive sucesso, apesar de alguns poucos ainda viverem na capital síria.
Foto da entrada da sinagoga de Beirute, que começou a ser reconstruída. Na guerra do Líbano, nos anos 1980, foi atingida acidentalmente em ataque de Israel
Os judeus de Alexandria e do Cairo se foram na época de Nasser. Os judeus iraquianos, que formavam a elite de Bagdá, também partiram depois da formação do Estado de Israel. A comunidade judacia do Yemen ainda sobrevive. Mas os últimos que restaram irão embora nas próximas semanas.
Em algumas décadas, talvez não exista mais o judeu árabe. Eles serão extintos. Alguns se tornarão parte do caldeirão cultural israelense. Outros vivem no Brasil, na Argentina, nos Estados Unidos. Com o passar das gerações, a identidade árabe deles se esvaziará.
Essa é uma das histórias mais tristes do Oriente Médio. A história dos judeus árabes que não existem mais.
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O jornalista Gustavo Chacra, mestre em Relações Internacionais pela Universidade Columbia, é correspondente de “O Estado de S. Paulo” em Nova York. Já fez reportagens do Líbano, Israel, Síria, Cisjordânia, Faixa de Gaza, Jordânia, Egito, Turquia, Omã, Emirados Árabes, Yemen e Chipre quando era correspondente do jornal no Oriente Médio. Participou da cobertura da Guerra de Gaza, Crise em Honduras, Crise Econômica nos EUA e na Argentina, Guerra no Líbano, Terremoto no Haiti e crescimento da Al Qaeda no Yemen. No passado, trabalhou como correspondente da Folha em Buenos Aires. Este blog foi vencedor do Prêmio Estado de Jornalismo em 2009, empatado com o blogueiro Ariel Palacios
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