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De Beirute a Nova York

De Ancara a Teerã - Turquia e Irã parecem aliados, mas são rivais (bom para Israel)

A Turquia votou contra a resolução com sanções ao Irã no Conselho de Segurança das Nações Unidas. A Turquia também tem adotado uma postura contrária a Israel em diferentes episódios neste ano, como o Irã. O comércio entre turcos e iranianos tampouco para de crescer. Olhando assim, até parece que a Turquia se tornou o melhor amigo do regime de Teerã. O que ninguém percebe é que os turcos são na verdade rivais dos iranianos. E isso é uma boa notícia.

Por gustavochacra
Atualização:

Até a Guerra de Gaza, dizia-se haver uma "guerra fria" no Oriente Médio. De um lado estavam ditaduras e monarquias absolutistas ligadas aos EUA, como o Egito, Arábia Saudita e Jordânia. Do outro, o regime ditatorial religioso do Irã, com o apoio da secular Síria e dos grupos libanês Hezbollah e palestino Hamas. Esta disputa ainda existe, mas se reduziu porque o Irã vem sendo derrotado, ainda que sem armas. A Síria se aproximou dos sauditas e dos sunitas pró-Ocidente de Saad Hariri no Líbano, deixando de lado o Hezbollah e o Irã (vou me aprofundar no tema outro dia).

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E a Turquia surgiu. Em vez de um questionador do Holocausto que desrespeita os direitos humanos em seu país, a defesa de Gaza passou a ser feita pela Turquia, uma democracia com economia emergente. Os aliados dos EUA no Oriente Médio deixaram de ter apenas a imagem do caos do Cairo e da repressão das mulheres em Riad, para passarem a ser vistos como a sofisticação e ocidentalidade de Istambul.

Os turcos também lançaram negociações comerciais com a Síria, Líbano e Jordânia. Os sírios voltaram a visitar Turquia, incluindo o ocupado território de Antioquia (também terá post). Os turcos estão enchendo Beirute e Damasco neste verão. E o Irã perde importância para libaneses, sírios e palestinos. Como notou o site Now Lebanon, a foto do ano passado era a de Bashar al Assad com Ahmadinejad e o xeque Hassan Nasrallah, líder do Hezbollah. Agora é do mesmo Assad (que entende para onde sopram os ventos), com o premiê Erdoganm da Turquia, e Hariri, que anos atrás acusava Assad de ter matado seu pai (também haverá post sobre isso).

Para Israel, não há nada melhor. Uma frase de Assad diz tudo - "Israelenses e turcos não podem brigar". Segundo o líder sírio, a Turquia é importante mediadora na região e seu racha com o Israel prejudica negociações - os dois devem se reaproximar. Do outro lado, os israelenses têm pela primeira vez no comando da defesa dos palestinos uma democracia amiga dos EUA, integrantes da OTAN. Bem melhor do que os radicais do regime iraniano e, claro, dos absolutistas e ditadores de alguns países árabes. Fica mais fácil negociar, desde que o Abbas queira e o Shimon Peres não sabote seu primeiro-ministro (está no Haaretz).

Comentários islamofóbicos, anti-semitas e anti-árabes ou que coloquem um povo ou uma religião como superiores não serão publicados. Tampouco ataques entre leitores ou contra o blogueiro. Pessoas que insistirem em ataques pessoais não terão mais seus comentários publicados. Não é permitido postar vídeo. Todos os posts devem ter relação com algum dos temas acima. O blog está aberto a discussões educadas e com pontos de vista diferentes

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O jornalista Gustavo Chacra, mestre em Relações Internacionais pela Universidade Columbia, é correspondente de "O Estado de S. Paulo" em Nova York. Já fez reportagens do Líbano, Israel, Síria, Cisjordânia, Faixa de Gaza, Jordânia, Egito, Turquia, Omã, Emirados Árabes, Yemen e Chipre quando era correspondente do jornal no Oriente Médio. Participou da cobertura da Guerra de Gaza, Crise em Honduras, Crise Econômica nos EUA e na Argentina, Guerra no Líbano, Terremoto no Haiti e crescimento da Al Qaeda no Yemen. No passado, trabalhou como correspondente da Folha em Buenos Aires. Este blog foi vencedor do Prêmio Estado de Jornalismo em 2009, empatado com o blogueiro Ariel Palacios

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